SP cobra kit intubação até hoje; cidades limitam internação por falta de remédio

O governo de São Paulo disse que cobrou do Ministério da Saúde a entrega até esta quinta-feira, 15, de mais remédios do chamado kit intubação para pacientes da covid-19. O secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, afirmou que há medicamentos suficientes só por “alguns dias”. Já o ministro Marcelo Queiroga promete receber mais produtos nos próximos dez dias e também um pregão internacional. O risco de desabastecimento já obriga alguns hospitais paulistas a limitar atendimento.

Segundo a gestão João Doria (PSDB), nove ofícios sobre o risco de desabastecimento foram enviados em 40 dias. A lista inclui quatro bloqueadores neuromusculares, três fármacos para sedação contínua e um fármaco para analgesia. “Em face desse cenário, é imprescindível o envio de medicamentos para o Estado de São Paulo em até 24 horas, minimamente para suprir o abastecimento de 643 hospitais para os próximos dias”, diz trecho do documento enviado ao governo Jair Bolsonaro.

Ainda conforme o documento, o Estado vem informando diariamente o consumo e o estoque. “A situação de abastecimento dos medicamentos, principalmente daqueles que compõem as classes terapêuticas de bloqueadores neuromusculares e sedativos está gravíssima, isto é, na iminência do colapso”, segundo o governo. “Logo, a partir dos próximos dias poderá ocorrer desabastecimento dos medicamentos dessas duas classes terapêuticas em vários hospitais com leitos destinados à covid-19”, conclui.

Desde março, o ministério faz requisições administrativas para as fábricas destinarem o excedente da produção ao órgão. Depois, a pasta redistribui aos Estados, por meio do SUS.

Doria vê como “confisco” a medida. “Não podem vender para municípios, governos estaduais nem instituições privadas. Ora, se houve esse sequestro, confisco, cabe ao ministério, sim, a responsabilidade de distribuir insumos a todos os Estados e municípios.” A secretaria diz que a última entrega federal a São Paulo foi no fim de março – 6% do necessário para atender à demanda mensal.

“O governo federal, por meio de iniciativa conjunta com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas, braço das Nações Unidas), fez compra direta (de remédios). Esperamos que nos próximos dez dias tenhamos nosso estoque regulador fortalecido”, disse Queiroga ontem. Nas duas últimas semanas, porém, o ministério só conseguiu comprar 17% dos remédios que havia previsto para reposição.

Colapso

Dos 30 leitos de UTI covid adultos na Santa Casa de São Carlos, só 24 estão em funcionamento – não haveria remédios suficientes para mais seis pacientes e essa foi a saída para garantir que os internados recebam o tratamento adequado. Há um mês, o hospital sofre para manter atendimentos que dependem de anestésicos. No dia 19, cirurgias eletivas foram suspensas. Na semana seguinte, 60 pacientes foram inseridos na central de regulação de leitos, para transferência, mas outro hospital da região emprestou remédios.

Em São Sebastião, litoral norte, 20 pacientes que buscaram atendimento foram transferidos para outro centro médico da região – 6 para enfermaria e 14 para UTI. A cidade tem apenas 20% de ocupação na UTI Respiratória do Hospital das Clínicas, mas não tem como realizar novas internações. Segundo o prefeito Felipe Augusto (PSDB), o município não recebe insumos para intubação desde o fim de março. “Os estoques que temos são suficientes apenas para manutenção da vida de quem está internado.”

A Santa Casa de Pirassununga suspendeu novos atendimentos na UTI clínica geral por falta de medicamentos. Com estoques reduzidos, foi dada prioridade à ala covid de terapia intensiva. “Fechamos a UTI clínica com cinco pacientes, pois os estoques estão acabando. Se aparecerem novos pacientes, vamos encaminhar para o sistema Cross (de regulação de leitos)”, afirmou o secretário de Saúde, Edgar Saggioratto.

Levantamento da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado (Fehosp), com respostas de 180 unidades, aponta que estoques de anestésicos, sedativos e relaxantes musculares têm, em média, de 3 a 5 dias de duração. Antibióticos também começam a ficar escassos. “Mesmo em hospitais que apontam entre 8 e 10 dias de estoque, é delicado. São hospitais maiores, recebem grande volume de novas internações a cada dia e, dependendo da região, o estoque cai bruscamente de um dia para o outro”, diz o presidente da Fehosp, Edson Rogatti. Segundo a entidade, Matão, Guarujá, Votuporanga, Presidente Epitácio, Fernandópolis e Rio Preto operam com reservas entre dois e três dias.

O Estado disse também estar em curso a negociação com hospitais estaduais e municipais sobre a possibilidade de aderir a uma compra internacional. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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