Um não decidido à guerra

            A humanidade vive seus dias de angústia, medo e muita preocupação é claro, afinal quando se olha para o todo logo vamos notar que muitas coisas no cenário internacional não andam bem, ao contrário de alguns, o mundo atual está envolto numa grave e profunda crise civilizacional, paradoxos temporais não são exclusividade do passado, eles estão aí na nossa frente, com seus amplos e complexos desafios. O agora é para todos levarmos a sério, pois ele trata da sobrevivência futura do Planeta e das demais criaturas, incluindo a nossa, por aqui é tímida demais a preocupação para com o amanhã, afinal muitos dirão, quando ele chegar aí então vamos nos preocupar, vamos ver o que fazer, tem sido assim desde sempre, aqui acredita-se demais que nada vai acontecer e torcemos realmente para que isso nunca venha a acontecer, mas não custa nada mudarmos nossos hábitos mentais.

            Uma descoberta impressionante no final da Segunda Guerra Mundial, trouxe para aquele momento uma questão que nunca mais nos abandonou como comunidade humana, algo gigantesco que trouxe uma paz momentânea ilusória e a longo prazo tornou-se o pesadelo para todos, o fantasma dos cogumelos atômicos pairando sobre a cabeça de inocentes e culpados. Hiroshima e Nagasaki se tornaram os primeiros símbolos da destruição em massa, um crime contra a humanidade jamais julgado por quem quer que seja, um crime que foi proibido de ser abordado até mesmo nos Estados Unidos e no próprio Japão por anos a fio; hoje entretanto as coisas mudaram, porém a ameaça atômica volta com força total, especialmente quando há conflitos de interesse gravíssimos em jogo entre a maioria das nações, o nosso mundo passa por uma severa crise humanitária de valores.

            Nunca tivemos em nossos currículos escolares uma matéria chamada educação nuclear e dificilmente veremos ela incorporada numa ou noutra matéria em nossas escolas, enquanto isso não se torna realidade, deveríamos minimamente por conta própria nos preocuparmos com esse tipo de energia, há muito material disponível para ser lido e principalmente o que adveio do seu uso, seja para o bem, seja para o mal. No campo bélico já sabemos o que a energia nuclear fez e é capaz de fazer hoje, caso seu uso seja concretizado por essa ou aquela nação, ou várias ao mesmo tempo, dependendo o que a situação real assim o exigir; usar a energia nuclear para um ou outro lado sempre trará riscos enormes para todos nós, por outras palavras, a energia nuclear sempre será uma faca com vários gumes; essa energia carrega dentro de si o pior, ela traz a intranquilidade.

            É lamentável que quem poderia fazer algo para o fim de todas as guerras, não o faça, isto é, olhe apenas de soslaio para as situações desumanas à sua frente e não diga uma palavra sequer, antes com força mais mortal ainda ordene que seus arsenais atômicos sejam ainda mais reforçados, modernizados e com poder de destruição aumentado ao extremo; nove países hoje possuem armas nucleares de vários tamanhos destruidores inimagináveis, se forem essas armas realmente usadas não sabemos absolutamente nada quais serão as consequências, se trouxermos Hiroshima e Nagasaki para o centro do debate, só poderemos esperar o pior elevado quem sabe à décima potência; Teruko Yahata, uma sobrevivente de Hiroshima é hoje uma voz atuante para que essas aramas nunca mais sejam usadas em lugar nenhum, viaja o mundo alertando todos sobre o perigo.

            Bioeticamente, precisamos sim nos posicionar contra a fabricação e o uso das armas nucleares, em qualquer lugar do Planeta; com raríssima lucidez e coerência, a academia norueguesa concedeu na última sexta-feira, dia 11 de outubro de 2024, o Prêmio Nobel da Paz à organização Nihon Hidanhyo, única no gênero e que se dispõe a alertar o mundo para que se livre de uma vez por todas de toda e qualquer arma atômica, em suas fileiras essa organização conta com sobreviventes das duas explosões nucleares no Japão em 1945, pessoas que sofreram na pele o pior, pessoas que passaram anos sendo discriminadas pelo governo japonês, pessoas que perderam seus entes queridos, seus bens, essa mancha negra nunca desapareceu de suas vidas, muitos ainda carregam traumas, quem sabe esse prêmio em meio a tantas ameaças nos sirva também para algo.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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