Mais de 60 candidatos a prefeito já se retiraram da disputa em todo o país. Na semana passada, Zudikey Rodríguez, corredora que disputou a Olimpíada de Pequim, candidata à prefeitura de Valle de Bravo, foi sequestrada por várias horas por uma gangue local. Os bandidos ameaçaram matá-la se ela não abandonasse a disputa. Desde então, ela não fez mais campanha.
Até agora, cerca de 150 candidatos receberam proteção da polícia, após sofrer algum tipo de ameaça de morte desde que a campanha começou, no início de abril. De acordo com autoridades mexicanas, a maioria das ameaças vem do crime organizado. Algumas deixam de ser apenas ameaças e acabam nas páginas policiais.
No dia 13, Abel Murrieta, candidato a prefeito de Ciudad Obregón, no Estado de Sonora, distribuía santinhos em uma esquina movimentada quando dois homens se aproximaram e dispararam dez vezes no seu rosto, pescoço e peito. O advogado de 58 anos, ex-promotor estadual, morreu na hora.
Guillermo Valencia, candidato a prefeito de Morelia, capital do Estado de Michoacán, teve mais sorte. No dia 8, ele preferiu assistir a uma luta de boxe pela TV e não estava na van que levava sua equipe de campanha. A emboscada foi em um posto de gasolina. Foram 37 tiros. A secretária e um guarda-costas ficaram feridos.
Cenas de violência se tornaram comuns no México, variações do mesmo tema na corrida eleitoral do dia 6. Mas, mesmo em um país com histórico de brutalidade, a votação da semana que vem está sendo considerada a mais sangrenta da memória recente.
As eleições definirão uma nova Câmara dos Deputados, 15 dos 32 governadores e milhares de prefeitos e vereadores, mais de 20 mil cargos públicos ao todo. No Estado de Guerrero, todos os candidatos do Movimento Cidadão, a prefeito e vereador do município de Izcapuzalco, renunciaram à disputa após ameaças de morte.
Por trás do aumento da violência está a evolução da dinâmica do crime organizado. Nos últimos anos, os cartéis vêm diversificando suas fontes de receita. Além do tráfico de drogas, eles contrabandeiam imigrantes para os EUA, vendem gasolina no mercado negro, sequestram e extorquem comerciantes e produtores rurais.
Em muitos casos, o controle territorial é fundamental, especialmente quando o negócio é extorsão. O domínio é exercido por meio de ameaças e do pagamento de propinas para prefeitos, chefes de polícia, vereadores e promotores. Quem não coopera, morre.
Em muitas cidades estratégicas, principalmente em pontos de fronteira ou passagem de drogas, os cargos de chefia são os mais arriscados, mas também os mais cobiçados, especialmente o comando da polícia local, encarado como uma boa oportunidade para engordar o salário irrisório com o dinheiro do crime.
Violência
Quase 200 grupos criminosos operam no México, segundo estimativa do governo. Apenas alguns poucos, os cartéis mais importantes, são capazes de mover drogas para os EUA, um trabalho que demanda organização, disciplina e poder. Gangues menores, que se dedicam a outros tipos de crime, como extorsão, competem pelo controle de cidades ou de bairros, intimidando ou matando políticos.
“Há cada vez mais grupos menores que se diversificaram para outros crimes e querem ter o controle dos mercados locais”, disse Falko Ernst, analista de segurança do International Crisis Group. “Essa hipercompetição colocou funcionários públicos e candidatos em um perigo maior ainda.”
No México, solucionar um crime é quase um milagre. Em 2019, apenas 0,3% deles terminaram com a promotoria apresentando acusações e levando os acusados a julgamento, de acordo com a agência nacional de estatísticas do país.
Em março, o chefe do Comando Norte dos EUA, general Glen VanHerck, disse que o crime organizado controla um terço do território mexicano. O governo do México contestou a estimativa. O ministro da Segurança, Alfonso Durazo, reconheceu que os cartéis operam em várias partes do México, mas negou que controlem 30% do território.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, prometeu investigar todos os assassinatos de políticos. Autoridades de segurança, no entanto, disseram que precisam de mais tempo para que a estratégia do governo – resumida no lema “abraços, e não balas” – dê resultados.
Criminosos detêm líder
Mario Delgado, líder do Movimento de Regeneração Nacional (Morena), partido do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, levou um susto na sexta-feira. Ele fazia campanha no Estado de Tamaulipas, no norte do México, quando foi detido na estrada por um grupo armado. “Estávamos indo de Matamoros para Reynosa. Fomos parados por um caminhão com armas pesadas”, disse Delgado, em um vídeo transmitido ao vivo enquanto estava detido.
Delgado viajava com a senadora Guadalupe Covarrubias e os deputados Erasmo González e Adriana Lozano de Moreno. Com habilidade, ele aproveitou para dizer que Tamaulipas, na fronteira com os EUA, vive “uma crise de insegurança e de violência” e culpou o governador Francisco García Cabeza de Vaca, do conservador Partido Ação Nacional (PAN), que governou o México de 2000 a 2012.
O presidente do México, Andres Manuel López Obrador assumiu a presidência em 2018 prometendo o fim da guerra às drogas com um discurso cordial e um slogan carinhoso: “abraços, e não balas”. Nos primeiros meses de seu governo, criou a Guarda Nacional, que deveria combater o crime, mas acabou sendo espalhada pelo país à caça de imigrantes a caminho dos EUA.
Os erros do governo de López Obrador ficaram expostos em outubro de 2020, quando homens armados do cartel de Sinaloa tomaram a cidade de Culiacán, forçando a polícia a soltar Ovidio Guzmán, filho do traficante Joaquín “El Chapo” Guzmán, logo após sua prisão. O episódio foi seguido pelo brutal assassinato de três mulheres e seis crianças americanas pertencentes a uma comunidade mórmon no Estado de Sonora, norte do México.
Parte do problema, segundo analistas, está na estratégia de perseguir os chefões dos grandes cartéis, implementada pelos presidentes Felipe Calderón (2006-2012) e Enrique Peña Nieto (2012-2018). O resultado foi o enfraquecimento das grandes organizações criminosas e o surgimentos de grupos menores, que avançaram para ocupar um espaço territorial cada vez mais reduzido e fragmentado. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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