A concessão ainda inclui outros ícones do centro histórico paulistano, como a Praça Ramos de Azevedo, um trecho da Avenida São João (entre as ruas Conselheiro Crispiniano e São Bento), as Galerias Formosa (localizada abaixo do Viadudto do Chá) e Prestes Maia (parcialmente) e os baixos dos Viadutos do Chá e Santa Ifigênia. Todos terão gestão, manutenção, preservação e ativação sociocultural de responsabilidade do consórcio Viva o Vale (liderado pela WTorre Entretenimento e a Urbancom) por 10 anos.
Esta segunda-feira também marca o início da concessão, processo que passou por adiamentos após a primeira selecionada ser desclassificada em junho. Na sequência, o novo selecionado foi anunciado, com a assinatura do contrato (avaliado em R$ 55,1 milhões, o que inclui um pagamento de R$ 6,5 milhões à Prefeitura e intervenções obrigatórias) em agosto. O Estadão procurou o consórcio sobre os planos para o local, mas não obteve retorno com mais informações até as 16h15. Uma reunião de representantes da WTorre e da Urbancom estava na agenda da manhã do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Segundo a Prefeitura, os mais de quatro meses para a liberação total do espaço se devem em parte à pandemia da covid-19. “À medida que houve progressiva melhora na situação sanitária, o local foi gradativamente aberto”, justificou em nota.
“Enquanto isso, houve zeladoria das áreas públicas do Vale, com reparos pontuais e limpeza do local. Os equipamentos, como quiosques e banheiros, estavam sem uso e serão gradativamente liberados pela concessionária, de acordo com a programação de atividades e a necessidade de atendimento ao público”, destacou a gestão.
Em novembro, um relatório preliminar do Tribunal de Contas do Município (TCMSP) apontou quatro irregularidades no contrato de manutenção firmado pela Secretaria Municipal de Obras e a SPTuris neste ano (em decorrência no atraso da concessão). Entre elas estão: falta de licitação, cobrança de taxas ao município e emissão de nota fiscal fora do contrato.
Objetivo da Prefeitura é atrair mais público à noite e nos fins de semana
O objetivo do Município é ampliar a presença da população no vale, principalmente à noite e nos fins de semana, inspirando-se no que ocorre aos domingos na Avenida Paulista. O projeto é uma das séries de propostas das últimas gestões municipais para a região central, como o Parque Augusta, a reforma do Largo do Arouche e a recuperação dos calçadões do triângulo histórico.
Desde antes da abertura, os espaços que não estavam isolados por gradis têm atraído praticantes de esporte sobre rodas, como patins e skate. O resultado da obra de remodelação gerou, contudo, opiniões divergentes entre frequentadores, especialistas e população em geral, especialmente pela pavimentação, paisagismo e custo final (cerca de R$ 105 milhões).
O contrato de execução da obra foi assinado em 2017, porém passou por atrasos (o que impactou no custo), prolongando o prazo inicial de dois anos de execução por meio de 14 aditamentos (de natureza diversa, de extensão de datas a suspensão temporária de obra). O projeto anterior do vale era dos reconhecidos arquitetos e urbanistas Rosa Kliass e Jorge Wilheim.
O projeto do Anhangabaú foi idealizado com a consultoria do escritório do arquiteto dinamarquês Jan Gehl e passou por uma série de mudanças (especialmente realizadas pelo escritório Biselli Katchborian) ao longo dos anos. Entre a elaboração da proposta, a realização de audiências públicas, o contrato e a execução, a cidade teve três prefeitos, Fernando Haddad (PT), João Doria (PSDB) e Bruno Covas (PSDB). A inauguração oficial ocorreu, contudo, na gestão Nunes.
Concessão do Vale do Anhangabaú prevê atividades de pequeno a grande porte
A minuta do contrato de concessão determina a realização de um número mínimo de atividades diárias no espaço, voltadas a públicos de menor porte (de 10 a 249 pessoas) e com propostas socioculturais, educativas, esportivas, recreativas e de lazer. Há a determinação de ações de maior público também.
Outras obrigações do consórcio são a disponibilização de um aplicativo para a divulgação da programação (ao menos para dispositivos com sistema iOS e Android) e o monitoramento por câmeras das áreas. Obras também são exigidas, incluindo as reformas das Galerias Prestes Maia e Formada (estimadas em R$ 2,8 milhões).
Entre as fontes de renda permitidas, estão publicidade, locação de áreas (parte das galerias, quiosques etc) e realização de eventos. Em eventos não ligados à Prefeitura, o consórcio terá exclusividade para vendas de produtos no local. A receita bruta anual estimada pela gestão municipal é de R$ 5,7 milhões (majoritariamente da locação de espaços).
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