De onde viemos, e para onde vamos

A transformação estrutural e social de um município passa pelo planejamento, portanto, nada melhor do que conhecer o passado, observar o presente e pensar o futuro

Historicamente, as pessoas ocupavam regiões próximas dos rios para estabelecer moradia, visando os recursos hídricos necessários para viver e, em seguida, os povoados se expandiam para áreas periféricas, que no caso de Pato Branco foram ocupando áreas mais inclinadas e com pouco planejamento técnico.

Com toda a tecnologia, infraestrutura e técnicas apresentadas por profissionais da área, ao longo dos últimos anos, as administrações municipais vêm atuando para sanar os problemas desencadeados pela falta de visão sistêmica de antigamente, quando as pessoas não conseguiam visualizar todos os fatores e impactos.

“Em qualquer cidade, antigamente, a ocupação não tinha uma visão sistêmica para visualizar todos os fatores e impactos, simplesmente faziam loteamento e só depois descobriam que causaria um impacto, uma erosão ou outro problema”, aponta Ney Lyzandro Tabalipa, o engenheiro e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus de Pato Branco.

Ney explica que existe uma necessidade de analisar os impactos positivos e também negativos de expansões, e foram as ferramentas, softwares e imagens de satélites que abriram inúmeras possibilidades e tornaram possível fazer essa análise.

“Hoje temos todas as ferramentas para mostrar a melhor solução ou alternativa com embasamentos técnicos mais reforçados, mostrando como serão os impactos futuros”.

Vista panorâmica de Pato Branco. No centro a antiga igreja de madeira, onde atualmente fica a praça Presidente Vargas – Crédito: Acervo Nelson Colla

01-   Rua Tamoio
02-   Rua Tapir
03-   Rua Silvio Vidal
04-   Rua Iguaçu
05-   Rua Ibiporã
06-   Rua Itabira
07-   Rua Caramuru
08-   Cruzamento das ruas Guarani com Ibiporã
 

Plano Diretor

Revisado a cada 10 anos pela gestão que está à frente do Município, o Plano Diretor é uma lei municipal que orienta o crescimento e o desenvolvimento urbano. O documento é elaborado com a participação da sociedade e é consolidado como um pacto social que define os instrumentos de planejamento para reorganizar os espaços da cidade.

Para orientar o desenvolvimento de Pato Branco, o Município, atualmente, conta com um Masterplan, em paralelo ao Plano Diretor, focado na ampliação de áreas produtivas e industriais nos próximos 50 anos.

Segundo o secretário Municipal de Planejamento Urbano, Gilmar Tumeleiro, “já existem em algumas áreas industriais [estabelecidas], a pretensão de ampliar, porque já foi contemplado no Plano Diretor anterior de áreas menores e agora, a gente tende a aumentar essas áreas”.

As revisões do Plano Diretor também focam na criação de um Sistema Viário, criando conexões para desviar o fluxo do centro, por ser bastante concentrado, enquanto as regiões periféricas não abrangem muito o comércio.

“Queremos ocupar os vazios urbanos que existem nas regiões periféricas, mas atrelado ao Sistema Viário, para que tenha um fluxo em torno do Centro”, explica.

Segundo as projeções do Município, existe a possibilidade de que o número populacional de Pato Branco chegue “a 180 mil, 200 mil, dobrar a população na metade do tempo, porque já tem, até agora, entre 85 e 90 mil habitantes”, comenta o secretário, ao avaliar que o atual plano conta com algumas restrições de loteamento e ampliação do perímetro urbano na região sul do Município devido as nascentes, da parte hídrica.

A pretensão que consta no documento é a ampliação para às zonas Norte, Leste e Oeste, “porém, a gente sabe que no Leste, hoje, foi identificado um declive muito alto do Centro, então a tendência é de promover a ocupação à Oeste, em direção ao Fraron, e Norte, em direção ao Parque Industrial”.

Quando se fala na região do aeroporto, além da ocupação dos vazios urbanos que são áreas agricultáveis, pensa-se no aproveitamento da área para o comércio e prestação de serviços. A região também tem grande potencial logístico. O Município prevê, dessa forma, alta possibilidade de ampliação da pista do aeroporto e, em todo o entorno, uma área de hierarquia viária, porém, esse movimento depende do crescimento de toda a região.

Ligação entre a BR-158 e a PR-280, via contorno Norte é aguarda para um novo processo de transformação do município -Crédito: José Fernando Ogura/AEN

Plano Especial de Urbanização

Na estratégia de desenvolvimento do Município, está a necessidade de conclusão do Contorno Norte. Até então, o Estado executou a primeira parte, ligando a BR-158 (rodovia que liga a Coronel Vivida) à PR-493 (rodovia que liga à Itapejara D’Oeste), no entanto, a segunda etapa, que partirá da PR-493 à PR-280 (próximo à Vitorino), permitirá uma nova integração com o principal corredor do Sudoeste.

“No que diz respeito a criar essa rodovia que tira o tráfego pesado do trecho da BR-158, está dentro do Plano Especial de Urbanização (PEU), nosso projeto especial de urbanização. Esse contorno deve favorecer o comércio e a prestação de serviço. Ao longo da rodovia, a gente vai disponibilizar áreas maiores para construção de áreas de logística, empresas, indústrias e a parte residencial”, aponta, Gilmar.

O PEU também cita projetos de ocupação do solo, onde estabelece que a permeabilidade do solo precisa ser de 100%.

Segundo Gilmar, a Secretaria de Planejamento Urbano mapeou as principais áreas que mais tem a contribuir com o Município, identificando os locais propícios para os corredores verdes.

“Temos um grande volume de vegetação que começa no lago do Gralha Azul e termina na VVL, onde propicia a maior retenção, passando pela bacia do Bonatto. Então, esse corredor corta a preservação de todas as áreas de maior aclive, passando o limite do perímetro urbano”, explica.

Outro potencial corredor verde é em uma área rural, com possibilidade de manter mais de 30 metros ao longo de um córrego, criando grandes áreas permeáveis e microbacias. O Município citou em torno de seis a oito corredores verdes de grande extensão, com o objetivo de preservar a área de vegetação e melhorar a permeabilidade do solo.

Rua Goianazes na década de 1950. No alto a esquerda, os colégios Nossa Senhora das Graças e Professor Agostinho Pereira, a direita, a segunda igreja –
Crédito: Acervo Nelson Colla
Do mesmo ponto, que o pai capturou o desenvolvimento de Pato Branco, a filha Rita e também fotógrafa, registrou a transformação do município –
Crédito: Rita de Cassia Colla de Almeida Rocha

Plano de Mobilidade Urbana

O Município de Pato Branco deve apresentar mais uma carta na manga para o desenvolvimento urbano, com o intuito de sanar problemas de mobilidade, tráfego, deslocamento de pessoas e também o plano de drenagem urbana.

Visto que ao longo dos anos, a população pato-branquense foi castigada com inundações em áreas específicas do Município, a Secretaria pensa em promover galerias subterrâneas conectando pontos para que a água possa passar por essa galeria.

O plano engloba ainda, a deficiência de estacionamento na região central. “Em curto prazo, é complexo dizer como sanar essa deficiência, mas o que estamos prevendo é um pouco da descentralização, ampliar para que o comércio possa ir para outros bairros”, comenta o secretário.

Pensando em longo prazo, Gilmar destaca a possibilidade de que os edifícios, tanto comerciais quanto residenciais, possam oferecer um andar para estacionamento do público. “Se oferecer 50 vagas, ele tira tudo isso da rua”, afirma, ao enfatizar que esse é o caso do Hospital Policlínica que, no novo prédio que está sendo construído ao lado, será ofertado mais de 600 vagas.

Parques Industriais

Pato Branco conta com duas grandes áreas industriais vigentes no Plano Diretor, uma no sentido de Coronel Vivida e outra em seu lado oposto. Um projeto de ampliação vem sendo estudado para essas áreas. “As áreas ficam em locais opostos para não centralizar o local, até porque temos que pensar no deslocamento das pessoas para o trabalho”, comenta.

Década de 1960, quando a Matriz São Pedro Apóstolo estava em construção – Crédito: Acervo Nelson Colla
Do mesmo ponto, de frente da sede da OAB, o principal cartão postal de Pato Branco, se esconde entre os prédios – Crédito: Carina Pelegrini

Ciclovias

Pensando no lazer, promoção de atividades físicas e no uso de bicicletas no lugar de automóveis, a Secretaria de Planejamento Urbano conta com um projeto de ciclovias para ligar o Centro até a UTFPR. Um outro projeto requerido por vereadores para a implantação de uma ciclovia de turismo no interior, também está em andamento.

Shopping

O Pato Branco Shopping foi um grande marco para Pato Branco e toda a Região Sudoeste do Paraná, trazendo novidades e um empreendimento valioso para a população. O shoping já conta com inúmeros loteamentos em seu entorno, obras em andamento e outras concluídas. “A gente tem um acréscimo nessa região de em torno de 10 mil pessoas, então estamos estudando essa área porque nos próximos anos tende a concretizar um espaço de lazer, esportes e caminhada”, explica Gilmar, afirmando que a área tem grande potencial de crescimento.

Equilíbrio

O secretário acredita que para os próximos anos, o crescimento de Pato Branco aconteça de forma equilibrada, com o crescimento das instituições que, consequentemente, devem trazer mais empresas, empregos e necessidade de moradia e lazer.

“Tudo isso deve acontecer com mais equilíbrio, mas a minha visão é que Pato Branco vai se tornar um grande polo produtivo industrial e tecnológico”, conclui.

Praça Presidente Vargas, no cruzamento da avenida Tupi com a rua Iguaçu – Crédito: Acervo João de Paula
Construções da época da foto histórica, persistem ao tempo – Crédito: Eva Marchesi

Estabilização

Segundo o professor da UTFPR, há uma grande expectativa de que Pato Branco venha a crescer de forma contínua, porém, afirma que o crescimento populacional é lento e pode haver uma tendência de redução da população, citando a possibilidade de o número populacional de Pato Branco se estabilizar.

“O planejamento tem que ser feito associado a esse crescimento populacional. Então, às vezes, cria-se uma expectativa de expansão, novos loteamentos, aumento do perímetro urbano, e no futuro não tem pessoas para morar nesses locais”, alerta Ney. 

O professor cita a problemática dos lotes vagos no Município que, em 2010, continha 4 mil lotes vagos. Em 2021, um estudo apontou que o número aumentou 100%, com quase 8 mil lotes vagos. “Tem que ter uma preocupação maior com esses lotes vagos. É uma quantidade muito grande de áreas vagas e precisaria de um incentivo de ocupação ao invés de só expandir o perímetro urbano”, destaca.

A preocupação de Ney se dá por conta do alto custo de infraestrutura que os novos loteamentos trazem para o Município, pois é necessário levar água, luz, esgoto, transporte e manutenção. A questão também impacta no meio ambiente e gera mais poluição.

“Existe uma metodologia da cidade de 15 minutos, onde a ideia é que as pessoas possam fazer a maior parte dos seus compromissos em um intervalo de 15 minutos, seja a pé, de bicicleta. Grandes cidades estão trabalhando essa questão onde organizam essa infraestrutura dos bairros para que essas pessoas não precisem se deslocar em suas atividades diárias”, destaca o professor.

Ney comenta ainda sobre a necessidade de abordar critérios maiores de ocupação na zona Sul da cidade, já que a água da chuva que cai no local se desloca até o centro. “É uma área que deveria ter critérios rigorosos quando pensam em expansão. Essas questões precisam ser bem mapeadas e delimitadas”.

Expansão

Mesmo com algumas ressalvas, o professor afirma que a expansão é importante para a região e que, se o crescimento não ocorrer de forma ordenada, impactará positiva ou negativamente em diversas localidades.

“Estou a quase 30 anos em Pato Branco e a cidade cresceu com qualidade de vida. Porém, acho que ainda tem alguns vícios naturais de qualquer outra cidade”, comenta, ao afirmar que as melhorias poderiam acontecer com mais rapidez se houvesse maior participação da população no planejamento.

Ney, cita ainda, que Pato Branco poderia ter algum órgão responsável pelo planejamento do Município a longo prazo, trabalhando em conjunto com a Prefeitura. “Uma questão de futuro. Se a cidade adotasse algo do tipo, seria bastante interessante ter profissionais trabalhando ao longo do tempo, pois o desenvolvimento oscila, uma hora desenvolve e outra hora fica parado”, conclui.

De acordo com o engenheiro civil e empresário, Maykon Rocha, “toda a cidade ao crescer, tem uma curva de aprendizado”, que nada mais é do que com a implantação de loteamentos, começa a ser observada as necessidades básicas (mercado, escola, entre outros), para dar atenção a população.

Ele lembra que o Município tem como funções principais o saneamento básico, saúde e educação. Destes três pilares, Maykon destaca que dois deles (saúde e educação) se apresentam de forma muito eficiente, no entanto, no quesito saneamento básico, mesmo a Companhia Paranaense de Saneamento Básico (Sanepar) tendo iniciado obras de ampliação e de ligação de rede coletora em 2022, há uma necessidade de ampliação deste serviço.

“Para cidade crescer inteligente e eficiente é necessário o investimento em saneamento básico (cumprindo o que está previsto na legislação) ”, pontua falando ainda em gerar mecanismos de facilitação para as novas construções com sistemas sustentáveis de reaproveitamento de água, sistema fotovoltaico. “Para garantir a qualidade de vida da população, o Município tem que garantir o básico, para depois iniciar um processo de melhoria, que garantirá conforto. ”

Da mesma forma que novos loteamentos são autorizados, o profissional aponta a real importância de pensar a infraestrutura do local, como rede coletora de esgoto, bem como a liberação de empreendimentos, que tornem a região autossustentável, com atrativos de primeira necessidade (padarias, farmácias…), também a importância de implantação de escolas, praças públicas e posto de saúde. “O entorno do shopping nos próximos cinco anos será a nova região comercial da cidade”, avalia, falando que a tendência é de que as ruas próximas ao empreendimento se tornem comerciais.

Avenida Tupi na década de 1940 – Crédito: Acervo Nelson Colla
Avenida Tupi e praça Presidente Vargas em 2022 – Crédito: Carina Pelegrini

Mobilidade

Por outro lado, Maykon pontua a necessidade de um olhar especial ao sistema de mobilidade urbana. Neste quesito, ele acredita na necessidade de um novo dimensionamento do transporte público. Para atender mais efetivamente a população, o apontamento da revisão dos espaçamentos de horários dos coletivos urbanos, deverá ser repensado.

Ainda sobre a mobilidade da população, o profissional comenta sobre as rotatórias, estabelecidas no trânsito de Pato Branco nas últimas décadas e, que em dezembro de 2021, o Município anunciou uma série de intervenções nestes dispositivos, que em alguns pontos foram removidos ou readequados ao longo de 2022.

“Com a expectativa de aumentar o fluxo de pessoas e de veículos, as rotatórias se mantidas, podem gerar mais transtornos do que soluções. Rotatórias são boas em cidades pequenas, com pouco fluxo de veículos”, pondera.

Área central

Para uma maior vida útil da área central de Pato Branco, o engenheiro civil aponta a necessidade de retirada de estruturas administrativas que geram uma grande circulação, como a Prefeitura, da área mais condensada e instalação em novos pontos, que permitam o desenvolvimento ordenado desta localidade, ao mesmo tempo em que a área central passe por um reordenamento.

Maykon questiona a vida útil do terminal urbano de passageiros na área central, da forma que foi estabelecido, levando em conta a necessidade de desafogar esta região, e não criar novos entraves. Contudo, vale lembrar, que o terminal foi projetado e iniciado, seguindo um plano de remoção da Prefeitura da área central, que não se concretizou na sequência.

A cidade estando com o crescimento constante, deve gerar mais renda e isso acaba por contribuir com expansão. “Acredito que nos próximos 30 anos, a cidade tem muito a crescer e a desenvolver”, destaca Maykon.

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