Tudo o que você precisa saber sobre as vacinas contra a covid-19

Giana Telles

Em 2009, o mundo viveu a primeira pandemia do século 21: a infecção pelo vírus H1N1, uma variante de Influenza. No entanto, após 11 anos, parece que esquecemos todas as lições lá aprendidas, como a importância da higienização das mãos e do distanciamento social. Apesar de recebemos a vacina contra a H1N1 e outras variantes graves da gripe, continuamos a ter casos de infecção, mas com manifestações menos intensas e frequentes. Além disso, todos os anos somos orientados a nos vacinar contra a gripe. O vírus H1N1 foi uma mutação do vírus Influenza, que o nosso corpo já conhecia. As indústrias da vacina para gripe apenas tiveram que adaptá-las para essa variante.

A infecção pelo Sars-COV-2, um coronavírus, possui semelhanças com a gripe quanto ao modo de transmissão e também pelas medidas preventivas de higiene e distanciamento. Mas, diferente da gripe, a maioria dos seres humanos não havia entrado em contato com a família desse vírus, portanto não havia imunidade. As alterações causadas pelo vírus no nosso organismo foram sendo conhecidas conforme ficávamos doentes.

As indústrias farmacêuticas partiram do zero para desenvolver uma vacina. É importante esclarecer que a circulação do vírus Sars-COV-2 permite a sua mutação, e a eficácia das vacinas em uma pessoa contaminada depende da variante que a infectou e do tipo de vacina que ela tomou. Contudo, com acumulo de mutações, a eficácia da vacina tende a diminuir.

Os testes com as vacinas começaram há poucos meses, então precisamos monitorar os vacinados para saber por quanto tempo a vacina trará proteção. Por enquanto, dada a ausência de informação, não há recomendação para reforço. Assim, provavelmente precisaremos fazer reforço vacinal para essa doença de tempos em tempos.

Eficácia e cuidados

O objetivo das vacinas é diminuir a infecção, tanto sintomática, como assintomática, principalmente infecções mais severas.

Como a proteção não é completa, medidas preventivas devem ser continuadas pelos que foram vacinados, tanto de saúde pessoal quanto pública, quando estiverem em ambiente público ou perto de pessoas não vacinadas. Quanto mais o vírus circula, mais ele se modifica, o que pode diminuir a eficácia da vacinas.

As vacinas estão sendo desenvolvidas usando vários métodos diferentes. Algumas delas são feitas com o vírus inativo, outras com proteínas recombinantes ou com vacinas de RNA e DNA. A seleção da vacina que faremos depende da disponibilidade na nossa localidade.

As diferentes vacinas não foram avaliadas frente a frente, portanto a eficácia comparativa não foi estabelecida.

Eficácia é a capacidade de uma vacina em prevenir determinada doença. Quando se diz que a vacina Sinovac/Butatan (Coronavac) tem 50,4% de eficácia geral, isso significa que as pessoas que receberam a vacina têm 50,4% menos chance de desenvolver covid-19. Os percentuais são de 70% para a vacina da Fiocruz/Oxford/AstraZeneca e de 95% para a vacina da Pfizer.

Coronavac – Abaixo estão os resultados dos testes de Fase 3 da vacina do Instituto Butantan/Sinovac (Coronavac). Para entender, é preciso separar as informações:

  • Eficácia global de 50,4%: significa que o risco de ter a doença com sintoma, em qualquer grau, diminui pela metade.
  • Eficácia de 78% contra casos que necessitam de assistência médica: significa que a maioria dos vacinados tem casos leves, que podem ser tratados em casa. Esse dado é extremamente relevante porque reduzirá muito o número de pessoas que precisam de internação e assistência médica, reduzindo a sobrecarga do sistema de saúde.
  • Eficácia de 100% contra casos graves/mortes: ainda precisamos de mais números para comprovar esse achado. Mas se este índice ou valores próximos a ele se confirmarem, será espetacular.

Vacina de Fiocruz/Oxford/AstraZeneca – Para desenvolver este tipo de vacina, os pesquisadores inserem apenas o gene que codifica a produção de proteína S, responsável pela ligação do novo coronavírus com as nossas células, dentro de outro vírus que não causa doença nas pessoas, e este ainda é modificado para que seja incapaz de se replicar dentro do nosso organismo e causar alteração no genoma de nossas células. Esse vírus “carreador” do código genético instrui as nossas células a fabricar a proteína S.

Pfizer e Moderna – Em laboratório, os cientistas desenvolvem o mRNA sintético, que ensinará ao nosso organismo a fabricar a proteína S do SARS-CoV-2, responsável pela ligação do vírus com as nossas células. É essencial deixar claro que a molécula não contém outra informação, não é capaz de realizar qualquer outra tarefa e não penetra no núcleo de nossas células.

Uma vez que a vacina é injetada e capturada pelas células a partir das “instruções” do mRNA são fabricadas as proteínas S do novo coronavírus os processos de defesa são desencadeados.

Imunidade natural

A proteção conferida pela doença, chamada “imunidade natural”, pode variar de pessoa para pessoa. Como estamos lidando com um vírus “novo”, ainda não sabemos qual é o tempo de duração. As evidências disponíveis até o momento sugerem que é incomum contrair a doença pela segunda vez. Quando isso acontece, raramente se dá nos 90 dias após a primeira infecção. Já existe estudo demonstrando que a proteção pode durar pelo menos oito meses em grande parte das pessoas que adoeceram.

Devo fazer sorologia para verificar resposta à vacina covid-19 depois da vacinação? Se o resultado for positivo, estou protegido pela vacina?

A resposta é: NÃO. Os testes sorológicos não são recomendados para esse fim porque não permitem uma conclusão inequívoca sobre a resposta à vacina. Isso ocorre por alguns motivos:

  • Não se sabe o nível de anticorpos necessários (correlato de proteção) para prevenir a covid-19, portanto o resultado positivo não significa necessariamente que a pessoa está protegida.
  • O resultado negativo pode refletir a baixa sensibilidade do exame (falso negativo).Ou seja, pessoas protegidas pela vacina podem testar negativo.
  • As vacinas contra covid-19 têm como alvo a produção de anticorpos contra a proteína S do SARS-CoV-2, responsável pela ligação com nossas células, e a consequente infecção – esses anticorpos é que seriam os marcadores de proteção a serem investigados. Os testes atuais podem verificar tanto o nível desses anticorpos quanto de anticorpos contra outro componente do vírus, a proteína do nucleocapsídeo (N). Como nem sempre essa informação consta no laudo, pode haver equívocos de interpretação.
  • Mesmo que o resultado seja positivo para anticorpos contra a proteína S, pode não ser possível distinguir se foi resposta imunológica pela vacina ou se foi fruto de infecção prévia pelo vírus.

Desafio

Devido à ampla gama de testes sorológicos disponíveis e de diferentes modelos de vacinas, a depender do ensaio utilizado e da história do paciente, a interpretação desses resultados pode ser desafiadora.
Some-se a isso o fato de ainda não haver a comprovação de que, uma vez produzido anticorpos (e em que concentrações), eles serão capazes de conferir proteção/imunidade e/ou que possam interromper a cadeia de transmissão.
Portanto, de acordo com os dados que possuímos atualmente, o FDA não recomenda a utilização dos testes sorológicos para se avaliar o nível de imunidade dos indivíduos, especialmente, mas não exclusivamente, após a vacinação.

Vacinação de idosos

A população idosa pertence ao grupo prioritário, sendo que grande parte já foi vacinado, refletindo sensível diminuição dos casos de infecção e, principalmente, dos casos graves da doença. No entanto, ainda lemos notícias de idosos com covid que foram vacinados. Por isso, vale lembrar que:

  1. O objetivo da vacina é diminuir casos graves, diminuir a circulação do vírus.
  2. As vacinas possuem eficácia diferente.
  3. O Brasil continua com alto índice de contagio, ou seja, o vírus está circulando.
  4. Quanto mais o vírus circular e se modificar, maior a tendência de as vacinas diminuírem a eficácia. Então é importante que quanto antes o maior número de pessoas sejam vacinadas.
  5. Até atingirmos pelo menos 75% da população com proteção, as medidas preventivas de distanciamento, higiene das mãos e máscaras devem ser mantidas.

Giana da Clê Telles é médica geriatra titulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e Conselho Federal de Medicina (CFM) – CRM-PR 12682 / RQE 850

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