Padre Lino Baggio, SAC
Trago na minha lembrança a nova agenda evangelizadora da Igreja que foi proposta, ainda no início do seu pontificado, pelo Papa Francisco: Despertar a cultura do encontro. Ir às periferias humanas e geográficas. Abandonar as “estruturas pesadas e caducas”. Sair da própria comodidade. Mostrar o rosto misericordioso de Deus. Anunciar a Alegria do Evangelho para superar “o pragmatismo cinzento da vida cotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede dentro da normalidade, mas na realidade a fé vai-se deteriorando e degenerando na mesquinhez” (EG,83).
Sendo fiel ao seu Mestre, a Igreja passou a ser convidada a realizar em seu corpo o que Ele fez, pois sendo de condição divina não abusou disso, pelo contrário, esvaziou-se e se fez servidor do povo (Fl 2, 6-11). A autêntica missão supõe movimento semelhante, ou seja, ninguém evangeliza impondo conceitos ou doutrinas, mas anunciando uma pessoa – Jesus Cristo – e sua prática libertadora. Nesta perspectiva de sermos Igreja próxima e em saída, o Papa Francisco conclama o povo de Deus a assumir com ousadia a missão: “Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG, 20).
Tenhamos presente quando o Papa fala de uma Igreja em saída, uma pastoral com chave missionária, que ele está falando do próprio sentido de existir da Igreja. Pois, “uma Igreja que não sai, mais cedo ou mais tarde, adoece na atmosfera viciada de seu confinamento”. Sair é, portanto, a única forma de a Igreja não adoecer e manter-se fiel ao mandato do Senhor: “ide, pois, fazei discípulos todos os povos” (Mt 28, 19). Mas sair de nosso ambiente seguro e confortável é perigoso. Toda saída traz riscos. Quando saímos ficamos expostos, mostramos nossa beleza, nossa força, mas também aparecem nossas fragilidades. Por isso Francisco não tem medo de repetir, “prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo seu fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG, 49).
Quando a Igreja compreende que “as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Gaudium et Spes 1,1), ela não permanece fechada em si mesma. Pois um coração missionário “nunca se fecha, nunca se refugia nas próprias seguranças, nunca opta pela rigidez autodefensiva. Sabe que ele mesmo deve crescer na compreensão do Evangelho e no discernimento das sendas do Espírito, e assim não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada” (EG, 45).
Assim sendo, podemos afirmar que a missão não é um apêndice na vida da Igreja. Pois não somos missionários por uma opção ou desejo próprio, mas por obediência ao mandato do Senhor. Quem fez a experiência do encontro com Jesus não consegue mais viver sem testemunhar essa maravilha aos outros. Ser missionário é, portanto, um imperativo, “ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 8,15) e a nossa obediência radical ao Espírito exige abertura, humildade, sensibilidade para deixar-se interpelar pelo rosto do outro que clama por justiça, cuidado e atenção.
Que este mês de outubro, o Mês das Missões, nos lembre a cada um de nós que é missão de todo o batizado sermos missionários.
Vigário paroquial na Paróquia São Roque – Coronel Vivida