Vivemos de maneira muito intensa a era cognominada de a “era” dos racismos, isso é inegável, para cada lado que se olhe constatamos cenas chocantes, que nos tiram o equilíbrio mental, esse já tão sobrecarregado com tantos outros tipos de barbáries menores cotidianas; ele é silencioso, como pode ser também explícito, escancarado, sem papas na língua como se diz popularmente. O recrudescimento do racismo em pleno século XXI é sinal de que a nossa sociedade vai mal das pernas em muitos aspectos, é sinal inequívoco que a nossa educação nunca foi levada em conta, nem foi tida pela maioria como algo de primeira necessidade e grandeza, pior é constatar que diante dos holofotes potentes das grandes mídias hoje existentes, berra-se aos quatro ventos que somos sim acolhedores, compreensivos, tolerantes, fingimos acreditar, simulamos que é assim e vamos em frente.
Impossível elencar aqui todos aqueles racismos hoje existentes, de maneira ampla e geral destacamos alguns: em primeiro lugar, temos aquele racismo devido ao outro ser de outra etnia, outra “cor”, isso é sobejamente comprovado em nosso Brasil, não precisamos pegar exemplos de fora, aqui desde 1500, plantou-se essa maldita doença, em outras palavras, de que somente os brancos eram “gente” e os demais nem mesmo alma possuíam. Quantos massacres, quantas mortes, quantas destruições de vidas e famílias, por não se aceitar o outro como ele era, como pensava ou como vivia. Muros e grades foram se criando por toda parte, um fosso descomunal, quase intransponível, só mesmo com muita resistência essas pessoas conseguiram ou estão conseguindo o seu devido reconhecimento e respeito; sem essas pessoas nosso querido país não seria o que é hoje.
Em segundo lugar, destaca-se o racismo religioso, que por sua vez tem muito a ver com o primeiro, já acima nominado, os habitantes originários do nosso Brasil já tinham suas crenças, os seus deuses, viviam pacificamente entre si a sua fé, as suas festas, entre os povos originários não havia necessidade alguma de se provar qual deus era o maior entre eles. Também aqueles que vieram à força da África para cá trouxeram uma riqueza imensa de religiosidade, que se perpetua até hoje, esses também foram e estão sendo muito atacados por acreditarem e terem suas liturgias próprias. Entre os cristãos também há racismos escancarados, muitos se vangloriam que sua igreja e fé são muito melhor do que a do seu vizinho; em nome da fé desde sempre se matou, se escravizou, se prendeu, se torturou; nada mais terrível, nada mais desumano do que usar o nome de Deus para matar.
Num terceiro momento, podemos assim dizer que o racismo político tomou formas e cores bem definidas nos últimos anos em muitas partes do planeta, o que parecia ter ficado para trás com o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), aqueles movimentos sangrentos que macularam a história humana para todo o sempre, ressurgiram com grande força e estão aí bem na nossa frente com toques refinados de violência, fake news e muito mais. Hoje os racistas políticos acreditam piamente que o seu programa político é o melhor para todos, uma crença risível e absurda ao mesmo tempo que não se sustenta, os racistas políticos não defendem os imigrantes, nem as minorias e muito menos aqueles que pensam politicamente de modo diferente os rumos de um país, os novos racistas políticos só olham para as suas prioridades, para as suas “verdades”, obsessão essa que tem um custo alto.
Não menos terrível, é aquilo que comumente se convencionou chamar de racismo ambiental e ecológico, ele afeta milhões de pessoas pelo mundo afora, as consequências já se fazem presente entre nós, muitos projetos de “desenvolvimento” são colocados em prática sem levar em contas os habitantes e o meio ambiente integral, esse tipo de racismo pouco ou nada se interessa pelo futuro da vida, a não ser aquilo que traga lucro no menor espaço de tempo. O racismo ambiental é praticado de cima para baixo e quem está nas últimas posições é quem sofre as maiores influências, ou seja, o lucro é repartido apenas entre alguns, já as catástrofes são repartidas para os milhões de seres humanos e extra-humanos; infelizmente esse é um daqueles temas que não está na lista das prioridades dos líderes mundiais, empresários reunidos em Davos ou ambientalistas e ativistas de plantão.
Bioeticamente, todas as formas de racismo existentes hoje aqui ditas e também aquelas que ficaram de fora, deixam o nosso mundo mais doente, mais inquieto e perigoso, o racismo exclui, deixa de lado, ele dá ao vencedor tudo e ao perdedor a morte, qualquer um de nós em algum momento já foi vítima de algum tipo de racismo, ou seja, por ser dessa ou daquela etnia, dessa ou daquela cor, nas filas dos hospitais, em estacionamentos, pela truculência da polícia; qualquer um de nós pode dar nesse campo um testemunho pessoal. O racismo é um vírus letal quando não tratado na sua raiz, ele espalha doenças variadas na sociedade, algumas de difícil detecção num primeiro momento. Novas formas de racismo vem sendo desenvolvidas em laboratórios, é o que se chama racismo cientifico, por outras vias, fazer sempre mais com sempre menos. O treinamento para ser racista é intenso hoje, há muitos centros espalhados em cada esquina, combatê-los é uma tarefa árdua, pois nem todos estão preparados; estejamos, pois, atentos, vigilantes e informados.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.
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