Walsh destaca que, à medida que as operações das aéreas forem retomadas, elas enfrentarão a dificuldade de balancear uma nova realidade de fluxo de caixa. No ano passado, 40 companhias quebraram em meio à crise. Em 2019, haviam sido 35. “Foram menos do que você pensaria. O risco de falência existe conforme as operações forem retomadas. Vamos ver mais empresas falindo.”
Leia, a seguir, trechos da entrevista:
Qual a situação atual do setor?
Um pouco melhor do que em 2020. É bom colocar as coisas em contexto. A receita da indústria caiu 6,4% em 2001. Em 2009, caiu 16,5%. Em 2020, a queda foi de 56%. É uma escala completamente diferente. Mas estamos começando a ver algumas indicações positivas, principalmente onde a vacinação progrediu. A principal restrição na demanda hoje não é a pandemia, mas as medidas dos governos. Onde as restrições são relaxadas ou removidas, há uma recuperação imediata.
Alguns países estão com as fronteiras abertas, outros com restrições. Qual o impacto disso?
É muito difícil. Não apenas temos diferenças entre países, mas os países mudam os requisitos rapidamente. Vimos países que relaxaram as restrições e imediatamente as recolocaram. Isso é difícil para as aéreas, que precisam de tempo para organizar cronogramas, trazer pessoas que estavam de licença não remunerada de volta. Temos pedido para os governos basearem as decisões em dados. Estamos na pandemia há 16 meses, e as informações que temos agora são muito melhores do que quando o vírus apareceu. Naquela situação, as restrições eram inevitáveis. Mas, em muitos casos, elas foram colocadas 15 meses atrás e continuam até hoje. Entendemos que algumas restrições são necessárias, enquanto a vacinação não é consistente. Mas, em outros lugares, deveriam ser relaxadas.
Quanto tempo vai levar para as empresas serem financeiramente sustentáveis novamente?
As perdas foram muito severas. Estimamos que as dívidas que as companhias assumiram ao redor do mundo tenham aumentado em US$ 220 bilhões desde o começo da pandemia e que agora estejam em US$ 650 bilhões. Essa dívida está aumentando porque, para muitas companhias, a queima de caixa continua. Estimo que possa chegar a US$ 700 bilhões até o fim do ano. E vamos levar um tempo considerável para reparar isso. Acreditamos que voltaremos aos níveis de tráfego que tivemos em 2019 em 2023 ou 2024.
E aos níveis financeiros?
O foco tem sido o caixa, não o lucro. Porque é o caixa que te mantém vivo. Algumas companhias estão começando a ter caixa positivo, como as dos EUA, onde 66% da indústria é doméstica. No Oriente Médio, que tem apenas 4% de mercado doméstico, é mais difícil. Veremos algumas companhias tendo lucro neste ano, principalmente na América do Norte, mas será muito pequeno. É improvável que voltemos logo ao nível de lucratividade de 2019, que não foi o melhor ano para a indústria, mas foi um bom ano. É provável que leve anos, talvez 2025 ou 2026. O desafio ainda está adiante, não ficou para trás. A razão para isso é que muitas companhias reduziram a queima de caixa durante a pandemia porque não estão voando. Elas não estão tendo gasto com combustível. Conforme as empresas voltarem a voar, esses custos voltam muito rápido. A maioria das aéreas vende suas passagens com uma antecipação grande, mas, por causa da pandemia, pouquíssimas passagens estão sendo vendidas. Temos visto, até mesmo nos mercados que se recuperaram, que o tempo entre a pessoa comprando e voando diminuiu significativamente. Então conseguir o fluxo de caixa adequado será um grande desafio. As empresas terão de ser muito cuidadosas para balancear isso.
Não houve ajuda estatal para as aéreas no Brasil e, apesar de o País não ter se fechado, a maioria dos países fechou as fronteiras para os brasileiros. Como avalia as medidas do governo local e a situação do mercado?
Ter mantido as fronteiras abertas é positivo, mas infelizmente outros países se fecharam para o Brasil. É um grande problema para as companhias baseadas no País. Mas o mercado doméstico tem se recuperado. Estimávamos que, no Brasil, o doméstico em maio estava 40% inferior ao de 2019. Mas o mercado internacional, mais lucrativo, estava 90% abaixo. O governo fez algumas coisas para ajudar, mas o apoio financeiro foi bastante limitado. Vai ser mais difícil para as brasileiras se recuperarem (na comparação com as de países que receberam ajuda financeira).
Das empresas associadas à Iata, quantas faliram até agora?
Menos do que você pensaria. E isso principalmente porque muitas empresas não estão queimando caixas por não estarem voando. O risco de falência ainda existe conforme as operações forem retomadas. Vamos ver mais empresas falindo até o começo do ano que vem. Qualquer empresa que estava em uma posição fraca quando a crise começou está significativamente pior agora.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comentários estão fechados.