Ao ser questionado se o governo poderia ter se articulado melhor, o senador não hesitou na resposta. “Claro que sim”, devolveu ele, de pronto. “Mas talvez a preocupação não seja a de ter CPI do governo ou da oposição. Na CPI você tem de ser juiz, avaliar e responsabilizar quem quer que seja de forma desarmada. Não adianta ter maioria. Para quê? Fazer inquisição? Vamos ver os fatos. Eu estou de sangue doce.”
Jorginho é um dos quatro titulares governistas da CPI. Dos 11 senadores da comissão, sete se intitulam independentes ou de oposição. O governo tentou que o PSD do ministro das Comunicações, Fábio Faria, indicasse dois aliados para a CPI. O partido, porém, escolheu Omar Aziz (AM), que será o presidente da CPI, e Otto Alencar (BA), da chamada “ala independente” da sigla.
Como mostrou o Estadão, o Palácio do Planalto tenta ganhar tempo e adiar ao máximo os trabalhos da CPI após sua instalação, marcada para a próxima terça-feira, 27, com o objetivo de negociar cargos no primeiro escalão e atender à pressão de parlamentares para acomodar suas emendas no Orçamento. A negociação tem sido conduzida atualmente pelo ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos.
Há cinco deputados no comando de ministérios e nenhum senador. No início do ano houve pressão para que Davi Alcolumbre (DEM-AP) ou Nelsinho Trad (PSD-MS) assumissem o Ministério do Desenvolvimento Regional, mas as conversas não prosperaram. Aliados do governo no Senado avaliam que o Planalto desprestigia a Casa. Ainda que as pastas não estejam definidas, há nos partidos a expectativa de que dois senadores sejam escolhidos para vagas na Esplanada dos Ministérios.
Sem emoção
O vice-líder do governo admitiu não estar muito a par de como a CPI da Covid vai funcionar. “Não falei com ninguém. Já escolheram relator, vice-presidente, presidente. Já sabem quem vão chamar para dar depoimento. Não estou muito emocionado, não”, afirmou.
Um acordo entre a maior parte dos integrantes da comissão prevê que Omar Aziz (PSD-AM) seja o presidente; Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o vice, e Renan Calheiros (MDB-AL) atue como relator. O plano de trabalho deverá ser definido na quarta-feira, 28.
Aliados do presidente Jair Bolsonaro ainda fazem pressão nas redes sociais para impedir Renan de assumir esse posto porque, além de ser crítico do governo, ele apoia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas plataformas digitais, bolsonaristas batem na tecla de que o senador não pode integrar a CPI por ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). A CPI vai investigar o destino do dinheiro repassado pelo governo federal a municípios e Estados, entre os quais Alagoas, para o combate à pandemia de covid-19.
O senador Jader Barbalho (MDB-PA) também está em situação semelhante à de Renan. Jader é suplente da CPI e pai do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Jorginho é contra a participação dos dois colegas na comissão: “Quem tem filho governador fica difícil estar (na CPI), sendo juiz. A própria legislação proíbe isso”.
Responsável pela articulação do Planalto com o Congresso, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, disse na terça-feira, 20, que a CPI da Covid não tem sido o foco da sua pasta. “(Estamos) fechando a questão do Orçamento”, respondeu a ministra, quando indagada sobre as críticas. Nesta quinta-feira, 22, último dia do prazo legal, Bolsonaro sancionou o Orçamento deste ano, com alguns vetos, como combinado com o Congresso.
Irritado com o que chamou de “erros” do Palácio do Planalto, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo e integrante da CPI, também criticou a articulação política de Bolsonaro. “O governo errou, deixou correr solto (a CPI). Agora, querem correr atrás do prejuízo. O Palácio não procurou a própria base para conversar”, reclamou Rogério, em entrevista à CNN Brasil, na noite de segunda-feira, 19.
A ministra da Secretaria de Governo disse ao Estadão que conversou com Marcos Rogério para explicar a ausência na articulação da CPI. “Liguei para vários senadores e deputados e deputadas, como faço todo dia. Encontrei o senador Marcos Rogério no plenário”, contou. Flávia garantiu que, com o Orçamento sancionado por Bolsonaro, a secretaria comandada por ela, “assim como todo o governo”, passará a atuar mais na CPI.
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