A cada ano, mulheres mais jovens estão morrendo vítima de infarto, afirmou o novo posicionamento publicado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) neste mês. A afirmativa de que é crescente o número de diagnósticos de doença isquêmica do coração neste público é decorrente de algumas características fisiológicas que aumentam não apenas os riscos de desenvolvimento da patologia, quanto a morte por alguma delas.
Para compreender melhor quais são os riscos que as deixam mais susceptíveis e como as mulheres podem adotar medidas preventivas, entrevistamos o cardiologista, Luiz Morrone, que explicou que de uma maneira geral, as doenças cardiovasculares foram e continuam sendo a principal causa de morbimortalidade no Brasil e no mundo.
“As doenças isquêmicas do coração, incluindo o infarto agudo do miocárdio, foram a principal causa de morte nas últimas 3 décadas (1990 a 2019). Muito embora tenha sido observado que a incidência e a prevalência destas doenças do coração tenham diminuído no Brasil, tanto entre homens quanto em mulheres nos últimos 20 anos, paradoxalmente foi observado um aumento de 62% na taxa de infarto e morte em mulheres jovens entre 15 e 49 anos, entre 1990 e 2019”, destacou.
O médico explicou ainda que as mulheres possuem coronárias mais finas, uma frequência cardíaca mais elevada e menos circulação colateral que os homens. “Além disso, também o tempo de atendimento para as mulheres jovens com infarto é maior que o dos homens, pois mulheres jovens historicamente seriam menos acometidas de infarto e os sintomas são mais atípicos, o que ajuda a retardar o diagnóstico e início do tratamento”.
SINTOMAS E FATORES DE RISCO
Sobre os fatores de risco clássicos, Luiz Morrone, garantiu que são semelhantes entre homens e mulheres. “São comuns entre os dois gêneros: sedentarismo, hipertensão, diabetes dislipidemia, tabagismo, porém, é importante destacar que o advento da vida moderna, obrigou as mulheres a trabalhar fora de casa, impondo uma jornada dupla ou tripla, submetendo-as a uma jornada extenuante, física e mentalmente, causando uma reação de estresse, que associado à depressão, eleva a chance de infarto. Além disso, a gestação também aumenta o risco de complicações cardiovasculares na mulher”, explicou.
O novo posicionamento da SBC destaca a dor torácica como um dos sintomas mais prevalentes de infarto agudo do miocárdio em ambos os sexos. “No entanto, as mulheres são mais propensas a apresentar sintomas atípicos, incluindo dor na parte superior das costas e pescoço, fadiga, náuseas e vômitos”.
“A maioria das mulheres com infarto agudo do miocárdio apresenta sintomas prodrômicos de falta de ar, fadiga incomum ou desconforto em braço/mandíbula nas semanas anteriores. Angina estável é a apresentação clínica mais frequente em mulheres com doença isquêmica do em oposição ao infarto agudo do miocárdio ou à morte súbita”, consta.
O cardiologista observou ainda que a hipertensão é uma doença silenciosa, tanto em homens, quanto em mulheres, sendo feita a suspeita do diagnóstico, às vezes, em medições da pressão arterial ao acaso. “Isso significa que a pessoa pode ser hipertensa arterial a vários anos e não saber, e a hipertensão arterial é um fator de risco para aterosclerose e infarto agudo do miocárdio, entre outras doenças cardiovasculares como acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, etc”.
MENOPAUSA AUMENTA O RISCO
Sobre as condições específicas do corpo da mulher na menopausa e o porquê ela aumenta o risco de infarto em mulheres, Morrone explicou que está relacionada a uma flutuação hormonal. “Observamos, principalmente, uma queda nos níveis de estrógeno, que é considerado um hormônio protetor para o coração e vasos sanguíneos e, que por facilitar a vasodilatação e exercer um efeito protetor no endotélio vascular, age diminuindo a aterosclerose e produção de radicais livres”.
Como recomendação de saúde, o médico cardiologista indica hábitos saudáveis como a prática de atividade física, que segundo o mesmo, é de fundamental importância, devendo ser considerada um santo remédio para prevenção das doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, obesidade, osteoporose. “Também muito importante o ato de dormir e descansar a mente e o corpo. Controlar os fatores de risco como tabagismo, uso abusivo de álcool, má alimentação, e fazer uso correto de medicações prescritas para controle da pressão arterial, diabetes e dislipidemias”, orientou.
Por fim, é importante lembrar que no frio, a incidência de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral é 30% maior que em outras épocas do ano. “Em temperaturas mais baixas, ocorre uma vasoconstricção, que diminui o fluxo sanguíneo em vários territórios, além disso, pode ocorrer um espasmo nas artérias do coração, que ocorre quando o corpo é submetido a mudanças bruscas na temperatura ambiente”, concluiu.