Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, é possível que muitos estranhem o título do meu texto de hoje. Tenho falado sobre questões que impactaram a família e, a sociedade, de modo geral. Inclusive na semana passada, relatei o caso da mãe (minha leitora) preocupada com a questão de ter de ensinar ao filho que, nesse momento, não se pode partilhar brinquedos e materiais na escola.
Penso que, exatamente ao contrário do que cientistas sociais vinham defendendo, ao longo dos últimos anos, considerando, entre outras questões, que a família estava em extinção.
Pois bem, é possível que nos meios acadêmicos, especialmente na área de humanas, haja, ainda, essa “percepção” visto que, mudanças radicais ocorreram nessa “mini sociedade”, considerada por muitos séculos, como “a célula mater” da sociedade humana.
É evidente que a família, no mundo inteiro, tem passado por mudanças extremas.
O que se observa, porém, é que, apesar de todas as mudanças ocorridas, sejam elas socioculturais, éticas ou mesmo religiosas, a reação da família tem sido de “preservação” de sua existência.
Claro que mudanças radicais ocorreram e ainda ocorrerão, porém, a família continua sendo o “porto seguro” para as pessoas. Nesse sentido, a família é percebida como um dos maiores recursos de sustentação da pessoa, do ser humano em sua individualidade e primeira sociedade.
A família, tem sido revelada como de “valor essencial” por crianças, adolescentes e jovens que veem nela o “grande refúgio humano” apesar de todas as incursões de muitas redes de comunicação, no sentido de menosprezá-la e/ou diminuir sua importância.
A pandemia do coronavírus trouxe ao palco e sob luzes intensas, o papel da família com relação, especialmente, as crianças, adolescentes e jovens em idade escolar, como sabemos, pois de uma hora para outra, sem aviso prévio, a escola precisou ser fechada e, fechando a escola, se fechou o segundo local ou instituição de maior convivência humana.
A convivência familiar, compreendida não só como a família nuclear composta por pai, mãe e filhos comporta a convivência dos avós e parentes, sustentada pela diversidade de arranjos familiares formatados em razão da diversidade cultural, social e econômica do nosso país, foi impactada de forma violenta e cruel.
Os redutos familiares, tiveram que se reorganizar, se adaptar e optar pela segurança de todos. Avós, tios, primos e padrinhos, de relacionamentos frequentes, foram isolados e cada família teve de buscar maneiras de sobreviver.
Hoje, com as escolas reabrindo, com as famílias reiniciando o processo de reaproximação, com todos os cuidados sanitários recomendados, percebo que, de fato, a família sai extremamente fortalecida da pandeia.
Os valores humanos mais significativos da vida, da convivência, do relacionamento interpessoal na família, apesar de todos os impactos negativos, ressurgem firmes e fortes, revelando que, felizmente, a pandemia não destruiu os valores familiares, pelo contrário, aproximou pais e filhos.
Penso que é chegado o momento, mantendo a segurança das relações, a retomada da promoção mútua dos laços de solidariedade, afetividade e de ampliação da convivência familiar e social.
Finalmente, pequenos reencontros para comemorar datas familiares já podem ocorrer. No entanto, é preciso manter, ainda os cuidados, tomar a vacina, usar máscara, higienizar as mãos, os locais de convivência e os objetos de contato.
E, sinceramente, esse foi um ganho que a pandemia trouxe. Os cuidados com a vida de todos, merecem o maior respeito e atenção.
Entendo que a família, apesar dos impactos negativos, ressurge como o local mais adequado para a preservação dos laços de afeto que derivam da convivência e que são indispensáveis à formação das crianças e adolescentes, em todas as idades. A experiência de ter de privar a criança ou adolescente da companhia de um familiar foi, talvez uma das consequências mais duras da pandemia.
Todos perdemos muitas coisas que, certamente não voltam mais. Perdemos pessoas, vidas, familiares, é bem verdade e não se pode repô-los. Mas, por outro lado ganhamos a confiança de que é na família que encontramos a segurança de que precisamos.
Penso que como a fênix, da mitologia grega, a família renasce das cinzas, com outros formatos, com outros valores, sim, mas renasce e se transforma e se adapta, mas continua sendo “a célula mater da sociedade”, constituindo-se como o principal suporte socioafetivo da pessoa, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e assessor pedagógico da Faculdade Mater Dei
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