Padre Judinei Vanzeto
Então Jesus chamou a multidão com seus discípulos e disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la” (Mc 8, 34-35).
Para compreender um mistério existe apenas um caminho, ou seja, penetrar nele. Por exemplo, um teorema aprende-se rodeando-o com raciocínios lógicos. O mistério da cruz, por sua vez, não cabe em nossos raciocínios lógicos. Transborda-nos, envolve-nos. Só se entende um mistério penetrando nele. Quem enseja aceitar Jesus, tem que o conhecer por dentro. Tem que fazer uma experiência. Tem que ir com Ele, ser seu seguidor, seu discípulo, apreender com o mestre, sentar aos seus pés.
O mistério da cruz só se entende assumindo-o. Quem se quer salvaguardar sua vida, perde a chance de fazer uma experiência. Mas, quem se arriscar, vai realizar-se de uma maneira que nunca antes imaginou. Nisto, portanto, consiste a “revelação”. Não em doutrinas intelectuais, mas na opção por um caminho diferente para viver e conviver, que o próprio Jesus convida, mostra e abre o caminho pela cruz.
O caminho da cruz, da negação de si mesmo, das próprias vontades, para fazer a vontade de Deus, conforme a oração do Pai-Nosso: “seja feita a vossa vontade”. Isso, no entanto, não é um martírio público ou masoquismo barato. É um desprendimento de si mesmo nas pequenas coisas cotidianas. Não é apenas desejar o bem-estar aos outros, mas repartir com eles do que é seu, tirar algo de si para ser realmente partilhado com o necessitado. Pois fé não é uma adesão meramente intelectual e evento social; é escolher o caminho da negação de si em prol do irmão. Como Cristo no altar da cruz, onde ofereceu-se livremente e por amor pela humanidade. Cristo é como o grão de trigo que foi lançando no sulco da terra, que morreu para si, a fim de produzir mais grãos e ser triturado para ser pão, alimento.
Diante da vontade de Deus existe uma atitude fundamental para realizar essa participação: a obediência. No sentido bíblico obediência significa “dar audiência” àquilo que é maior do que nós: o mistério de Deus. É dar ouvidos e escutar. Essa obediência é que caracteriza o Servo de Javé (cf. Is 50, 4) e aquele que realiza plenamente o caminho do Servo Sofredor apresentado pelo profeta Isaias e sublinhando pelo apóstolo Paulo na Carta aos Filipenses 2, 8. Jesus Cristo, portanto, é o Servo Sofredor e foi obediente até a morte e morte de cruz.
No tocante ao seguimento a Cristo, a obediência não é constrangida pelo medo do inferno e do purgatório, mas a obediência por amor, o tornar-se atento para o amado. Deus é amor. O amor é sua essência. E é nesse amor que cada um faz sua opção livre e consciente no seguimento de Cristo.
A partir dessa opção livre e consciente, então, aos cristãos, as orações passam a ser momentos de intimidade, os valores evangélicos passam a ser atitudes concretas e configurações a Cristo. O servir ao próximo passa a ser uma doação do coração. Acontece uma fraternidade. Uma comunhão na participação na comunidade. Na partilha do mesmo Pão da Palavra e da Eucaristia. Os membros da comunidade passam a ser movidos não mais pelos impulsos do eu, mas do “nós”, do sacramento, do canal de graças, ou seja, o sinal que torna o amor de Deus eficaz em cada integrante, no conjunto do “nós”.
Cristo, por sua vez, deu o maior exemplo de doação, de obediência, de entrega e confiança a vontade de Deus. Foi até as últimas consequências por amor, como um cordeirinho que vai ao matador sem abrir a boca, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos e está vivo entre nós. Pois o caminho de todo cristão é a cruz e a vitória é a ressurreição com Cristo.
Jornalista, diretor administrativo da Rádio Vicente Pallotti, gestor da Unilasalle/Fapas Polo Coronel Vivida e pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida-PR
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