Imunização terá início após suspensão de aplicação de vacinas da Oxford para este grupo
Aline Vezoli*
Após a suspensão realizada na última terça-feira (11) pelo Ministério da Saúde da vacinação com os imunizantes Oxford/AstraZeneca em gestantes e puérperas, ficou autorizado apenas o uso das vacinas CoronaVac e Pfizer para essas mulheres.
A medida foi anunciada após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orientar a suspensão da vacinação para o grupo, devido ao caso informado na sexta-feira (7) de uma gestante que morreu após ter recebido a vacina Oxford/AstraZeneca, desenvolvidos pela Fiocruz.
No caso de Pato Branco, as últimas remessas recebidas de imunizantes, em sua maioria foram da Oxford, o que levou o programa de vacinação inicialmente projetado, ter alterações.
Nessa quinta-feira (20), a coordenação do Programa Municipal de Imunização, comunicou que a vacinação contra a covid-19 em gestantes e puérperas de 18 a 59 anos com comorbidades prévias ou desenvolvidas durante a gestação é retomada pela Secretaria Municipal de Saúde.
Segundo a coordenadora do Programa Municipal de Imunização, Emanoeli Stein, pelo fato de a validade da vacina ser de 8 horas após ter o frasco aberto e a ação será realizada somente por agendamento. “Uma forma de não aglomerar e atender todas as gestantes e puérperas com comorbidades do município”, reforça.
Para receber a vacina, a gestante ou puérpera deverá realizar o agendamento através do telefone (46) 98421-4088 ou (46) 3902 1266. A aplicação das doses acontecerá na Sala Central de Vacinas, na próxima quarta-feira (26).
Gestantes e puérperas entram nos grupos prioritários
A decisão de incluir gestantes e puérperas nos grupos prioritários de vacinação foi tomada pelo Ministério da Saúde após constatar que, diante do cenário epidemiológico, os benefícios de tomar a vacina superam os riscos que os acometidos pela covid-19 enfrentam.
A prioridade desse grupo foi definida após constatação do aumento na média de mortes semanais de grávidas e mães de recém-nascidos que pegaram o vírus em 2021. Segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19), os números dobraram em relação ao último ano.
A médica ginecologista e obstetra Karine Begnini afirma que todas as vacinas ajudam a população e podem ser consideradas um marco na história, principalmente a vacina contra a covid-19, que está chegando para ajudar a superar a pandemia, porém, quando a questão é em gestantes, “precisa avaliar caso a caso, os riscos e benefícios individualizados para cada uma delas, principalmente para aquelas que já possuem uma comorbidade”.
Casos de covid-19 em gestantes dobraram em 2021 no Paraná
O agravamento da pandemia registrado após o surgimento da variante P.1 também foi sentido no Paraná. Segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19, os casos entre gestantes subiram de 271, número registrado entre o início da pandemia e dezembro de 2020, para 558 casos em abril de 2021, totalizando 287 casos registrados em apenas quatro meses.
O número de óbitos também aumentou consideravelmente. Até o final de 2020 haviam sido registradas 19 mortes pela doença nesse grupo. Agora, o número total é de 50.
No sudoeste do Paraná, os munícipios da Sétima Regional de Saúde registraram 20 casos de covid-19 em gestantes desde o início da pandemia até abril de 2021, dentre eles, quatro evoluíram para óbito. Do total de casos, segundo o OOBr Covid-19, mais da metade foram registrados nos quatro primeiros meses de 2021.
Vacinas
Segundo a obstetra, ainda não há estudos suficientes para comprovar segurança total das vacinas que estão sendo contra o novo coronavírus. No entanto, as mais estudadas para o grupo de gestantes e puérperas até o momento e que não ofereceram riscos são as vacinas com o RNA mensageiro, da Pfizer, que começou a chegar no Brasil nas últimas semanas e da Moderna, que não tem previsão de chegada aqui.
As vacinas da Pfizer e da Moderna usam o RNA mensageiro para assumir a forma da proteína spike, especifica do vírus Sars-CoV-2, que o auxilia a invadir as células humanas. Essa cópia do vírus oferecida pela vacina não é nociva, mas permite desencadear uma reação do sistema imunológico, que cria a defesa do organismo contra o vírus.
“A vacina da Pfizer tem um estudo mais amplo que foi liberado em abril, mostrando que a aplicação do imunizante é segura em gestantes no segundo e terceiro trimestre, porém, no primeiro trimestre 9% das gestantes tiveram aborto, e ainda não conseguem explicar se foi por conta da vacina ou se foi um aborto espontâneo”, afirma a médica, além de comentar que a vacinação realizada nos EUA com esse imunizante está priorizando também o segundo e terceiro trimestre, pois até agora não há indícios de riscos para as mulheres ou para os bebês quando vacinados nesses períodos.
Após o uso da AstraZeneca ser desaconselhado em gestantes e puérperas, Karine conta que a prioridade no momento, segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), é utilizar a Pfizer ou a CoronaVac, que é feita com o vírus inativado e até agora não tem casos de reações adversas graves registradas.
Riscos X benefícios
A chegada da variante P.1, detectada pela primeira vez em Manaus (AM), aumentou os números de casos graves registrados em jovens e adultos, com isso, os riscos de gravidas e puérperas evoluírem para a forma mais grave da covid-19 também se elevou.
A mulher, quando está grávida e no pós-parto já sofre diversas alterações no corpo, mudanças fisiológicas que predispõem a infecções graves e tem a imunidade mais baixa, além desse período oferecer ainda mais complicações quando a gestante já possui outras comorbidades, como diabetes, obesidade, doenças cardíacas ou respiratórias. Por isso, Karine afirma que essas mulheres precisam ter cuidado redobrado para evitar a contaminação pela covid-19. “Esse é um vírus que interfere em vários sistemas da paciente, pode resultar em descolamento de placenta, sangramento, trabalho de parto prematuro, distúrbio de coagulação e tudo isso repercute para a mãe e para o bebê”.
Por oferecer um estado de hipercoabilidade devido à alta taxa de hormônios produzidos pelo corpo, a covid-19 também aumenta muito as chances de trombose em gestante, e para médica, isso precisa ser levado em consideração.
Ela conta que entre suas pacientes, prioriza a vacinação em mulheres que tem risco maior de pegar o vírus, além de avaliar as comorbidades que já possuem, “pois tenho paciente trabalhando na linha de frente, elas já foram vacinadas, outras estão aguardando para tomar a vacina, não tem como fugir, tomar a vacina com certeza oferece menos riscos para essas mulheres do que enfrentar um quadro de covid que pode evoluir para um parto prematuro, ou até mesmo para o óbito da mãe e do bebê”.
A orientação da obstetra é de que cada gestante converse com o médico que a atende para avaliar o caso, “É importante a realização da vacina nesse grupo, pois estando imunizada, a gestante corre o risco de pegar o vírus, mas acaba sendo uma forma leve da doença”.
As gestantes que pegam a covid-19, segundo a médica, são orientadas a permanecer em isolamento domiciliar se o quadro for leve, mas são monitoradas diariamente para detectar a possibilidade de agravamento. “Ficamos de olho porque ela está gravida e o quadro pode se agravar rapidamente devido as mudanças que já estão acontecendo no corpo delas”, conclui Karine.
*Com supervisão de Marcilei Rossi