Caridade verdadeira,
Em todos os seus caminhos,
Quando oferece uma rosa
Sabe tirar os espinhos.
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Já nos demos conta de quantos espinhos deixamos na rosa que ofertamos?
Prestamos um favor qualquer, auxiliamos a alguém e frisamos: Olhe bem, estou ajudando! Olhe o que estou fazendo por você!
Isso quando não preferimos falar: Isso não era minha obrigação!
Outras vezes, assumimos um tom de superioridade que machuca: Eu falei que não era para fazer aquilo! Agora vem pedir ajuda!
E fazemos o outro se sentir o pior dos seres.
São outros espinhos.
Há espinhos quase invisíveis, mas que se manifestam na maneira de falarmos: Olhe, você fica me devendo essa! Ou: Não esqueça de mim no futuro!
É uma caridade rústica, grosseira, que quase sempre se desfaz em si mesma.
A caridade verdadeira sabe deixar o outro numa situação de conforto e não de constrangimento. Nesses termos, a caridade anônima é a mais preciosa. Ela não faz alarde e o bem é realizado da mesma forma.
Saber retirar os espinhos é fazer com que o beneficiado se sinta acolhido e não inferiorizado.
Todo aquele que necessita de ajuda, de qualquer ordem, já está em posição de desvantagem, fragilizado. Uma palavra de arrogância, uma atitude de falsa superioridade apenas afunda mais o coração amargurado do sofredor.
Tirar os espinhos é saber deixar o outro à vontade, não exigindo elogios, agradecimentos ou recompensas de qualquer sorte.
Dessa maneira, vamos tornando a caridade uma ação corriqueira, ao alcance de todos, que vai virando uma grande troca entre os irmãos de caminhada. Ninguém deve nada a ninguém.
Devemos ser gratos, sim, quando recebemos algo que nos alegre a vida, que nos torne mais confortáveis os dias.
Não falamos daquela gratidão que prende, que nos faz sentir inferiores àquele que nos concedeu o benefício, mas da gratitude que nos permite dividir com o próximo a alegria recebida.
A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, desde que resguarda a vulnerabilidade do beneficiado.
Permite que o outro aceite o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta. Também lhe salvaguarda a dignidade de homem.
A verdadeira caridade é delicada e engenhosa, dissimulando o benefício, evitando qualquer aparência que possa melindrar, considerando que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da necessidade.
Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor.
Dessa maneira, não permitamos que os espinhos do orgulho e da vaidade cresçam em nossas rosas, a ponto de se tornarem maiores do que a própria flor.
Pensemos como gostaríamos de ser tratados, abordados, em situação similar. Com certeza, não apreciaríamos ser expostos, humilhados.
Retiremos os espinhos, na oferta de uma rosa ou de um ramalhete de bênçãos. Caso seja impossível retirá-los totalmente, protejamos a rosa de uma forma que quem a receba não os encontre e não se machuque.
A verdadeira caridade está nesses detalhes, que demonstram as intenções por trás dos nossos gestos altruístas.
Redação do Momento Espírita
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