Terra, ar, água e fogo

            Nosso querido e amado Brasil, celebrou no último dia 07 de setembro de 2024 mais um  aniversário de sua “independência”, ocasião, ímpar, única, uma data que deveria calar fundo em nossas mentes e corações, um momento crucial para refletirmos sobre o que o nosso belo país está se tornando a cada dia que passa, isto é, de norte a sul e de leste a oeste, o que notamos é uma profunda apreensão e angustia pelo que pode vir a acontecer a todos nós caso não tomemos medidas urgentes para salvarmos essa terra tão majestosa que abriga inúmeras formas de vida, sejam ela humanas ou extra-humanas. Nosso Brasil é a nossa casa comum, é dessa terra que tiramos o nosso sustento, é aqui que nascem nossos filhos, aqui como em nenhum outro lugar do mundo temos tantas abundancias, o presente clama por ações efetivas e não um palavrório sem fim, vazio, oco e sem sentido.

            Temos vivido na pele o drama das queimadas, da seca e também das enchentes, três situações altamente conflitantes e perigosas, cada uma delas carregando enormes riscos para quem quer que seja, o espaço humano e o espaço animal tem sido duramente castigados, cada um deles se debilitando a cada nova crise surgida, cada uma dessas três catástrofes nos prendem, nos açoitam, fragmentam nossos desejos e aspirações, por outras palavras, aquilo que tínhamos como garantia até pouco atrás, tornou-se hoje um sonho distante, talvez impossível de ser realizado. O modo de vida que nos foi imposto, está provando hoje ser ofensivo à manutenção da vida no seu todo, isto é, abusar, relaxar, menosprezar a terra em que vivemos, sugar tudo e mais um pouco é uma ameaça real de morte da nossa natureza, dos nossos rios e florestas, nossos laços se desfazendo todo dia.

            Viajamos para o centro dos desastres praticamente todo o tempo, as telas nos conduzem por labirintos e redemoinhos de fogo que não cessam de fazer vítimas, mais uma vez nos deparamos com o excesso, o que ates era impensável, torna-se agora a contra gosto, a ordem do dia, queiramos ou não, culpados ou não todos agora devem se submeter a nova ordem ambiental, isso nos mostra de modo assombroso, de que o que está nos destruindo são única e exclusivamente os nossos sucessos, aqueles mesmo que julgávamos serem a solução para todo tipo de desordem reinante que a vida sempre nos impôs. Sonhávamos com tempo livre, almejávamos poder fazer mil coisas diferentes, mas cá estamos nós lidando com o mais básico de tudo, ou seja, as nossas conquistas estão servindo pouco; vemos apenas e tão somente homens exaustos, tentando apagar o fogo.

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            Há muitas cortinas de fumaça nos envolvendo nessa hora, muita cinza sendo despejada sob nossas cabeças, tudo se tornando turvo, sem brilho ou cor, a cinza nos intoxica de tal maneira que ficamos sem saber o que fazer, por outras palavras, estamos convivendo lado a lado com o perigo, mas estamos cegos, surdos e mudos, parece que nada disso é conosco, continuamos abobalhados em nossos pequenos feudos de faz de conta, solidão e silêncio marcam o nosso tempo diante do desespero que a tudo incendeia. Esse desinteresse gigante pela vida e o interesse exagerado pela banalidade revelam bem o tipo de sociedade que construímos ao longo das últimas décadas, os projetos para um futuro brilhante, esbaram no presente assustador, nele a carência de quase tudo que pode nos salvar e o excesso daquilo que pode nos destruir; eis os dois caminhos à nossa frente.

            Bioeticamente, o poder que o ser humano adquiriu, ou seja, aquele poder de querer ser igual a Deus, agora mostra a sua verdadeira face, tanto deslumbre, tantas ilusões, máquinas pensantes, uma engenhosidade jamais vista, o progresso bafejado vinte e quatro horas por dia, esses e outros instrumentos de última geração, não são capazes de apagar os incêndios que destroem tudo ao nosso lado, a nossa paz, a nossa amizade, a nossa sobriedade, o nosso ar, a nossa água. Eis aí o retrato do primeiro quarto de século XXI, é isso realmente que queremos para as nossas famílias, filhos, netos e amigos? Os destruidores de mundos, aqueles que tem arrasado sistematicamente o meio ambiente, os debochadores, que não estão nem aí para essa catástrofe, estão contentes agora? Estão eles satisfeitos; antes de tudo deveriam estar fazendo alguma coisa e não se escondendo.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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