A cepa foi associada ao aumento de 127% de casos graves e de 162% de mortes entre março e abril deste ano na cidade do interior paulista. Estes dados são reforçados pela situação caótica de Manaus no início do ano. Nos meses de janeiro a fevereiro, a P.1 compunha 9,7% das amostras registradas na cidade. Em pouco mais de um mês, ela chegou a 96,4%.
Simultaneamente, essa introdução teve impacto na gravidade dos casos ao longo do tempo, especialmente entre pessoas com menos de 70 anos, grupo no qual houve aumento de 109% nos casos graves. Nos que têm mais de 70 anos, o porcentual foi de 19%.
O estudo foi realizado em conjunto pelo Laboratório de Pesquisas em Virologia da Famerp no Hospital de Base de Rio Preto, pela Unesp, pela USP e pela Secretaria Municipal de Saúde de São José do Rio Preto, além da Fundação Bill & Melinda Gates e das Universidades de Washington e do Texas. O estudo foi divulgado na plataforma medRxiv, mas ainda não passou por revisão.
A variante Gama continua sendo a cepa de maior prevalência em amostras sequenciadas no País. Apesar disso, a variante Delta tem avançado nas últimas semanas, com crescimento expressivo em locais como a cidade do Rio e a Grande São Paulo.
A pesquisa também mostrou que os casos graves e as mortes pela covid-19 foram reduzidos pela vacinação, conforme outros estudos realizados no mundo. O estudo ainda revelou que vacinados transmitem menos o coronavírus, uma vez que o sistema imune combate melhor a infecção e impede que a transmissão ocorra com cargas virais altas.
Segundo o pesquisador Wasim Syed, criador da Liga de Ômicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP, é preciso ter um olhar com cuidado os dados. “Interessante notar que, olhando esses dados, somos levados a pensar que a P.1 atinge, por si mesma, mais jovens do que idosos”, diz Syed. “Mas não é necessariamente verdade. Isso também aconteceu por causa da vacinação (dos idosos), que na época já vinham recebendo doses de Coronavac e Astrazeneca.”
Isso pode se traduzir também na imunidade de grupo – a chamada imunidade de rebanho -, em que vacinados protegem pessoas que não puderam tomar as doses. Syed reforça que são os imunizantes promovem esse efeito, e não o tratamento precoce.
“O interessante do estudo é ver de perto, com dados brasileiros e com cientistas brasileiros, isso tudo acontecendo”, afirma o pesquisador. “É um ótimo estudo para mostrar aos ainda negacionistas que vacinas funcionam e mortes podem ser evitadas com essa ferramenta.”
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