Fernando Ringel
Conforme a memória vai esquecendo os detalhes, o climão vai passando e as eleições começam a fazer parte da história. Rapidamente, o povo vai voltando a ser a estrela do noticiário, como demonstram os casos da Carreta Furacão, impedida pela justiça de usar fantasias inspiradas no personagem “Fofão”, e da vencedora de prêmio milionário no Paraná, que foi retirar o dinheiro completamente disfarçada. Parece loucura, mas para provar que a moça está certa, neste “mundo cão”, a Polícia Civil do Distrito Federal anunciou a criação da primeira delegacia brasileira de proteção… animal. E neste ritmo, enquanto muita gente perdeu a hora para o fazer o Enem, lá em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, uma criança virou notícia. Como? Procurando imagens com “seres vivos que precisam de água para sobreviver”, o menino recortou o dinheiro dos pais para fazer a tarefa de casa, e na melhor das intenções, destruiu suadas notas de R$2, R$ 10, R$ 50 e R$ 100. É como no discurso feito por Lula, no último dia 10, que falou em deixar os auxílios sociais permanentemente fora de cortes no orçamento. Todos querem o fim da fome, porém, por mais justo que seja o argumento, na matemática, 2 + 2 sempre serão 4 e isso não pode ser ignorado.
A repercussão negativa no mercado financeiro ilustra a pressão sobre o novo governo, que segue em seu caminho tortuoso, iluminado pela experiência e esperança de quem enxerga sempre o “copo meio cheio”. Apesar do otimismo, deve-se lembrar que um governante pode ter posições firmes, desde que elas não fechem portas ao país, até porque sem dinheiro não há como manter os auxílios sociais. Nesta caminhada, valores éticos não são fins, mas bússolas que orientam o mandato, e não excluem o foco no trabalho porque blá, blá, blá não enche a barriga de ninguém. Por fim, há tantos interesses envolvidos que tudo deve ser analisado com cautela: se os políticos têm seus valores, por que não teria também a Bolsa… de Valores? Ok, trata-se da mesma palavra, mas com significados diferentes. Entretanto, cair e subir é da natureza do negócio. A questão a ser verificada é se a queda na Bolsa persiste ao longo dos dias e se isso está acontecendo apenas no Brasil.
Já chegou o disco voador!
Nos anos 1980, Ronald Reagan, então presidente dos Estados Unidos, afirmou que bastaria uma invasão do nosso planeta para que americanos e soviéticos se unissem contra os alienígenas. É assim que se pensa a política com racionalidade, e por acaso, como se dizia no seriado Chaves: “já chegou o disco voador”! Com o fim do mandato atual, muito parlamentar comprometido com Bolsonaro, como Arthur Lira (PP), já negocia com o governo que será empossado. Pode não ser bonito, mas assim é o político de centro e ninguém governa sem eles. Apesar dos pesares, há algo de sábio nisso porque, pelo bem do país, política não pode ser “pacto de sangue” e o diálogo é necessário, pois tudo muda o tempo todo. Para seguir em frente, política e economia não podem ser tratados como água e óleo. Elas se complementam, assim como governo e oposição, eventualmente, se juntam para aprovar medidas e projetos.
Gostando ou não, política é união e esse vai ser o clima para 2023, porque o novo governo está sendo formado com muitas alianças e, ao contemplar as necessidades de todos, o presidente naturalmente terá que ser moderado. No caso, Lula provavelmente passará muito tempo em viagens internacionais, como se fosse um vendedor, enquanto Alckmin toca o país, de olho nas eleições de 2026. E na torcida geral para que a calma não seja passageira, depois do feriado, começa o fim do ano. A Copa tem seu primeiro jogo no domingo e vai até 18 de dezembro. Depois, todo mundo já está pensando em presente, ceia, e aí é como naquela música da cantora Simone: “então é Natal e o que você fez, o ano termina e nasce outra vez”.
Comunicador e professor universitário