A COP29 terminou recentemente, ideias superficiais aqui e ali foram discutidas, todas porém sem grandes avanços reais, o que já era de se esperar, haja vista esse encontro não ser alimentado pelas vozes que mais precisam ser ouvidas, isto é, a humanidade inteira e não alguns grupos que detém o “saber” e a “responsabilidade” como eles alegam; nota-se claramente que nesses encontros não há uma relação clara, não existe uma ligação profunda com as questões mais gritantes que todos estão vivendo, todos nós habitamos o mesmo teto, mas parece que isso não se aplica para todos, o mundo em frangalhos precisa de medidas urgentes, mas todas são adiadas, ou quando muito, medidas paliativas para um determinado momento são adotadas; é o ser humano altamente tecnológico sem saber exatamente o que fazer com os poderes que adquiriu nesse tempo.
Encontrar certas válvulas de escape a curto prazo parece ser a única especialidade humana, uma humanidade perdida em seus próprios labirintos, faz muito tempo que o ser humano entregou sua razão a aparatos que não lhe dão sustentação alguma, ao contrário, colocam ele numa situação perigosa, ou seja, os monstros que ele criou dão mostras que podem vencer a batalha. Tudo se expandiu, por onde andemos notamos que a falta de limites atingiu níveis já insuportáveis, o mundo dito natural dando voz e vez a mundos antes nunca vistos, um projeto de redução do ser humano ao seu estágio mais servil; não é nada difícil detectar a ilusão que nos cerca; por outras palavras, apenas moramos aqui, mas sem nenhuma relação com aquilo que é muito maior que nós, as consequências dessa cegueira ainda vão dar as caras, mais cedo ou mais tarde, nossos sentidos passam por dura prova.
A humanidade dia após dia precisa entender de que ela precisa abrir suas portas, os últimos anos estão impregnados de uma violência sem igual, perdemos em muito a capacidade de dialogar civilizadamente, hoje tudo é afronta, tudo é motivo para se resolver na bala ou pior ainda enviar drones para matar sem nenhum tipo de remorso pessoas inocentes, o mundo pós ser invisível tornou-se apenas o lar de alguns que sem meias palavras decretam o que é certo ou não para a grande maioria, quantos desertos, quantas secas, quantos temporais aqui e ali assolam tudo e todos; nosso cotidiano apenas sendo permeado por aquilo que não agrega, aquilo que não une, apenas separa e divide, quanto barulho para nada, quanta distração e conversa fiada para assuntos banais, o passado segundo alguns nada tem a nos oferecer, nem a ensinar, justamente aí que mora o perigo.
A máquina chamada futuro é sempre colocada à nossa frente, ela nos cega, nos deixa surdos e mudos, tudo é encaminhado para viver o amanhã, o depois e mais ainda o desconhecido, evadimo-nos do presente, do atual, a realidade que nos circunda não nos parece mais tão atrativa como costumava ser, em especial quando éramos crianças, o ser humano forjado sob a égide da técnica se recusa terminantemente em admitir que o futuro sempre escapa das suas mãos, que o futuro que ele imagina, nunca se concretiza do modo que ele esperava, ao contrário esse ser humano se entrega ainda mais a projetos delirantes, que quase sempre esmagam a sua humanidade; o futuro tem muitas caras, algumas inclusive muito sombrias, por isso voltar às origens, ou seja, trazer de volta a prudência, a sensatez, a responsabilidade e outros quesitos, isso se queremos sobreviver.
Bioeticamente, a recém finalizada COP29 reuniu praticamente todos os países, boas intenções foram sim colocadas na mesa, o resultado final foi pífio, muito abaixo do esperado para o momento crucial que enfrentamos, faltou ao encontro autenticidade, vigor e decisão férrea de se mudar o rumo das coisas, não serão as guerras que nos darão segurança, não serão os ataques terroristas que irão nos dar a tão sonhada paz, não serão políticos descompromissados com o Planeta que darão a última palavra, as desconcertantes atividades humanas em benefício próprio em muito tem degradado a sua imagem, surtado o ambiente em que vivemos, manchado de sangue o ambiente natural, que todos os excessos, informações demais, as tantas mensagens mentirosas sejam banidas de nossas mentes, resumindo: Que o homem dominado pela mediocridade, não habite mais em nós.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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