Transtornos de saúde mental: como identificar e quais os tratamentos disponíveis

O tema saúde mental tem tomado uma amplitude maior nos últimos anos, principalmente, considerando que alguns dos transtornos ocasionados são responsáveis pela queda na qualidade de vida das pessoas, chegando ao ponto de em alguns casos causar incapacidade. Mas será que mesmo com toda essa exposição ao assunto, você consegue avaliar na prática como está a sua saúde mental?

Para compreender mais sobre o assunto, conversamos com a médica, Daniela Roca que atua há mais de oito anos com o atendimento público e privado de saúde mental, pós-graduada em psiquiatria e atualmente médica do CAPS II da 8ª Regional de Saúde.

Sobre o que é saúde mental, a médica afirma que “não existe uma definição exata sobre o termo, mas podemos afirmar que ela está relacionada a maneira como as pessoas reagem as suas próprias emoções diante de situações cotidianas, exigências pessoais de desempenho e metas, desafios e mudança de vida, decepções e frustrações, entre outras coisas, isso porque cada contexto vivenciado gera sentimentos positivos e negativos e a maneira com que administramos esses sentimentos nos diz se temos ou não uma boa a saúde mental”.

Daniela explica que o transtorno mental é identificado quando ocorre um desequilíbrio das emoções que ocasionam uma série de sintomas característicos, e são eles que vão definir o tipo de patologia. “São muitos os tipos de transtorno na atualidade, podemos citar como principais a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, síndrome da cabana e o transtorno de estresse pós-traumático”, disse.

Para identificar o transtorno mental e o seu tipo, uma avaliação médica e de equipe multidisciplinar é necessária. “Em uma primeira consulta, se investiga a queixa atual, histórico de vida, doenças na família (além de outros componentes) e propõe um plano de tratamento de acordo com as hipóteses diagnósticas. Isso quer dizer, por exemplo, que se uma pessoa apresenta na queixa sintomas depressivos, o tratamento prescrito é um tratamento para depressão, contudo, existem diversos transtornos que têm sintomas parecidos com os sintomas da depressão, no entanto, isso só fica mais claro para o médico conforme o paciente responde ao tratamento”, explicou Daniela.

Sinais de alerta

Dados da  Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmam que em 2019, quase um bilhão de pessoas, incluindo 14% dos adolescentes do mundo, viviam com algum tipo de transtorno mental. “O suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade”.

Esses dados alarmantes ocorrem, em grande parte, devido a negligência das pessoas e a escolha por ignorar os sintomas, normalizando situações constantes de sofrimento, estresse, ansiedade, entre outros. Então, cabe ficar atento aos sinais de alerta que o corpo para saber o momento certo de procurar a ajuda de um especialista:

  • Falta de apetite ou compulsão alimentar;
  • Apatia constante;
  • Tristeza profunda;
  • Irritação excessiva;
  • Tremores, suor e vertigens pertinentes;
  • Inquietação e dificuldade de concentração;
  • Insônia frequente.
  • Dificuldade de realizar tarefas do dia a dia.
Daniela Roca é médica CRM/PR 33474

“Quando  sinais relatados acima estão lhe causando sofrimento e esse sofrimento vem se tornando rotineiro e vem prejudicando o seu dia a dia é a hora de procurar ajuda médica. Não deixe para depois e não considere esses sintomas normais”, alertou a médica.

Com relação às patologias que levam a incapacidade, de acordo com o Ministério da Saúde os transtornos mentais são algumas das principais causas, sendo um em cada seis anos vividos neste contexto e a situação ainda é mais agravante quando considerado a afirmativa que “Pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis”.

Depressão

A depressão é um dos transtornos mentais mais comuns da atualidade e ele interfere muito na qualidade de vida das pessoas, prejudicando, inclusive, a capacidade de trabalhar e se relacionar em sociedade, além de causar distúrbios alimentares, do sono, entre outros. Esta é uma doença ocasionada por uma combinação de fatores, sendo eles genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos.

Com relação ao tratamento, a médica afirma que no caso desta patologia uma abordagem elaborada de forma personalizada é realizada com o intuito de atender às necessidades de cada paciente. “Para isso, uma equipe multidisciplinar deve ser consultada a fim de analisar as especificidades dos sintomas, acompanhar os resultados e modificar as estratégias ao longo do tempo caso seja necessário”.

Segundo a médica, ainda que não sejam universais, alguns tratamentos são mais recomendados por sua eficácia comprovada, como as psicoterapias; os tratamentos medicamentosos e, os menos convencionais, como a estimulação elétrica transcraniana de repetição e eletroconvulsoterapia.

Atualmente, existe uma grande variedade de medicamentos indicados para o tratamento da depressão, que agem de maneiras diferentes no organismo para controlar a doença, sendo que todos devem ser administrados sob orientação médica devido a possíveis efeitos colaterais e interação com outros remédios. “Os antidepressivos são os mais conhecidos e atuam diretamente no sistema nervoso, normalizando os fluxos de neurotransmissores como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina. O tratamento para depressão também pode incluir ansiolíticos, utilizados para diminuir a ansiedade, e antipsicóticos que são indicados em casos de perturbações psicóticas”, explicou.

Ansiedade

Segundo a OMS, o Brasil é o país com mais casos diagnosticados de ansiedade no mundo e a estimativa é que aproximadamente 18,6 milhões de brasileiros, cerca de 9,3% da população, convivem com o transtorno.

A definição da doença segundo o Ministério da Saúde é de que trata-se de “um fenômeno que ora nos beneficia, ora nos prejudica, dependendo das circunstâncias ou intensidade, podendo tornar-se patológica, isto é, prejudicial ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal). A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações”.

Já os transtornos de ansiedade são definidos pela MS como doenças relacionadas ao funcionamento do corpo e às experiências de vida. “Pode-se sentir ansioso a maior parte do tempo sem nenhuma razão aparente; pode-se ter ansiedade às vezes, mas tão intensamente que a pessoa se sentirá imobilizada. A sensação de ansiedade pode ser tão desconfortável que, para evitá-la, as pessoas deixam de fazer coisas simples (como usar o elevador) por causa do desconforto que sentem”.

A médica Daniela Roca alerta para os sintomas mais comuns da doença que são: medo e preocupação excessiva; irritabilidade; formigamento; desânimo; desinteresse; alterações no sono; palpitação; tremores; suor frio; tensão muscular; sensação de pressão ou aperto no peito; falta de ar, respiração ofegante e dificuldade de engolir (bolo na garganta), por espasmo do esofagiano.

“Acredita-se que a prevenção da crise de ansiedade generalizada está diretamente ligada a hábitos saudáveis. Veja algumas práticas que ajudam a prevenir crises de ansiedade: realizar exercícios físicos regulares; evitar o uso de aparelhos eletrônicos em excesso; ter uma boa noite de sono e ter uma boa alimentação saudável”.

Conscientização

A campanha Janeiro Branco é um movimento social dedicado à construção de uma cultura da Saúde Mental na humanidade e a escolha deste mês para mobilizar a sociedade é que o Instituto busca ainda no primeiro mês do ano, “inspirar as pessoas a fazerem reflexões acerca das suas vidas, das suas relações, dos sentidos que possuem, dos passados que viveram e dos objetivos que desejam alcançar no ano que se inicia. Janeiro é uma espécie de portal entre ciclos que se fecham e ciclos que se abrem nas vidas de todos nós”.

A escolha da cor branca representa “folhas ou telas em branco” sobre as quais é possível projetar, escrever ou desenhar novas metas, histórias e anseios de mudança que poderá ser realizado durante todo o ano decorrente.  

Em 2023, o tema do movimento neste ano é “A vida pede equilíbrio! Juntos, a gente consegue levar essa mensagem ao mundo”. E a escolha pelo tema observa, principalmente, o contexto atual pós-pandemia e a necessidade de reconstrução que muitos sentem dever realizar em suas vidas e para isso é preciso “equilíbrio diante de mudanças cada vez mais desafiadoras e aceleradas que exigem novas atitudes, novas habilidades, novos entendimentos e novos comportamentos”.

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