Uso da vitamina D no tratamento da queda de cabelo decorrente da covid-19 não tem comprovação científica, alertam dermatologistas

Como já se sabe, a covid-19 prejudica principalmente a respiração, o olfato e o paladar, mas a queda de cabelo pós-infecção é um relato que se tornou comum, sendo uma das principais queixas nos consultórios de dermatologistas atualmente.

No decorrer da pandemia, foi possível identificar eflúvio telógeno agudo pós-covid em cerca de 25% dos pacientes, ou seja, a doença desencadeia uma perda de cabelo mais acentuada em relação ao que é considerado normal.

O dermatologista Otávio Macedo explica que o cabelo e todas as estruturas que estão relacionadas a ele são bem sensíveis a qualquer alteração no organismo. “A queda de cabelo é uma das formas do corpo refletir problemas ou transformações pelas quais vem passando. E o estopim para isso são os mais variados”, diz o médico.

No caso da covid, a queda pode ter relação com dois tipos de estresse: o causado pela situação em si e também devido à estafa imunológica, já que o corpo é muito exigido na função de combate a infecção.

SBD

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), por meio de seu Departamento de Cabelos e Unhas, divulgou um alerta para a população sobre o uso da vitamina D como solução do problema, informação que tem sido divulgada equivocadamente em redes sociais e grupos de discussão. Conforme nota emitida, a eficácia do uso de altas doses de vitamina D no tratamento de queda de cabelo (eflúvio telógeno) decorrente da covid-19 não conta, até o momento, com evidências científicas confiáveis.

“Estudos publicados sobre este tema não podem ser considerados relevantes ou definitivos, pois carecem de metodologia clara e consistente, o que compromete a qualidade dos resultados anunciados”, cita o documento da SBD. Os especialistas lembram ainda que para o enfrentamento deste problema tem sido feito com o uso de substância conhecida como minoxidil, disponível para prescrição com diferentes nomes comerciais.

Publicações

Segundo os dermatologistas da SBD, estudos divulgados em publicações nacionais e internacionais informam que o minoxidil aumenta a densidade de fios na fase de crescimento, além de prolongar a sua duração, possibilitando uma recuperação mais rápida da perda capilar. “Diante desses fatos, entende-se que essa substância pode ser também ferramenta útil nos cuidados oferecidos aos pacientes com eflúvio telógeno pós-covid-19”, destaca a nota.

Finalmente, no alerta, a SBD orienta a população que enfrenta a queda de cabelo no pós-covid que busquem o suporte de profissionais para fazer o tratamento de seu problema. Após a análise das condições clínicas e exame do couro cabeludo, o dermatologista poderá indicar a dose, a via e a duração do tratamento mais adequado para cada caso, lembram os especialistas da Sociedade.

E agora?

O primeiro passo é buscar respaldo médico para avaliar o padrão de queda, já que o tratamento só consegue ser bem indicado se as causas foram investigadas a partir de alguns exames. A tricologia é especialização da medicina que cuida da saúde dos cabelos, e é uma opção que permite não apenas o combate ao problema em si, mas também a outros efeitos secundários provocados pela doença.

Conforme Aliny Regina Gallico, dermatologista e tricologista, a consulta com um tricologista é bem detalhada e vai muito além do tratamento no couro cabeludo. “Precisamos entender qual foi a gravidade da covid-19, qual medicação o paciente utilizou, como está o sono, alimentação e, também, a saúde intestinal, que é muito importante para o cabelo. Esse levantamento completo permite que tracemos todos os pontos que estão ruins naquele momento. Sono ruim ou um quadro depressivo, por exemplo, podem criar uma resistência ao tratamento no cabelo”, afirma a tricologista. “Os pacientes que tiveram Covid já estão com o emocional abalado e notamos que, quando ocorre a queda de cabelo, a autoestima cai ainda mais. Os que iniciam o tratamento apresentam melhora na queda de cabelo e têm um ganho no bem-estar, no sono e na alimentação. Os benefícios são múltiplos porque a qualidade de vida melhora como um todo. O cabelo é um reflexo do que está acontecendo com a saúde”, detalha.

A dermatologista Karine Cade acredita que o acompanhamento dermatológico tem a função de dar respaldo ao paciente, para que este se sinta amparado e acompanhado. “A covid é uma doença que inflama o folículo piloso, somado a isso gera a queda do fio. Assim, cabe ao médico explicar que não há risco de calvície, pois o que está acontecendo é uma queda programada que vai ocorrer de qualquer maneira”.

Entenda a queda de cabelo

A dermatologista Aliny Regina Gallico explica que a covid-19 é uma inflamação e interfere no ciclo capilar, que é composto por quatro fases. A primeira, de crescimento, é a fase anágena. Dura seis anos e cerca de 80% dos fios estão nesta etapa. Depois vem a fase de repouso, que tem duração de duas a três semanas. A terceira, chamada de telógena, é de queda e leva três meses. No último período, o fio já saiu e o óstio folicular está sem folículo (fase quenógena).

Segundo Aliny, diante de inflamação ou doença, o organismo dá início a um recrutamento de células, que são direcionadas para a região do problema que precisa ser reparado. Isso provoca uma carência nos folículos. “O cabelo vai receber menos células, nutrição e vitaminas porque há demanda para outra região mais importante naquele momento. Isso faz com que uma porcentagem dos fios da fase anágena sofra uma antecipação para a fase telógena, que pode ser aguda, e durar semanas, ou crônica, com mais de seis semanas. Como a Covid-19 é uma inflamação intensa, a mudança no ciclo capilar é frequente”, destaca a médica.

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