Flori Antonio Tasca
A violência fora da escola parece ser um determinante para o bullying que ocorre dentro dela. Esta é uma conclusão possível a ser tirada de um estudo de Susana Fonseca de Carvalhosa, Luísa Lima e Margarida Gaspar de Matos intitulado “Bullying: a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português”, publicado na revista “Análise Psicológica” em 2002.
As autoras criaram quatro grupos diferentes, conforme a participação de cada um no fenômeno do bullying. Há os que não têm nenhum envolvimento direto, os que são “provocadores”, os que são “vítimas” e os que são as duas coisas, isto é, aquelas vítimas que reagem e também provocam. Cada grupo foi relacionado com indicadores como o consumo de drogas, relação com pais e outros alunos, sintomas físicos e psicológicos, atitude frente à escola, etc. Foram ouvidos quase 7 mil alunos de 191 escolas diferentes.
Desse total, 47% dos entrevistados afirmaram já ter sido vítima de bullying, enquanto 36% deles afirmaram já ter provocado colegas mais novos ou mais fracos. Mais de 57% dos alunos se disseram envolvidos de alguma maneira no bullying. Os resultados mostraram que os provocadores e as vítimas não se diferenciam quanto à saúde mental, relação com os pais, expectativas futuras e número de pessoas que vivem em sua casa.
No entanto, os provocadores têm melhor relação com os outros alunos e mais consumo de drogas, incluindo álcool e cigarro, além de exibir mais comportamentos de violência fora da escola. Também praticam mais exercício físico e tem melhor imagem corporal. Suas atitudes frente à escola são mais negativas do que as das vítimas. Há também o fator da idade, pois os provocadores são mais velhos e estão há mais tempo na escola.
As vítimas provocativas, isto é, as que reagem, também revelaram um número maior de comportamentos de violência fora da escola do que as vítimas. Elas também têm pior relação com os pais e apresentam mais sintomas de depressão e queixas de sintomas físicos e psicológicos. Igualmente, consomem mais drogas do que as vítimas. O curioso é que este grupo também parece mais envolvido em violência fora da escola do que os que são apenas provocadores. Os autores sugeriram que neste grupo é onde se verifica os maiores fatores de risco, o que indica a necessidade de acompanhamento adequado.
O estudo também revelou que as meninas são as que menos relatam ter envolvimento em comportamentos de bullying. Os provocadores costumam ser rapazes e mais velhos, e as vítimas, em oposição, são os mais novos. Determinante para o comportamento de provocação são a violência fora da escola, as queixas físicas e psicológicas e o consumo de drogas, bem como a atitude frente à escola. Mas a violência fora da escola parece ser, igualmente, determinante para o comportamento da vítima. Isso explicaria por que essas pessoas também passam a adotar comportamentos antissociais quando fora da escola.
Como diferenciação, o consumo de cigarro e álcool parece conduzir à provocação, ao passo que os sintomas de depressão e a relação com outros alunos levam à vitimização. Tudo isso revela o mal-estar e uma falta de saúde positiva entre os jovens que estão envolvidos no bullying. Os autores lembram que a escola deve ser um dos principais mobilizadores do combate a essa prática, para que os jovens possam se sentir bem e assim realizar o seu aprendizado. Por fim, afirmam que é pertinente a realização de mais estudos para construir um modelo de comportamento para vítimas e agressores.
Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br