Legislações da biosseguridade e do bem-estar animal são vistas como caminho para maior valoração do produto final
Não fosse a alta nos custos de produção — que tem um grande impacto pelo alimento fornecido aos animais, que tem como base o milho e a soja, grão que estão com cotação elevada; e mais recentemente o acréscimo das bandeiras tarifárias da energia elétrica —, era possível dizer que a suinocultura vive um daqueles momentos de respiro.
Os suinocultores não estão nadando em dinheiro, pelo contrário, estão operando no vermelho, uma vez que produtores independentes chegam a ter um custo aproximado de R$ 9 o quilo, enquanto que recebem R$ 6.
“Até o final do ano, tínhamos o preço do suíno que estava pagando o custo de produção e a partir de fevereiro o [preço por quilo do] suíno despencou e os custos se mantiveram. Hoje o produtor está trabalhando no vermelho, e não é pouco”, diz Jacir Dariva presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS).
Então, como falar em momento de respiro na cadeia produtiva?
A resposta está nos reconhecimentos obtidos neste ano, que estão movimentando o setor e, mais, gerando otimismo a médio e longo prazo, algo que não se via a um bom tempo nas granjas.
A declaração de Zona Livre de Peste Suína Clássica Independente, obtida em maio, somada ao reconhecimento pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), como Área Livre de Aftosa Sem Vacinação, são, para Dariva, reflexos de muito trabalho, porém que somente terá os frutos colhidos, ou melhor, os contratos para abate de animais, mais próximo de completar um ano destas menções. Portanto, meados de março de 2022.
Com relação ao mercado internacional, Dariva é enfático. “Se tiver mercado para a compra, os produtores estão aptos para atender.”
Mas, até lá, segundo o suinocultor, os produtores paranaenses também estão de olho a outras regras, em especial a lei de biosseguridade, estabelecida no Paraná pelo Decreto 12.029, de 1º de setembro de 2014 e da Portaria da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), 265 de 17 de setembro de 2018, que favoreceu a ampliação de sua participação no exterior.
Na prática, as granjas de suínos que com biosseguridade atingiram a mesma excelência hoje presente nas de aves, que em 100% dos grupos aviários tem medidas estabelecidas para impedir a entrada e disseminação de doenças, o que resulta em uma melhor qualidade de produto final.
De acordo com Dariva, empresas integradoras já estão atingindo de 60% a 70% das exigências estabelecidas. “Está todo mundo aderindo porque é a proteção do próprio dinheiro”, diz ele.
Contudo, até que o nível de excelência seja atingido, o momento é de investimento, o que implica em dizer, a proteção do dinheiro é futura em um primeiro momento, porque agora ele está mesmo saindo do bolso dos produtores.
Isso quer dizer que o custo de produção das granjas está mais alto. A conta de agora, que, segundo os produtores, quase dobrou, vai garantir o cumprimento de uma série de exigências, mas tem seu valor elevado também pela construção civil, que elevou seus custos durante a pandemia.
Bem-estar animal
Outra mudança que se vê nas granjas é uma compreensão mais ampla do conceito de bem-estar animal.
O que muitos, no passado, olhavam de ‘cara torta’, hoje é mais que uma realidade nas granjas, sendo a certeza de um melhor produto entregue, portanto, um melhor retorno.
“Já faz mais de um ano, que o Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural], a própria Associação Brasileira de Criadores de Suínos [ABCS] com suas regionais, estão implantando cursos para mostrar como se trata o animal”, comenta Dariva falando que o produtor também já entendeu, o que os estudos revelaram “quanto mesmo estressar o animal, ele vai produzir mais, e vai te dar um retorno diferente.”
Se para o suinocultor o retorno é financeiro, para os consumidores o bem-estar animal resulta em carne mais saborosa.
Atual momento
O momento se concretiza como de resiliência para os suinocultores, ao apontar uma expansão do setor.
Conforme Dariva integradoras presentes no Paraná estão aumentando de 10% a 15% a capacidade instalada de fêmeas, e a expectativa é de chagar a 20%.
“Não há [no momento] um aumento de granjas, mas sim, da capacidade delas”, comenta o presidente da APS revelando os reflexos da ampliação do número de fêmeas em produção, o de mão de obra.
Segundo Dariva, com o aumento de plantel, a cada 70 a 80 fêmeas instaladas no campo, precisa de uma pessoa a mais, para todos os cuidados com os animais.
Outra situação é que com mais matrizes, mais animais estão aptos para abate, e assim os frigoríficos acabam abrindo postos de trabalho.
Uma mostra foi registrada em 2020. No ano passado o Paraná registrou um aumento de 11,56% na produção de suínos nos nove primeiros meses, no comparativo como o mesmo período de 2019.
A expectativa é de que o volume de abate se mantenha, para que as vagas no campo, assim com as melhorias para atender as normativas também se consolidem, proporcionando aos produtores horizontes melhores.