Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla
As contradições do tempo presente são enormes, gritantes, clamam aos céus, todos os dias somos bombardeados por um grande número de notícias que embaralham nossas mentes e a nossa já fragilizada percepção do que é certo ou errado, velocidade parece ser uma das palavras mais ditas, usadas e massacradas nos dias atuais, tudo tem que ser feito para ontem, tudo deve estar pronto para anteontem, precisamos nos comunicar instantaneamente para não perdermos a oportunidade (aqui no sentido de vender, comprar e até mesmo nos enterrarmos em dívidas). Quem não tem esse ou aquele aparelho de celular, aquele tal computador ou aquele carro que faz maravilhas na propaganda, mas na vida real nos deixa na mão, é considerado um fracassado, um fora da curva; nosso mundo é tão veloz em certas frivolidades e uma lesma naqueles assuntos que nos são essenciais.
Aquilo que tem menos valor na escala de nossas prioridades, esses sim tem agenda e espaço nas discussões cotidianas, aquilo que não nos leva a lugar algum exceto à perdição, isso sim é tratado com pomposidade; alta retórica, oca, muda e sem objetividade, já aquilo que está desmantelando a sociedade, a natureza, a paz mundial, isso é tratado como algo corriqueiro e que sempre foi assim, nosso tempo é marcado por uma cegueira indescritível, uma falta de sensibilidade que aterroriza, polarizam-se ideias estapafúrdias que se disseminam feito praga sem conexão alguma com a realidade, fora de lugar e muito longe do contexto. Demos vazão a não pensar, demos corda em rejeitar toda e qualquer verdade; tem-se a impressão que aquilo que não nos serve para absolutamente nada veio sim para ficar, enquanto que aquilo que nos une e nos faz mais fortes, é posto para fora.
O ser humano na sua grande maioria das vezes é um ser bem guloso, sempre ávido por mais e mais, só lhe interessa somar, multiplicar, já o dividir e o diminuir não é o seu forte, pouco ou quase nunca damos importância à sobrecarga do Planeta Terra, na verdade um assunto novo, mas que nos diz respeito muito de perto, afeta nosso presente e lança luzes e sombras em relação ao nosso futuro. A palavra sobrecarga não necessita de muitas elucubrações mentais para a entendermos adequadamente, basta esclarecer que é algo em excesso, muito pesado para se carregar, um exemplo muito simplório: imaginemos um carro com capacidade para quatro pessoas e resolvemos colocar nele oito ou nove passageiros, assim é o nosso Planeta, apesar de belo, exuberante e majestoso ele também pode como de fato já acontece, enfraquecer, perder sua vitalidade, isto é, ele pode adoecer.
A sobrecarga do Planeta Terra está relacionada diretamente à ação incontrolada dos seres humanos, isso por outras palavras, dizemos que os seres humanos com todos os aparatos técnicos à sua disposição subjugam o Planeta em todas as suas dimensões ao seu bel prazer, o ser humano, aquele único que raciocina, sente-se o senhor, dono e legítimo possuidor, tem dentro de si a vontade férrea de vencer todos os obstáculos que a natureza lhe impõe, usa e abusa do seu pensamento destrutivo, não se sente parte dessa imensa casa, pouco lhe importa se os outros humanos ou extra-humanos terão o que comer, o que vestir, onde e como morar, o ser humano fazedor da sobrecarga da Terra é apenas e tão somente um ser egoísta, não só patriota do seu quintal, mas sente-se imbuído de uma “missão” que deve-se meter nos outros quintais e alterá-los como lhe der na telha.
Os sinais da sobrecarga do Planeta estão por todos os lugares, basta colocarmos nossos sentidos e inteligência em alerta máximo, isto é, observemos o clima e suas constantes mudanças, seja para mais ou para menos causando inúmeros estragos em todos os lugares; os tantos remédios racionais criados ao longo dos últimos três séculos, estes tem afetado sobremaneira a vida dos cidadãos, as pequenas pandemias virais que de tempos em tempos surgem devido a uma brutal intrusão em meios ambientes totalmente desconhecidos pelos humanos (SARS-CoV-2, uma das tantas), desmatamentos e incêndios florestais com magnitudes espantosas, belos rios antes tidos como insecáveis, hoje em muitos lugares são por nós passados a pé sem esforço algum. E as quantias absurdas de agrotóxicos e demais poluentes que infestam o ar, as águas, os alimentos?
Bioeticamente, a vasta sobrecarga do Planeta Terra requer pensamento e ação com urgência por parte de todos, pois aumentando num ritmo assustador, em pouco tempo não teremos mais como reagir diante das tantas erosões que são perpetradas pela insanidade megalomaníaca dos humanos, não podemos esquecer que a vida de todos os seres vivos no seu todo é finita, assim a vida do Planeta senão tomarmos consciência poderá cada vez mais encurtar em todos os sentidos. A humanidade parece viver em berços esplêndidos, um tanto quanto que adormecida, esperando algo que não vem, quando na verdade os humanos com todos os seus aparatos miraculosos deveriam estar sendo usados em profusão. Nesse ritmo nosso Planeta não será em breve suficiente para empanturrar seus habitantes, de pouco adiantará querermos ir para outros planetas se o objetivo será sempre o mesmo daqui, isto é, pilhar sugar, extrair, saquear, roubar, exterminar, matar e destruir.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, é Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR