“Ela amadureceu muito rápido. Por causa do Gabriel, conviveu bastante no Circuito Mundial, mas sabe que precisa fazer a história dela. O sobrenome não garante nada, importa o que ela vai fazer lá dentro do mar. Não é fácil, precisa ter equilíbrio para lidar com críticas injustas e elogios a mais, porém tenho certeza de que ela vai fazer sua própria história no surfe”, disse Charles Saldanha, pai e técnico de Sophia.
Foi ele quem treinou Gabriel Medina desde a adolescência até o ano passado, e juntos conquistaram dois títulos mundiais. Agora, Saldanha vem se dedicando a Sophia e está começando a trilhar novamente o mesmo caminho, passando pelas competições regionais, até chegar à divisão de acesso e, por fim, ao Circuito Mundial, onde estão os atletas de elite. Até por conhecer as dificuldades, ele não tenta acelerar o processo, mesmo sabendo do talento da filha.
“A meta principal é chegar no Circuito Mundial em três ou quatro anos. Ela ainda tem muito a evoluir e progredir. Esse campeonato que ela ganhou ajuda a ter ranking para disputar o Challenger, que vai servir de aprendizado em um primeiro momento. Depois, deve demorar em torno de três anos para chegar à elite. O Gabriel, depois de dois anos e meio, entrou no Circuito Mundial. Mas temos de colocar metas reais para depois não se tornar uma decepção”, explica.
INÍCIO DO SONHO – Sophia começou a surfar com 8 anos e pouco tempo depois já estava treinando com mais seriedade. Influenciada por Gabriel, logo se apaixonou pela modalidade e foi sendo aprimorada no instituto criado pela família em Maresias. Lá, tinha aulas em cima da prancha, de apneia, preparação física e até curso de inglês. Mas sempre que podia acompanhava o irmão em algumas etapas do Circuito Mundial, e foi ganhando experiência.
Aos 12 anos, assinou com a Rip Curl seu primeiro contrato de patrocínio (atualmente sua prancha já estampa muitas marcas) e foi trilhando seu caminho nas competições. Em 2018, ganhou o Rip Curl Grom Search, título que o irmão famoso já havia conquistado, e fez a família reviver um momento importante. Agora, ela também conquistou uma etapa do QS, repetindo o feito de Gabriel quando tinha 15 anos, em Florianópolis.
“Foi algo semelhante. É uma etapa em que os dois eram muito jovens e não eram favoritos. Tanto ela como o Gabriel vieram da chave de baixo fazendo bastante pontos. E nos dois casos a gente foi pensando fase a fase. Quando vimos estávamos na final. Ela foi ganhando confiança e acho que foi muito parecido com a vitória do Gabriel. Para mim, a emoção também foi muito semelhante e motivo de muita alegria”, conta Charles.
Ele divide com Gilmar Moura o trabalho de técnico de Sophia. O antigo professor do Instituto Gabriel Medina já vinha treinando Sophia, principalmente quando Charles precisava viajar com Gabriel para as competições, e esse trabalho coletivo vem dando resultado. “A gente se dá bem. Eu treinei ele quando era mais novo, e tem a mesma linha de pensamento que eu. A Sophia gosta dele também e acho que o time precisa estar sincronizado.”
Por já ter passado por muita coisa na caminhada com Gabriel, Charles sabe o que precisa corrigir e o que deve repetir para que Sophia também tenha a possibilidade de ter sucesso em cima da prancha. “O esporte vai evoluindo. Claro que já fizemos o caminho lá atrás, com muito mais acertos do que erros. Mas temos de estar espertos. Aprendo todo dia, sempre tem algo novo, quero melhorar, e sei que o esporte vai ficar mais difícil. Então vamos estar sempre inovando para cometer o mínimo de erros. O que já deu certo serve de lição também. Algo que tenho certeza que dá certo é ter foco, trabalhar duro, pois esporte profissional não é brincadeira ou diversão. É necessário dedicação total e humildade.”
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