Papa Francisco (1.936-2.025), é um daqueles raros seres humanos que surgementre nós, de tempos em tempos, para mudar o rumo da história, mesmo que não estejam cientes disso, rompeu paradigmas, quebrou protocolos, foi onde tantos se recusaram, falou sobre assuntos tidos como tabus dentro da Igreja, foi ao encontro dos descartados pela dita sociedade “moderna”, incluiu em suas mensagens uma defesa incontestável de todas as formas de vida, defendeu o meio ambiente integral, não poupou críticas ferozes contra as diversas guerras que estão sendo travadas e que mancham de vergonha a espécie humana. Francisco, um homem que veio do fim do mundo, como ele mesmo disse no dia da sua eleição, colocou e elevou a figura do papa para um patamar jamais visto, teve seus críticos é verdade, mas aqueles que aprenderam a amá-lo e respeitá-lo, são hoje milhões.
Papa Francisco, o primeiro em toda a história do cristianismo a escrever uma encíclica dedicada totalmente ao meio ambiente, um documento prático, de fácil leitura, mas de uma profundidade sem igual, quem o leu não se decepcionou, quem não o leu ainda, pode fazê-lo desde já, Laudato Si, é uma defesa enérgica da vida em todas as fases, não somos os donos do Planeta, não somos os senhores da vida e da morte de qualquer espécie, não temos o direito de explorar o Planeta a nosso bel prazer; toda a destruição causada pelo ser humano, ao longo de séculos, mostra agora o outro lado da história, uma crise ambiental e climática sem precedentes, a nossa “alta cultura”, preocupada em avançar sempre, deixou de dialogar com tantas formas de vida, a cultura do descartável perdeu o sentido de pertença, da responsabilidade, o ser da técnica tornou-se triste para com a vida.
Papa Francisco, chamou para perto de si, pessoas antes tida como impensáveis em se sentarem ao lado dele para discutirem e tratarem sobre a cultura da vida, Francisco se encontrou com pessoas de todas as religiões, não teve medo de escutar o diferente, mas que pode também contribuir para a paz, Francisco apontou o dedo para aqueles que usam a religião para matar, destruir, escravizar e deixar o mundo inquieto. Para Francisco, todas as religiões têm um mesmo fim, qual seja, a promoção da paz e um encontro profundo com o Criador de todas as coisas, a religião para Francisco não pode dividir o mundo em pedaços, a religião ao invés de fazer o mundo desmoronar, deve antes de tudo ir ao encontro dos mais desfavorecidos, daqueles que foram esquecidos ao longo do caminho; Francisco percebeu como ninguém as inconsistências daqueles que se dizem religiosos.
Papa Francisco, além de outros tantos temas abordados, falou muito sobre a guerra e a economia. Do primeiro ninguém discute que ele foi um promotor incansável da paz, atacou com pontaria certeira os cínicos que pensam ser a guerra a palavra final para a paz, desmascarou a prepotência da indústria das armas, que não mede esforços para lucrar com a morte de inocentes, a guerra é o estágio mais baixo a que chega uma sociedade que diz defender a vida, mas mata sem dó nem piedade. Quanto a economia, essa também recebeu inúmeras ressalvas por parte de Francisco, ou seja, ele se referiu diversas vezes a atual economia, como sendo aquela que mata de modo legalizado tudo e todos, a olhos vistos, a economia atual para Francisco está a favorecer um número muito reduzido de pessoas; o atual modelo econômico é apenas uma miragem, uma utopia totalmente viciada.
Bioeticamente, a figura profética do Papa Francisco não surgiu por acaso em nosso meio, ainda levará muito tempo para entendermos a real dimensão da sua figura, o seu papel, Francisco como sempre acontece entre os papas, estava a muitos anos luz a nossa frente e até mesmo da Igreja atual, numa época em que se dá preferência pelo isolamento, pelo individual e pela força bruta, Francisco com firmeza, coragem e audácia, nos deixou a mensagem de que se quisermos nos salvar, todos vão precisar de todos, neste vida ninguém absolutamente ninguém se salva sozinho, tudo está ligado a tudo, o todo é muito maior do que as partes, nosso Planeta tem espaço para todos, num mundo que quer que não tenhamos esperança em nada, Francisco mostrou que a esperança arma poderosa em nossas vidas, a história depois desse Papa nunca mais será a mesma, confiemos então.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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