Tudo aquilo que almejamos e que fazemos durante a nossa existência efêmera, tem consequências, não há escapatória, isso é tão certo quanto o nascer do sol todos os dias, ainda não aprendemos com essa verdade, a grande maioria de nós não sabe, ou tem horror a isso, ou seja, que as nossas escolhas na maioria das vezes levadas a cabo pelo impulso determinam em muito o nosso estilo de vida para todo o sempre. Hoje mais do que nunca precisamos fazer escolhas, muito está em jogo e pouco está sendo feito, perdemos a capacidade de nos perguntar sobre qual futuro queremos ter, o que vamos deixar para as gerações futuras, nossos descendentes. Sem dúvida alguma a sociedade atingiu um grau muito elevado de vivacidade, de perspicácia, agilidade; esperteza ao extremo naquilo que dura pouco; estamos pouco ou quase nada preocupados com aquilo que pode nos arruinar.
Muitas verdades foram se quebrando nos últimos séculos, aquilo que parecia eterno virou fumaça, aquilo que nossos ancestrais acreditavam piamente, hoje não passam de crendices quando analisadas por uma mente mediana e razoável conhecimento, aquilo que eram muito comum em nossas famílias, as tradições, tudo isso e muito mais é taxado de retrógrado, pensar como era o antes, hoje não vale um centavo sequer, institui-se a revolta contra tudo e contra todos, os níveis de violência que temos assistido tem atingido níveis assustadores, o indivíduo foi treinado a exaustão para ser ele mesmo a qualquer custo, não depender uma vírgula de qualquer meio disponível a seu redor, mas isso revelou-se uma mentira de dimensões gigantescas, ninguém vive absolutamente sozinho, ninguém consegue se manter de pé, sem ninguém por perto em qualquer meio ambiente que esteja.
Caso tenhamos coragem suficiente para admitir, podemos dizer sem medo que a contradição está no ar, ela invadiu ambientes até pouco tempo tidos como insuspeitáveis de cometerem qualquer erro, vamos nos dando conta de que nem a justiça, nem a política, nem a economia (só para ficar em três campos minúsculos), conseguiram mudar o mundo para melhor, apesar de algumas vozes aqui e acolá quererem aos berros mostrar o contrário. De tanto pedirmos a paz, fizemos guerras monstruosas, de tanto defendermos os direitos humanos, reiteradamente se cometem os piores abusos, de tanto lutarmos pelo fim das misérias mais básicas da sociedade, eis que triunfam em todos os lugares uma selvageria desmedida, contra tudo e todos, de tanto nos ajoelharmos perante a razão com a salvadora da pátria, ela nos deixa na mão, nos vira as costas; pesadelo silencioso, mortal.
Contra a tirania, optamos pela boa educação, mas aos poucos nos tornamos os mais tiranos de toda a cadeia que envolve a teia da vida, somos tiranos nas mínimas coisas do cotidiano, houve um tempo em que nos sussurraram que o conhecimento seria a salvação, a única maneira de nos tornarmos adultos no sentido pleno da palavra, mas a tirania do conhecimento logo se fez presente, o ser humano sente-se rei diante dos outros reinos menores, mas não menos importantes. Fez da escravidão a sua parceira número um; infligimos fardos pesadíssimos em outras culturas, atacamos sem dó nem piedade a Terra e aqui partimos para o ponto que interessa, ou seja, a Terra que deveria ser considerada por todos como uma parceira inigualável, aquela que nos sustenta em todos os momentos, provendo aos seres com alimentos, água, foi e continua sendo muito maltratada por todos.
Nos últimos dias o Estado do Paraná tem sido palco de tragédias anunciadas, o solo paranaense em alguns lugares desmoronando, matando pessoas, levando carros, caminhões e o que mais se encontrar pelo caminho, na maioria das vezes olha-se apenas para um ponto que o clima afeta, ou seja, dá-se uma atenção desmedida para o setor econômico que é duramente afetado, que se perdem milhões, que tudo para, conversas desse tipo correm soltas a todo instante, mas quase ninguém toca no problema de fundo que é a nossa total falta de consideração para com o solo, peça insignificante para muitos, mas vital para toda a vida. Tendo um solo bem cuidado muitos problemas são evitados, podemos aqui pensar no solo das nossas cidades, aqueles que são usados para a agricultura e outros mais: Estamos sim cuidando desses solos ou apenas os depredando?
Bioeticamente, precisamos com muita urgência repensar o que estamos fazendo com os nossos solos, eles são fontes de vida ou são meramente depósitos de lixos? Olhando globalmente, sabemos que muitos solos estão altamente comprometidos, muitos desses em situação irrecuperável, um sem número de fatores pode destruir todas as formas de vida que existe no solo, muitos de nós por levarmos uma vida totalmente desconectada com a natureza acabamos não dando a mínima atenção para tais casos. Agora depois de causar uma grande destruição no solo, alguns querem desesperadamente marchar para Marte em busca de novos solos para ali porem em prática justamente o que fazem aqui no Planeta Terra. Tudo que é demais, já dizia o sábio Aristóteles, causa um mal-estar profundo em tudo e em todos, com o solo não é nenhum um pouco diferente; quando ele é usado de maneira correta, nos proporciona todo tipo de bem, já quando o usamos de forma criminosa, uma hora ou outra ele se volta contra nós, então sejamos culpados ou não todos padecem.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.
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