Nascido na cidade de Jacareí, no Vale do Paraíba, Tuia Lencioni, 48 anos, começou a se interessar por música ainda pequeno, aos 9 anos de idade. Na adolescência, vivida nos anos 1980, ouvia nomes que puseram o pé na estrada na década anterior, como Tavito, Sá, Rodrix & Guarabyra, Zé Geraldo e Renato Teixeira, e o rock brasileiro que começava a dominar as rádios do País.
No seu “quintal”, como gosta de dizer, o que predominava era o som dos violeiros que se reuniam nas praças, mercados e em festas religiosas, como a do Divino. “Para mim, não tinha diferença do que eu ouvia na mídia e o que tocavam na cidade. Era tudo música”, diz Tuia, que hoje mora em São José dos Campos, também na região do Vale.
Com as canções de Teixeira, descobriu que a música regional, a chamada MPB e o folk americano – a música folclórica – podiam conviver de forma natural. Nos anos 1990, quando formou a banda de rock regional Dotô Jéka, fez uma versão mais pesada do clássico Romaria. A banda durou quase uma década e, no começo dos anos 2000, Tuia se lançou em carreira solo. Os anos 1970, a viola e o violão, o rock rural e o folk nunca saíram de sua música.
Prova disso é o single Flores da Manhã, composição dele com um de seus ídolos de adolescência, o Guarabyra. A música irá fazer parte do álbum autoral Horizonte em Queda Vertical, previsto para sair em outubro deste ano. O segundo single, Sinais de Amor, uma declaração de amor à esposa, Lisa, sai agora em abril.
A gravação de Flores da Manhã juntou os dois autores ao cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro. Tuia justifica a escolha. “Zeca tem o disco Líricas, muito folk, que foge um pouco dos outros trabalhos dele. Quando ele veio fazer um show aqui no Vale, em Monteiro Lobato, em um lugar que chamamos de Woodesterco, eu fui falar com ele. Contei a ele que tinha feito uma música com o Guarabyra que tinha muito a ver com o Líricas. Ele me contou que pensou muito em Sá & Guarabyra quando fez esse disco. Mandei para ele ouvir, ele gostou. Fomos para o estúdio sem ideia do que íamos fazer e optamos por fazer algo simples, com cara dos anos 1970. Tudo se encaixou”, conta.
Além do disco solo e autoral, Tuia tem outro projeto aprovado no ProAc – o programa de incentivo à cultura do governo de São Paulo – só com rock rural, que será gravado juntamente com Guarabyra, Zé Geraldo, o violeiro Ricardo Vignini e a participação de Baleiro. “Eu tenho esse lado de juntar a turma. É um traço da minha geração que pegou o final da estrutura das gravadoras. Então, eu mesmo ponho a mão na massa”, afirma.
Carneiros e cabras
Se o rock rural tem um marco inicial, ele é a música Casa no Campo (“onde eu possa compor muitos rocks rurais”, diz a letra), composta por Tavito e Zé Rodrix, vencedora de um festival da canção realizado na cidade mineira de Juiz de Fora, em 1971. No ano seguinte, quando Elis Regina decidiu gravá-la em seu LP anual, a canção se tornou um sucesso nacional. No mesmo disco, havia outra representante do gênero, Olhos Abertos, de Guarabyra e Zé Rodrix.
Em meio à crescente migração dos brasileiros para os centros urbanos e a dureza da ditadura militar, as músicas descreviam cenários bucólicos com “carneiros e cabras pastando solenes” e pregavam contra a máquina do capitalismo que fazia as pessoas serem conhecidas pelo que possuíam de bens materiais. O ideal hippie de paz e amor também era uma inspiração. À tradicional música sertaneja misturavam-se rock, folk, baião, coco, entre outros ritmos.
No mesmo ano de 1972, Sá, Rodrix e Guarabyra formaram um trio e lançaram o hoje clássico Passado, Presente e Futuro, que trazia músicas como Primeira Canção da Estrada, Cumpadre Meu e Ama Teu Vizinho Como a Ti Mesmo.
O segundo LP do trio, Terra, veio logo no ano seguinte, mas com a parceria entre eles já estremecida. Em uma espécie de acordo – algo parecido com o que fizeram Roberto e Erasmo Carlos e John Lennon e Paul McCartney, todas as canções foram assinadas pelos três, para evitar maiores conflitos. Na capa, um outdoor com um violão estampado.
Depois desse trabalho, Sá e Guarabyra seguiram em dupla e emplacaram sucessos como Sobradinho, Espanhola, Dona, Roque Santeiro e Verdades e Mentiras – essas três últimas fizeram parte da trilha da novela Roque Santeiro. Rodrix seguiu carreira solo e se destacou na publicidade. No fim dos anos 1990, voltaram a formar um trio, até a morte de Rodrix, em 2009. Nessa volta, emplacaram a música Jesus Numa Moto.
Embora parte dos fundadores do rock rural ainda estejam na ativa – além de Rodrix, Tavito morreu em 2019 -, Tuia afirma que o gênero ainda precisa ser mais conhecido pelas novas gerações. “O rock rural ainda não teve uma redescoberta como os Novos Baianos tiveram, por exemplo. Os jovens se ligam no folk americano. Muitos consideram o rock rural antigo, o que é uma bobagem. Ele fez uma ponte com a música mineira e a pantaneira, embora cada uma delas tenha sua peculiaridade. É atemporal”, diz.
No seu “quintal”, como gosta de dizer, o que predominava era o som dos violeiros que se reuniam nas praças, mercados e em festas religiosas, como a do Divino. “Para mim, não tinha diferença do que eu ouvia na mídia e o que tocavam na cidade. Era tudo música”, diz Tuia, que hoje mora em São José dos Campos, também na região do Vale.
Com as canções de Teixeira, descobriu que a música regional, a chamada MPB e o folk americano – a música folclórica – podiam conviver de forma natural. Nos anos 1990, quando formou a banda de rock regional Dotô Jéka, fez uma versão mais pesada do clássico Romaria. A banda durou quase uma década e, no começo dos anos 2000, Tuia se lançou em carreira solo. Os anos 1970, a viola e o violão, o rock rural e o folk nunca saíram de sua música.
Prova disso é o single Flores da Manhã, composição dele com um de seus ídolos de adolescência, o Guarabyra. A música irá fazer parte do álbum autoral Horizonte em Queda Vertical, previsto para sair em outubro deste ano. O segundo single, Sinais de Amor, uma declaração de amor à esposa, Lisa, sai agora em abril.
A gravação de Flores da Manhã juntou os dois autores ao cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro. Tuia justifica a escolha. “Zeca tem o disco Líricas, muito folk, que foge um pouco dos outros trabalhos dele. Quando ele veio fazer um show aqui no Vale, em Monteiro Lobato, em um lugar que chamamos de Woodesterco, eu fui falar com ele. Contei a ele que tinha feito uma música com o Guarabyra que tinha muito a ver com o Líricas. Ele me contou que pensou muito em Sá & Guarabyra quando fez esse disco. Mandei para ele ouvir, ele gostou. Fomos para o estúdio sem ideia do que íamos fazer e optamos por fazer algo simples, com cara dos anos 1970. Tudo se encaixou”, conta.
Além do disco solo e autoral, Tuia tem outro projeto aprovado no ProAc – o programa de incentivo à cultura do governo de São Paulo – só com rock rural, que será gravado juntamente com Guarabyra, Zé Geraldo, o violeiro Ricardo Vignini e a participação de Baleiro. “Eu tenho esse lado de juntar a turma. É um traço da minha geração que pegou o final da estrutura das gravadoras. Então, eu mesmo ponho a mão na massa”, afirma.
Carneiros e cabras
Se o rock rural tem um marco inicial, ele é a música Casa no Campo (“onde eu possa compor muitos rocks rurais”, diz a letra), composta por Tavito e Zé Rodrix, vencedora de um festival da canção realizado na cidade mineira de Juiz de Fora, em 1971. No ano seguinte, quando Elis Regina decidiu gravá-la em seu LP anual, a canção se tornou um sucesso nacional. No mesmo disco, havia outra representante do gênero, Olhos Abertos, de Guarabyra e Zé Rodrix.
Em meio à crescente migração dos brasileiros para os centros urbanos e a dureza da ditadura militar, as músicas descreviam cenários bucólicos com “carneiros e cabras pastando solenes” e pregavam contra a máquina do capitalismo que fazia as pessoas serem conhecidas pelo que possuíam de bens materiais. O ideal hippie de paz e amor também era uma inspiração. À tradicional música sertaneja misturavam-se rock, folk, baião, coco, entre outros ritmos.
No mesmo ano de 1972, Sá, Rodrix e Guarabyra formaram um trio e lançaram o hoje clássico Passado, Presente e Futuro, que trazia músicas como Primeira Canção da Estrada, Cumpadre Meu e Ama Teu Vizinho Como a Ti Mesmo.
O segundo LP do trio, Terra, veio logo no ano seguinte, mas com a parceria entre eles já estremecida. Em uma espécie de acordo – algo parecido com o que fizeram Roberto e Erasmo Carlos e John Lennon e Paul McCartney, todas as canções foram assinadas pelos três, para evitar maiores conflitos. Na capa, um outdoor com um violão estampado.
Depois desse trabalho, Sá e Guarabyra seguiram em dupla e emplacaram sucessos como Sobradinho, Espanhola, Dona, Roque Santeiro e Verdades e Mentiras – essas três últimas fizeram parte da trilha da novela Roque Santeiro. Rodrix seguiu carreira solo e se destacou na publicidade. No fim dos anos 1990, voltaram a formar um trio, até a morte de Rodrix, em 2009. Nessa volta, emplacaram a música Jesus Numa Moto.
Embora parte dos fundadores do rock rural ainda estejam na ativa – além de Rodrix, Tavito morreu em 2019 -, Tuia afirma que o gênero ainda precisa ser mais conhecido pelas novas gerações. “O rock rural ainda não teve uma redescoberta como os Novos Baianos tiveram, por exemplo. Os jovens se ligam no folk americano. Muitos consideram o rock rural antigo, o que é uma bobagem. Ele fez uma ponte com a música mineira e a pantaneira, embora cada uma delas tenha sua peculiaridade. É atemporal”, diz.
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