Dirceu Antonio Ruaro
Amigos, no texto da semana passada, falei sobre o lugar do “não” na educação e desenvolvimento de nossos filhos.
Sei muito bem, como pai, avô e educador o quanto é difícil dizer e sustentar um não.
Muitas correntes psicológicas, psicopedagógicas, educativas, enfim, além das ações das mais diversas religiões, têm impactado e levado mesmo à grandes dúvidas sobre o tema do “não” nos relacionamentos interpessoais, na escola, na igreja, em todos os lugares sociais que compartilhamos.
Gosto muito do refrão da música “Metamorfose ambulante” cantada por Raul Seixas. Penso mesmo que dá uma grande reflexão e um olhar retrospectivo do que fomos, um olhar presente do que somos, e um olhar futuro de como queremos ser.
Novos desafios, novos conceitos, novas ideias são trazidas pelas mais diferentes formas de comunicação e em boa parte delas, contrapondo com os valores e conceitos que temos, o que queremos ter.
A complexidade de educar um ser humano é imensa. Você que tem filhos, sabe do que estou falando.
Você, pai, você mãe, ensina as mesmas coisas para dois ou três filhos. Vive os mesmos valores e conceitos com eles. Sua família, até, de certa maneira consegue uma vivência “mais ou menos” com o planejado por vocês, pais. Mas o que garante isso? O que temos visto é que cada um deles, fará a seu tempo, suas escolhas. E, nem sempre ou quase nunca iguais.
Enquanto seus filhos são pequenos, até por volta 8-10 (hoje está tudo muito precoce) as famílias conseguem certa harmonia e concordância nas ações e atitudes comuns.
Mas, (sempre precisa ter um “mas”), as novas ideias, os novos desafios, os novos conceitos de família, de obediência aos pais, de relacionamento pais e filhos, de educação de filhos nos mostram que a educação de filhos está cada vez mais complexa e exigente.
A atualidade nos traz um novo tipo de família; um novo tipo de “homem-pai”; um novo tipo de “mulher-mãe”; novas necessidades das crianças e dos adolescentes; a mídia que desafia e invade nossas casas sem pedir licença; enfim, uma série de “invasores” que adentram nossas casas e revolucionam nossa maneira de ver, sentir e agir em família.
Esse contexto “novo” está obrigando os casais (pais eu queria dizer) a mudar sua maneira de educar, de se relacionar e ensinar relacionamentos entre as pessoas para os filhos.
Ensinar e educar o ser humano, como já disse, é de alta complexidade. Por isso, na semana passada abordei o tema do “não”. Tema que está ligado à frustração, ao não poder ser (pelo menos agora) e que muitíssimos pais não sabem como lidar.
Ora, é preciso ensinar às crianças que a frustração de não ter sido o rei ou a rainha da festa da escola, por não ter feito o gol na partida de futebol, por não ter conseguido andar de bicicleta sem rodinha, por não ter ainda aprendido a escrever, ou ler, dentre tantas outras que fazem parte da vida, são excelentes oportunidades de aprendizado, pois ao ter contato com essas experiências frustrantes, a criança, cria uma força interna, uma fundamental em seu desenvolvimento, adquirindo a capacidade de ser tolerante, e ter força de enfrentar o mundo – não que a vida seja necessariamente uma “pedreira”, mas conseguirá enfrentar as frustrações normais da vida adulta com maturidade, tolerância, resiliência e superação.
Não há mal maior do que permitir sempre, dar sempre, e não mostrar que a vida nega muitas coisas, que nem sempre o dinheiro, o poder, o status social pode tudo. Temos visto que crianças e adolescentes extremamente poupados de tudo são exatamente os que mais sofrem diante de situações em que são contrariadas. Quando ouvirem seu primeiro não, terão muito mais dificuldade de lidar com esse fato, pois não criaram, quando crianças, a capacidade de enfrentar situações adversas.
Cabe, portanto, o exercício da paternidade e maternidade, também na tarefa de ensinar que os filhos (crianças e adolescentes) precisam aprender que a frustração, o ganhar e/ou perder; o fracasso e/ou a vitória; o conseguir e/ou não conseguir algo são parte do pacote da vida e que possam usar “essa negação” para aprender, para superar, mesmo que, naquela hora seja difícil entender a aceitar isso.
Olho pelo retrovisor do meu tempo e fico feliz em perceber que “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante/ Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER