Na “elegante” e constante espiral de mudanças num mundo cada mais efervescente, tem ganhado cada vez mais espaço e mídia, o avanço das reformas provocadas por determinado presidente recém eleito, não é segredo para absolutamente ninguém que o seu pacote de reformas seria imposto a qualquer preço, caso ele viesse a ganhar a corrida eleitoral e o que se deu de fato, sem ser nenhuma novidade, apesar de certos círculos extremamente hipnotizados por uma visão míope, acharem que ele não ganharia de maneira alguma. Já no dia de sua posse ele deu demonstrações que não veio para brincar, seguiu seu ritual de promessas ao pé da letra, assinando decretos que iam e estão ainda indo em todas as direções; nosso mundo sempre acostumado com o mais do mesmo não esperava por uma virada brusca na política internacional, uma nova guerra chegou até nós.
Não é mais nenhuma novidade ou alguma fofoca para os minimamente informados que nesse já um quarto de século XXI, o mundo pisa cada vez mais em terrenos perigosos, nada do que vem ocorrendo é acidental, ao acaso, é a nossa falta de percepção em lermos os sinais dos tempos, de acreditarmos facilmente em fórmulas antigas com aparência de novidade e de salvação do mundo, foi-nos dito mais de um milhão de vezes que o mercado tudo conserta, tudo pacifica, que sem ele não seríamos nada nem ninguém, mas verdade seja dita: o mercado nunca foi capaz de nada, a não ser criar sempre mais desordens, mais instabilidades e também a infame guerra, o mercado nunca nos deu paz, muito ao contrário ele nos deu mais insônia, mais desconfiança, mais destruição, onde poucos podem muito e a grande maioria não pode nada, a não ser assistir de camarote, isso quando os temos.
Das guerras, nosso mundo não tem descanso, isso sim não é nenhuma falsidade, falsidade as temos aos montes, quando se trata de encontrar a paz, é nas reuniões de emergência das Nações Unidas ou na União Europeia é onde ela pulula com força total, reuniões intermináveis de cegos, surdos e mudos, para decidirem que o mundo deve continuar tal e qual ele se encontra agora, o mundo no qual estamos mergulhado sofre cada vez mais de múltiplas fraturas e doenças que foram acontecendo, na eterna promessa de sempre mais abundância fomos esquecendo pelo caminho de outras questões essenciais ao nosso desenvolvimento integral, sem as quais cedo ou tarde poderemos pagar um preço impagável; por acharmos que dias de glória estariam próximos, é que agora enfrentamos a incerteza e principalmente o fato de que se nós simples mortais temos valor nessa guerra.
Estamos mergulhados na atual guerra comercial entre ocidente e oriente, quem vai ganhar? Não fazemos a mínima ideia, mas quem vai perder com certeza seremos nós senão mudarmos a nossa maneira de vermos o mundo por outras lentes que não a única e exclusiva do mercado; ele é importante? Sim, sem ele não teríamos como saber o que acontece do outro lado, das pessoas que produzem, das culturas que estão por trás de tanta riqueza. Mas o mercado por si só não basta, ele precisa de algo muito mais profundo para ser satisfatório e que não engula tudo e todos em nome de alguns apenas, o mercado em centenas de ocasiões levou a humanidade ao abandono, ao esquecimento, a rejeição, ele provocou desunião ao pregar que as minorias deveriam ser exterminadas, para darem lugar a um único modelo padrão de vida; mas a vida é múltipla, ela possui muitas vertentes.
Bioeticamente, viver apenas e tão somente para a lógica econômica, mostrou ser um caminho pesado, extremamente nebuloso e ainda mais incerto, nossas esperanças por essa lógica perversa foram desviadas, nosso modo de ser no mundo foi arranhado em demasia, com fardos cada vez mais pesados e desprovidos de sentido, esse sistema de vida sempre busca os culpados do lado de lá, eles que seriam os responsáveis por todas as mazelas do mundo atual, quando isso na verdade está enraizado em cada um de nós por não sabermos discernir as palavras evasivas e ambíguas nos discursos inflamados de certos líderes de hoje. Mais uma vez não sejamos tolos de acreditarmos piamente que a era dos totalitarismos já se foi, eles estão aí bem na nossa frente e muitas vezes carregados de falsas boas intenções; cabe só a nós e não a outras inteligências decidirmos pela vida.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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