“Apareceu uma mensagem automática, que serviu para confirmarmos que se tratava de um ataque hacker. Não havia pedido de valor algum, apenas dizia para entrar em contato com determinado endereço”, disse. Em casos assim, atuam os chamados “ramsomwares”, softwares maliciosos que infectam e bloqueiam sistemas. A condição para liberação é o pagamento de resgate (ramsom, em inglês) em criptomoedas. Especialistas recomendam não ceder a esse tipo de chantagem, para não estimular a prática. A previsão é que parte dos serviços seja retomada nesta quarta-feira, 21.
“Muitos dos serviços ainda não têm previsão (de volta), mas a direção pediu que se fosse dada prioridade para serviços ao público, aos pesquisadores que tiveram seus trabalhos paralisados”, disse Gonzaga. Assim, espera-se que a hemeroteca – portal que possibilita a pesquisa online de periódicos nacionais – volte a funcionar. “Mas ainda não podemos dar certeza. Tentamos restabelecer os serviços ainda na terça-feira passada, e o sistema voltou a correr risco. Precisamos estar seguros”, disse o porta-voz. A BN tentou voltar dia 13, mas vírus retornou.
A invasão foi identificada na manhã do dia 12. Logo, a equipe de tecnologia da informação da BN passou a atuar para restabelecer os serviços. No terça, 13, os sistemas voltaram a funcionar. Mas, logo que foram acionados, o vírus voltou. Por precaução, todos os servidores foram desativados.
Digitalmente, a BN está às escuras. “Como esse vírus afetou o sistema, corria o risco de se espalhar para sistemas de documentação e arquivamento, que eram nossa preocupação maior. Por isso, tivemos essa decisão de suspender os serviços no sentido mais global”, explicou Marcelo Gonzaga.
A criação da BN remonta à chegada da Família Real ao Brasil, em 1808. A instituição é considerada uma das dez maiores do gênero no mundo e guarda todo o patrimônio bibliográfico e documental do País. Por causa disso, a biblioteca tem valor inestimável. É fonte fundamental para pesquisadores de diversas áreas e conhecimento. Há nove dias, porém, todos estão sem acesso a esse material.
Apesar do ataque e dos sistemas fora do ar, Gonzaga assegurou que todo o acervo está protegido. “Fizemos back-ups periódicos”, explicou. Tão logo o ataque hacker foi identificado, a Biblioteca Nacional acionou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. “O protocolo é esse, porque sempre há o risco de atingir outros sistemas do governo. Acionamos o GSI e ficamos aguardando as instruções”, informou Gonzaga.
Desde o ano passado, ocorreram no Brasil pelo menos dois ataques hackers relevantes, que focaram no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Ministério da Saúde. No caso da corte, um suspeito foi preso em Portugal. Também foram registrados vazamentos massivos de CPFs. Esses dados viraram objeto de negociações criminosas na “deep web”, nível da internet fora do escopo dos buscadores tradicionais, usado para atividades ilegais.
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