Dirceu Antonio Ruaro*
Venho falando de vocação porque o mês de agosto é chamado de “mês vocacional” e, então, dediquei os textos anteriores à vocação de ser pai. Hoje quero refletir sobre a questão vocacional no sentido profissional mesmo.
Tenho ouvido de tantas pessoas que se pudessem teriam escolhido outra profissão. Que quando jovens, se sentiam “atraídos” para outros “campos”, que não tiveram as oportunidades necessárias para escolher melhor e que, por isso, sentem, certa frustração na vida pessoal e profissional.
Sabemos que nem sempre conseguimos a realização profissional e pessoal. Sabemos, também, de quantos homens (pais) e mulheres (mães) que se queixam que devido à profissão e, por consequência, ao trabalho, não podem dar atenção que gostariam à família.
Outros, queixam-se da rotina que se torna monótona e cansativa, exaurindo, muitas vezes, além das forças, as esperanças.
Percebemos, então que, invariavelmente, a profissão que escolhemos influencia nossa realização pessoal. E, sinceramente, hoje, está muito mais difícil pensar em profissões e escolhas profissionais se levarmos em conta o desenvolvimento científico e tecnológico.
E, para piorar, sempre temos de plantão os visionários do desastre, do apocalipse, do fim dos tempos. É evidente que há uma evolução. Lógico que com a tecnologia muitas profissões tendem a se transformar e mudarem completamente, até desaparecendo no formato atual, mas o ser humano tem a capacidade de criar e inovar.
O que pode nos preocupar em termos de escolhas, muito mais do que pensar numa profissão que garanta “riquezas” é que os jovens precisam escolher “muito cedo” o querem ser na vida.
Sei que é interessante que nossos jovens se preocupem em “ganhar bem” em poderem se sustentar e sustentar uma família, ótimo que pensem assim, aliás, precisam pensar assim, devem ser incentivados a pensar assim. Afinal devem fazer alguma coisa que lhes dê sustentabilidade. Mas, que além disso lhes traga satisfação pessoal e realização humana.
Penso que a preocupação precisa ser com as habilidades, com as competências, com as aptidões, com os gostos das pessoas. Muita gente ganha bem, mas é frustrada profissionalmente porque não encontra a realização pessoal e isso tem a ver com vocação.
Nossos adolescentes, na escola, precisam ter contato com as mais diversas situações profissionais. Precisam ser expostos a contatos com profissionais sérios de todas as áreas para que os alunos possam observar, aprender, analisar e não escolher um curso (uma profissão futura) de maneira impulsiva, pela status que o título do curso possa dar.
Penso que essa deve ser uma preocupação séria dos pais. Não basta perguntar o que eles querem ser na vida. É interessante instigar as instituições de ensino para que proporcionem aos alunos experiências variadas com todos os segmentos do conhecimento, das mais diversas profissões, das mais variadas atividades, a fim de mostrar as possibilidades de realização pessoal e profissional que a vida proporciona.
Como disse, há profissões que serão substituídas no futuro por sistemas automatizados e até mesmo por robôs, mas poderá haver outras necessidades que a vida humana tem, haverá outras mudanças na população e, certamente outras profissões serão criadas.
Sei que há e não podemos ficar alheios a isso, um discurso todo em torno da tecnologia, e, de fato é preciso estar atento ao desenvolvimento tecnológico e muitíssimas profissões surgirão a partir desse desenvolvimento. Conforme dizem grupos de especialistas, as profissões do futuro estão conectadas ao desenvolvimento de software, jogos e da própria automação residencial e industrial. Esses profissionais precisam estar adaptados e em constante processo de aprendizado, pois a tecnologia e a informática estarão sempre em evolução.
Porém, por mais que a tecnologia avance, ainda será necessário contar com uma equipe qualificada em saúde, e educação, por isso, médicos, enfermeiros e professores ainda serão fundamentais. Além disso, profissionais ligados à infância e ao envelhecimento da população estarão em alta.
Muito mais do que indicar profissões, penso que as escolas precisam fazer algum tipo de ação com as famílias, no sentido de incentivar e realizar algo muito simples, como rodas de conversa nas turmas, nos grupos, para trocar ideias, para conhecer, para desafiar e entender para onde esse mundo vai, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Dirceu Antonio Ruaro
Doutor em Educação pela UNICAMP
Psicopedagogo Clínico-Institucional
Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER
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