Os torcedores têm ajudado os clubes a dar esses flagras. Além de monitorar os atletas pelas redes sociais, eles recebem as denúncias e depois cobram pela punição. Após pressão de uma das torcidas, o Palmeiras rescindiu com Ramires, por exemplo. A organizada também pediu pela saída de Lucas Lima.
O meio-campista foi encontrado por membros da principal torcida organizada do times em um bar na zona oeste de São Paulo há duas semanas. Ele deixou o local sem máscara e foi cobrado pelos torcedores. Sua assessoria de imprensa havia dito que Lucas Lima tinha ido apenas jantar com um amigo, mas fora do horário do Plano São Paulo de combate à doença.
Na semana passada, Patrick de Paula foi visto em um bar no Tatuapé e teve de sair do local protegido por um segurança. Houve confusão. A assessoria do atleta também afirmou que ele “estava em um bar com seus familiares” e que foi embora “pouco antes das 22h”. Já o próprio Patrick, horas depois, gravou um vídeo em que disse que estava com a namorada e amigos no local, que, segundo ele, era um restaurante.
Em Minas, a principal organizada do Atlético-MG encontrou Marrony e Dylan Borrero em uma balada em Belo Horizonte no ano passado. Os dois foram cercados pelos torcedores e criticados pela postura. Na sequência, a torcida criou o “Disque Denúncia – A Festa Acabou”. A mesma iniciativa também foi feita por outras torcidas, como a do Botafogo e Paysandu. Os torcedores também descumprem o isolamento, principalmente quando seu time ganha campeonatos. Mesmo assim, estão entregando para a diretoria quem faz o mesmo do elenco.
Como qualquer tipo de aglomeração está proibida no Brasil por causa dos protocolos da pandemia, todos os atletas pegos podem responder por crime contra a saúde pública. O atacante Gabriel, do Flamengo, fez um acordo com a Justiça de São Paulo e pagou R$ 110 mil em troca da extinção do processo. Em março, ele foi detido dentro de um cassino clandestino com mais 150 pessoas. Tentou driblar a batida policial, mas não conseguiu.
Arboleda, do São Paulo, e David Neres, do Ajax, foram pegos em uma balada clandestina na Zona Leste de São Paulo em março. Uma ação de fiscalização policial fechou o local que funcionava ilegalmente e estava com mais de 100 pessoas. Todos, inclusive os jogadores, foram levados para uma delegacia e prestaram depoimento. Eles foram liberados pela manhã, mas podem ser acusados de crimes contra a saúde pública. A boate pode ser multada em R$ 200 mil.
O São Paulo puniu Arboleda com afastamento e desconto no salário. O clube ainda informou à época que ele seria monitorado com testes frequentes para diagnóstico de covid-19. Detalhe que o zagueiro é reincidente: em outubro do ano passado, ele foi flagrado em uma balada e multado pela diretoria.
O QUE DIZ Q LEI – O advogado João Guimarães, especialista em direito desportivo, informa ao Estadão que os clubes podem usar do inciso II do Artigo 35 da Lei Pelé para aplicar a punição ao jogador. Nele diz que uma das obrigações do jogador é “preservar as condições físicas que lhes permitam participar das competições desportivas”. A punição varia de acordo com o clube.
“Ele até pode ser demitido por justa causa, mas é mais difícil que isso ocorra, pois o clube desvaloriza seu próprio ativo. O que pode acontecer é um jogador que está no clube por empréstimo ser devolvido ao clube de origem”, acrescenta.
Foi o que aconteceu com Sassá, por exemplo. O presidente do Coritiba, Samir Namur, rescindiu o contrato do atacante por justa causa. A decisão aconteceu após fotos do jogador em uma festa terem sido vazada nas redes sociais. O atleta pertence ao Cruzeiro e em janeiro foi emprestado ao Marítimo, de Portugal. Outra que teve o contrato rescindido foi Ramires, do Palmeiras.
“O comportamento de um atleta fora do ambiente de trabalho, ou seja, praticado no seu período de folga, como regra geral não se relaciona com as obrigações laborais que ele tem com o clube. Contudo, sempre podem existir exceções à regra e a situação pela qual toda sociedade passa neste momento é uma delas, já que a todos os cidadãos é cobrado um senso de responsabilidade durante a pandemia, visando evitar a proliferação do vírus”, afirmou o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito desportivo.
A lista de jogadores flagrados em aglomeração é extensa desde o início da pandemia. Além dos citados, Cazares furou a quarentena quando ainda estava no Atlético-MG para jogar bola com os amigos, o volante Felipe Melo deu uma festa de aniversário para vários convidados em sua casa quando as competições estavam paralisadas. Moisés, do Internacional, também deu festa em casa. Em março, quando 14 jogadores do Corinthians tinham testado positivo, Jô e Otero postaram nas redes sociais vídeos em um resort.
Comentários estão fechados.