Ícone dos anos 90, a busca por pagode volta a crescer nos serviços de streaming
Redação
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Só Pra Contrariar, Raça Negra, Exaltasamba, Katinguelê, Pixote, Karametade, Molejo, Grupo Raça, Razão Brasileira, Art Popular, Soweto, Negritude Júnior. Quem tem mais de 30 anos certamente já ouviu todas essas bandas e sabe cantar até hoje os maiores hits brasileiros dos anos de 1990/00. Prova disso é que, em um cenário de isolamento social, um dos recursos utilizados para matar a saudade das festas e momentos de interação, as playlists se rechearam desses sucessos.
De acordo com o Spotify, maior serviço de streaming por assinatura do mundo, a busca por canções antigas aumentou 54% desde abril de 2020, além do registro de um grande aumento de playlists com esse recorte. E um dos ritmos que, antes da pandemia, não alcançava mais as paradas de sucessos e voltou com força total foi o pagode.
A publicitária Anna Macari é uma das pessoas que colaborou com esse índice. “Andei ouvindo pagode e Sandy por esses dias. Eu adoro o SPC. Com certeza é porque ele lembra essa fase maravilhosa que foi minha adolescência. A Sandy e o Turu Turu [Quando você passa] me faz lembrar de quando eu ia pra balada com o carro cheio de mulher gritando. Com certeza eu lembro de quem eu era e o que fazia, pessoas com quem estava ouvindo isso, dá muitas saudades”, revelou.
Pagodeira desde criancinha, a jornalista Bruna Bandeira da Luz tem uma lista de grupos que gosta, entre eles vários já citados neste texto. “Mas minha favorita é Arte Popular”, diz.
Bruna acredita ser arriscado entrar na discussão quanto a qualidade quando se fala de música porque, para ela, Cultura não se avalia, não se nivela. “Podemos dizer que é a adaptação do samba à lógica da indústria cultural. É esta lógica comercial que trouxe as regatas de tela, os passinhos e afins. Mesmo assim, considero o movimento legítimo, como considero legítimo o funk. Isso porque um grande número de pessoas se identifica, se sente representado neste ritmo, tão ligado à sua ancestralidade. E viva o batuque que saiu da cozinha”, celebra.
Quem se acaba dançando Revelação é o agroecologista Eduardo Balbonitti Fernandes. “Não viajo sem ouvir um Zeca Pagodinho e já tive muitas noites de amor acompanhado do Raça Negra”, conta. Para ele, o pagode fala de alegria, de tristeza, de dor e superação. “O pagode canta nossa cultura. O pandeiro, o cavaco e a cuíca são mais brasileiros que o Dr. Rey”, defende.
Nosso colunista, Paulo Argollo, diz que acha divertido ouvir em um churrasco, com a turma em um domingo de tarde. “Acho que vai além da nostalgia. É um som agradável de se ter ao fundo de uma boa conversa, cervejinha e tal. Meu grupo favorito é o Molejo, justamente por não ter tanta baladinha, ser mais animado. Mas não passa disso. Não é um gênero musical que eu coloco pra curtir sozinho enquanto estou cozinhando ou algo assim”, avalia.
Nostalgia
O produtor musical Victor Machado lembra que esse movimento nostálgico, de curtir o que parecia ruim há 20 ou 30 anos, é cíclico. “Nos 2000, as músicas dos anos 80 voltaram com tudo, vide o movimento Festa Ploc e o retorno do Capital Inicial. Pra mim, isso é coisa de trintão e quarentão relembrando com saudades da infância e se enganando preguiçosamente com um ‘na minha época até o que era ruim era melhor’. Também acho um pouco triste porque, em nome de um apego bobo, a pessoa deixa de descobrir o que é bom na atualidade, mas cada um vive como consegue”, avalia.
Mas não são somente pessoas mais velhas relembrando a juventude que gostam de pagodear. Tamiele Tuski, que trabalha com eventos, diz que, atualmente, em Pato Branco, a feijoada com pagode é o que mais movimenta os restaurantes e pubs da cidade. “Ganha disparado de qualquer outro gênero. É dançante, contagiante e empolgante”, comenta.
Kelly Cristina de Andrade reforça a fala de Tamiele. “Um sábado, comendo uma feijoada, com certeza combina muito com pagode, assim como num domingo assando carne combina com música gaúcha/nativista. Tudo depende da hora, local e companhia. Mas gosto de Zeca Pagodinho e Raça Negra”, diz.
A única ressalva é que, se o pagode continua o mesmo, não podemos dizer o mesmo das dancinhas. Se antes as coreografias exigiam preparação física de atleta, hoje só devem caber na tela do celular para virarem trend do Tik Tok.
Top 10 pagodes anos 90
Para você relembrar o que bombou na época, listamos os melhores pagodes antigos dos anos 90. Confira:
1- Me Apaixonei Pela Pessoa Errada (Exaltasamba)
2- Depois do Prazer (Só Pra Contrariar)
3- Recado À Minha Amada (Katinguelê)
4- Cohab City (Negritude Júnior)
5- É Tarde Demais (Raça Negra)
6- Fricote (Art Popular)
7- Tô Legal (Grupo Raça)
8- Farol das Estrelas (Soweto)
9- Pela Vida Inteira (Kiloucura)
10- Cilada (Molejo)
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