Tainá havia saído da Câmara Municipal e seguia para casa, em um carro blindado, acompanhada por dois assessores e o motorista, por volta das 21h. “Quando estávamos na Mem de Sá, uma pessoa em uma moto começou a nos seguir”, contou a vereadora. “Era uma moto comum, não tinha identificação da PM, apenas um luminoso vermelho, e a pessoa não chegou a dar nenhuma ordem para que parássemos. Mesmo se desse, seria imprudência parar, porque não havia nenhuma identificação.”
Quando o carro estava na Rua Doutor Satamini, na Tijuca (zona norte), na altura da Rua Domício da Gama, segundo a vereadora, três policiais, um em cada moto, se juntaram ao homem que estava na moto não identificada. Mandaram o carro parar. Para isso, interromperam todo o trânsito na rua.
“Havia três homens e uma mulher, que mandaram a gente descer do carro, com as armas apontadas para nós”, relatou. “Fui chamada de vagabunda, e mesmo quando falamos que eu sou vereadora a conduta deles não mudou. Continuaram apontando as armas para nós”, afirmou.
Segundo ela, no começo os policiais aparentemente duvidaram que ela fosse da Câmara Municipal. Vistoriaram o carro e conferiram os documentos de todos, e só no final se convenceram de que se tratava de uma parlamentar.
“Eles ainda reclamaram que o carro não parou quando foi abordado pelo primeiro PM. Ora, ele não deu nenhum sinal para parar, e não estava identificado”, disse a vereadora. “Essa conduta não pode ser normalizada. Ficar com a arma apontada pra gente e ser chamada de vagabunda não tem cabimento.”
Tainá disse que vai registrar uma reclamação por intermédio da Câmara. “Já falei com o (Carlo) Caiado (vereador pelo DEM e presidente da Câmara), e a Câmara vai oficiar à secretaria de Polícia Militar para que tome providências. Esse tipo de abordagem não pode continuar”.
Uma coincidência tornou a abordagem mais assustadora. Aconteceu a apenas 800 metros do local onde a também vereadora Marielle Franco (PSOL) foi morta, em março de 2018.
Negra e criada na Praça Seca, na zona oeste do Rio, palco de constantes confrontos entre milicianos, traficantes e policiais, a vereadora conta que já foi vítima de abordagens truculentas outras vezes. “Mas isso não torna a atitude correta. Precisamos reclamar, toda vez que isso acontecer”, reiterou.
O Estadão pediu esclarecimentos à Polícia Militar. A corporação respondeu com uma pergunta: “A comunicante informou se formalizou algum registro na Ouvidoria ou Corregedoria da corporação?” A reportagem informou não ter conhecimento disso, e a PM não se manifestou mais, até a publicação desta reportagem.
Comentários estão fechados.