Autoridades de Del Rio, no Texas, estimam que mais de 10 mil migrantes se instalaram em um acampamento improvisado nos últimos dias, de onde aguardam resposta sobre seus pedidos de asilo. A maior parte deles é de haitianos vindos da América do Sul, incluindo o Brasil. Mais de 29 mil haitianos chegaram aos EUA nos últimos 11 meses, segundo dados oficiais, incluindo famílias de nacionalidades mistas, com crianças nascidas no Brasil, Chile e outros países vizinhos.
O Estadão noticiou em agosto que a reabertura de algumas fronteiras na América do Sul, após o aumento no ritmo de vacinação contra a covid-19, fez com que imigrantes voltassem a tentar a travessia da América Central em direção aos EUA. O movimento fez com que, pela primeira vez em décadas, o maior fluxo não viesse de mexicanos e centro-americanos.
O prefeito de Del Rio, Bruno Lozano, descreveu as condições sob a ponte como “miseráveis”, afirmando que se assemelhavam a uma favela, com pouco acesso a água potável, comida e apenas alguns banheiros químicos. “São 9 mil pessoas ansiosas e estressadas”, disse Lozano.
Água potável, toalhas e outros itens básicos estão sendo distribuídos no local, de acordo com autoridades de fronteira, mas funcionários que trabalham na região afirmam que as condições sanitárias são precárias. Famílias com crianças pequenas estão recebendo prioridade de remoção da área da ponte.
Del Rio é uma cidade de 35 mil habitantes às margens do Rio Grande, a 240 km de San Antonio. O município, cercado por ranchos, arbustos espinhosos e enormes árvores de algaroba, tornou-se o centro do drama humanitário após virar rota de migrantes, que acreditam ser o caminho mais seguro para a travessia.
Deportações
A pressão cresce também para o governo de Joe Biden, que prometeu rever a política de imigrantes de Donald Trump. No caso específico do Haiti, Biden reduziu os voos de deportação após o assassinato do presidente haitiano, Jovenel Moise, em julho, e do terremoto de magnitude 7,2, em agosto, que matou mais de 2 mil pessoas. Ele também ampliou o status de proteção temporária para haitianos, o que reduz o risco de deportação.
“Vejo pessoas corajosas que, em vez de cair na armadilha do conformismo, optam por encontrar uma vida melhor”, disse Wendy Guillaumetre, de 31 anos, que passou quatro anos no Chile antes de partir com a mulher e a filha de 3 anos para os EUA.
Para muitos, a rota passa pela região de Darién, a densa selva repleta de cobras e rios traiçoeiros que separa a Colômbia do Panamá, cujos caminhos enlameados são usados há muito tempo por contrabandistas. Apenas neste ano, as autoridades panamenhas dizem que o número de pessoas que cruzam a área atingiu níveis recordes, com 70 mil imigrantes se registrando em abrigos do país após fazer o perigoso trajeto.
A maioria das pessoas que cruzam a região de Darién é de haitianos que viviam no Brasil e no Chile e perderam os empregos com a pandemia. Com requisitos de visto quase impossíveis de serem cumpridos e pelo custo dos voos para os EUA, a única alternativa é fazer a jornada a pé.
O perigo, contudo, não vem apenas pela selva. Após chegarem ao Panamá, os imigrantes precisam percorrer quatro países da América Central, incluindo El Salvador e Honduras, conhecidos pela presença de grupos criminosos, até chegarem ao México, onde o trecho final da viagem começa.
Entre janeiro e agosto, cerca de 147 mil migrantes ilegais foram identificados no México – o triplo do que se viu em 2020 -, enquanto um número recorde de 212 mil imigrantes foram detidos somente em julho pelo Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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