Flori Antonio Tasca
O contexto familiar é entendido como o espaço primordial de acolhimento e suporte para crianças e adolescentes. Entretanto, nem sempre isso acontece, como nos casos em que esse ambiente é marcado pelo fenômeno da violência. Essa situação é capaz de favorecer episódios de bullying para as crianças ou adolescentes que a vivenciam. Os pesquisadores Luciana Xavier Senra, Lélio Moura Lourenço e Beatriz Oliveira Pereira se debruçaram sobre o tema e publicaram em 2011 o artigo “Características da relação entre violência doméstica e bullying: Revisão sistemática da literatura” na “Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia”.
Entende-se a violência doméstica como toda ação, omissão ou negligência e abuso que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de algum membro da família. Ela pode acontecer tanto em casa como fora dela, por qualquer integrante da família, consanguíneo ou não, que esteja em relação de poder com a vítima. Essas situações geram grave impacto nas crianças e adolescentes que as vivenciam e o reflexo disso muitas vezes é sentido na escola.
Os pesquisadores fizeram um levantamento bibliométrico a fim de verificar o que já existia de trabalhos acadêmicos relacionando a violência doméstica com o bullying. Foram encontrados 45 artigos, dos quais mais de 35% associavam a vítima de violência doméstica ao comportamento de vítima-agressora na escola, isto é, aquela que sofre uma agressão e, para reagir, pratica também o bullying. Em menor número, mas ainda significativo, elas podem se tornar apenas vítimas ou os próprios autores do bullying.
Os artigos encontrados também associam violência doméstica e bullying a danos físicos, psicológicos, comportamentais, sociais, etc. A maior parte dos artigos evidencia justamente os problemas psicológicos desencadeados por essa relação. As vítimas tendem a evitar as situações de violência, tanto na família quanto em casa, e possuem geralmente baixa autoestima, além de medos, insegurança, ansiedade, depressão, etc. Há também impactos físicos, como a presença de movimentos corporais tensos.
De maneira geral, o que os artigos evidenciam é que lares violentos são significativos fatores de risco para o desenvolvimento de comportamentos antissociais e bullying. As crianças envolvidas nesse contexto tendem a ser mais agressivas e até a cometer atos delinquentes na escola, mas também a chance de serem vítimas é maior. Na verdade, não é possível estabelecer um modelo de reações previstas para as crianças que sofrem violência doméstica. Mas parece certo que essas reações se manifestarão na escola.
Os pesquisadores reforçaram a importância da continuidade de pesquisas pertinentes ao assunto, considerando que a infância é uma etapa da vida extremamente importante.
Educador, Filósofo e Jurista. Doutor em Direito das Relações Sociais pela UFPR. Professor e Pesquisador no Instituto Flamma de Educação Corporativa. fa.tasca@tascaadvogados.adv.br