É cada vez mais comum recebermos indivíduos indicados por colegas da área médica, das mais diversas especialidades, para tratamento de processos de dores musculares orofaciais e articulares. Geralmente, adolescentes ou adultos jovens que apresentam algum tipo de má oclusão esquelética e/ou dentária, já avaliados para a possível presença de outras doenças com potencial para causar dor ou disfunção temporomandibular.
No exame clínico deste paciente, o ortodontista encontra uma má oclusão passível de correção e, com isso, inicia-se nesse momento uma tempestade de pensamentos, dúvidas e receios do profissional: “Devo indicar o tratamento da má oclusão para o alívio dos sinais e sintomas de DTM? Há algum tipo de aparelho que deva ser evitado nesses casos específicos? Qual o risco de piora dos sintomas com a terapia ortodôntica?”.
Muitos ortodontistas afirmam haver uma melhora acentuada dos sintomas imediatamente após a instalação do aparelho ortodôntico, o que já seria efeito do tratamento. Tem sido aceito, no entanto, que grande parte dessa melhora seja devida ao ato de se instalar e criar um fato novo dentro da cavidade bucal. Ou seja, a instalação do aparelho e as trocas de fios desencadeiam um processo de cognição onde a nova situação funciona como um alerta para o paciente abandonar os hábitos de apertar os dentes e mascar chiclete, além de aumentar sua aderência ao tratamento, incrementando o seu índice de sucesso. Esse mecanismo é muito semelhante àquele causado inicialmente pela instalação de uma placa oclusal.
O avanço do conceito de Odontologia Baseada em Evidências (OBE), no entanto, trouxe informações importantes acerca dessa controvérsia. Revisões sistemáticas, publicações com o mais alto grau de validade científica, têm demonstrado que não há associações significativas entre a Ortodontia e a DTM.
O fato da presença da DTM na adolescência predizer a doença na vida adulta nos alerta para a necessidade de controle de sintomas de maneira adequada para essa população, como forma de diminuição de risco futuro. A manutenção de sintomas por longos períodos leva, frequentemente, a alterações neuronais que podem se tornar irreversíveis. Deve ficar claro, porém, que esse controle de sintomas deve ser feito de maneira não-invasiva e reversível.
Após analisarmos os fatos acima, fica claro que não se deve sugerir terapia ortodôntica com o intuito de “prevenir” ou tratar sinais e sintomas de DTM. Por outro lado, também fica entendido que a Ortodontia consciente e bem realizada não deve ser vista como a ” vilã” para pacientes que venham a apresentar DTM.
Isso significa que indivíduos submetidos a tratamento ortodôntico não apresentam maior ou menor risco de desenvolver sinais e sintomas de dor e/ou disfunção da ATM ou da musculatura mastigatória.