O imunizante é produzido com apoio do governo do Paraná, que investiu R$ 700 mil nas pesquisas e mais R$ 250 mil para bolsas de doutorado. O valor, segundo anunciado em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 26, seria o suficiente para cobrir a fase 2 dos testes pré-clínicos, que serão aplicados nos próximos seis meses. A equipe também trabalha no desenvolvimento de uma versão do imunizante para ser aplicada como spray nasal.
A tecnologia utilizada pelos pesquisadores da UFPR usa um polímero bacteriano chamado polidroxibutirato (PHB), que é recoberto com a proteína do Sars-Cov-2, “induzindo o organismo a uma forte resposta imune”, conforme nota oficial. Por enquanto, o teste já foi concluído em camundongos.
Segundo os cientistas responsáveis pelos testes, a vacina da UFPRapresentou níveis de produção de anticorpos iguais, e às vezes superiores, aos desenvolvidos pelo imunizante da Astrazeneca/Oxford. Os dados, porém, ainda não foram publicados em revista científica, uma vez que a fase pré-clínica ainda está em curso.
A próxima fase de testes inclui três ensaios-chave: a neutralização, para analisar se o imunizante gera anticorpos capazes de bloquear o vírus e animais; a proteção animal, que verifica se eles desenvolvem a doença após serem vacinados e expostos ao vírus; e o toxicológico, que conclui qual o impacto na saúde do animal após receber diferentes concentrações da vacina.
“Ainda não temos a conclusão do tempo de imunização que os vacinados têm após receber as duas doses. Precisamos fazer apostas estratégicas para o nosso futuro”, afirmou Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da UFPR. De acordo com ele, o custo estimado, incluindo materiais e insumos, ficaria entre R$ 5 R$ 10 por cada dose. Para a imunização completa, seriam necessárias duas aplicações.
“Vamos realizar os testes da vacina injetada e também com aplicação nasal, para facilitar os ensaios clínicos. Essa nova plataforma tecnológica que desenvolvemos será um legado não só relacionado ao combate à covid-19, como no desenvolvimento de outras vacinas paranaenses”, ressalta Emanuel Maltempi, professor da UFPR, doutor em Bioquímica e coordenador da pesquisa.
A vacina começou a ser pesquisada pela equipe da UFPR ainda em junho do ano passado. “Estamos investindo para termos uma vacina paranaense e sabemos que é um ivestimento de risco, mas nem por isso se deve deixar de investir em ciência e tecnologia”, afirmou Aldo Nelson Bona, superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná.
Até o momento, duas outras vacinas já foram anunciadas como “100% brasileiras”. A primeira delas foi a Butanvac, anunciada pelo Instituto Butantan e pelo governo João Doria (PSDB). Após o anúncio, porém, o órgão paulista admitiu que a Butanvac tem tecnologia importada de pesquisadores dos Estados Unidos, mas a expectativa é ter produção 100% nacional. A dependência de insumos importados para a fabricação de vacinas é um dos gargalos do plano de imunização do Brasil.
O Butantan disse que os resultados iniciais da pesquisa foram positivos. O órgão pediu na sexta-feira, 23, autorização da Anvisa para iniciar os ensaios clínicos em humanos.
A outra vacina 100% brasileira é a Versamune, que estava sendo desenvolvida pela Farmacore em parceria com a USP de Ribeirão Preto, que também já teve os pedidos de aval para testes em humanos protocolados. Na última semana, porém, o presidente Jair Bolsonaro vetou R$ 200 milhões de verba para esse imunizante. O ministro da Ciência, Marcos Pontes, chamou o corte orçamentário de na área de “estrago” e alertou para impossibilidade de “ligar e desligar” pesquisas.
Procurada pelo Estadão, a Farmacore não comentou o bloqueio de recursos nem informou se haveria impacto no curso da pesquisa. Em março, a empresa disse prever a conclusão dos testes apenas no ano que vem.
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