Ao menos neste primeiro dia, o Vale esteve cercado por grades. Mesmo sem restrições explícitas à entrada, elas criaram uma fronteira entre os moradores em situação de rua e o espaço. A princípio, a ideia é que as grades sejam retiradas quando a operação do novo Vale estiver normalizada. A presença da Guarda Civil Metropolitana no entorno foi bastante ostensiva.
Entre as novidades, o vale ganhou 850 jatos d’água (com água de reuso), 13 quiosques, assentos, novos pontos de iluminação e pista de skate ( para prática de street – modalidade que rendeu a primeira medalha olímpica brasileira em Tóquio).
No primeiro dia de abertura, algumas pessoas foram flagradas sem máscara – inclusive uma funcionária terceirizada. Também faltaram totens com álcool em gel, bebedouros e fiscais para garantir a obediência às normas sanitárias. Para evitar aglomerações, as atividades abertas ao público também serão graduais e ainda com restrições de horário.
Entre as novidades dessa reinauguração está a exposição “Olhares da linha de frente”, com retratos dos profissionais da saúde que combateram à pandemia. Além disso, os grupos teatrais Satyros e Pia Fraus organizam visitas guiadas lúdicas ao Vale.
Mas o que os primeiros visitantes acharam do novo Vale do Anhangabaú? ” Um cimentadão sem expressão. Não entendi o que eles estão pensando aqui”, comentou o aposentado Dante Tridico, 89 anos. Apaixonado pela cidade, Tridico garante que já viu melhores versões do Vale.
Outro olhar crítico foi do bombeiro aposentado Claudio Silvano, 49 anos. ” Achei que falta verde. Falta vida e alegria. Imagino que será um ótimo espaço para eventos grandes, como Copa do Mundo e Shows. Apesar disso, se cuidarem da segurança, penso em trazer a família para um passeio”, falou.
Opiniões mais positivas também apareceram entre os novos usuários. ” Sinto que o espaço será democrático. Espero ver outros espaços no centro restaurados. É importante que lugares como esse sejam melhorados”, disse o enfermeiro Luciano Clemente Siboldi, 42 anos. “Mas espero que olhem também para o que está acontecendo com a população de rua e a miséria ao redor”, completou.
Mas a mais animada era a aposentada Maria Rita Sobreiro, 67 anos. “Foi a melhor coisa que aconteceu. O centro é um grande museu. Adorei o espaço e pretendo frequentar”, disse.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) chegou por volta das 10h para uma vistoria. Em entrevista coletiva, ele comemorou a taxa de vacinados e prometeu acertar questões como a falta de bebedouros e falta de totens com álcool em gel.
A reconstrução do Vale teve início em 2019. O projeto foi desenhado pelo escritório dinamarquês de arquitetura Jan Gehl, contratado ainda durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura. Com prazos que não se cumpriram e reinaugurações adiadas, a administração pública diz ter investido R$ 105,6 milhões na requalificação da área.
As obras do Vale foram finalizadas em outubro do ano passado. Naquela época, a licitação da área foi vencida por uma oferta de R$ 6, 5 milhões do Consórcio Viaduto do Chá, que não entregou os documentos dentro do prazo necessário. Em março deste ano, a administração municipal convocou a Viva Vale, segunda colocada no processo de concessão, para gerir o novo Anhangabaú (pelos próximos 10 anos).
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