Flori Antonio Tasca
Nem sempre as manifestações de violência escolar são visíveis. Há comportamentos de coerção de um aluno sobre o outro, com o fim de causar-lhe dano emocional ou moral, que podem passar despercebidos para quem não for a vítima. Trata-se de isolar, de não deixar participar, de rechaçar ou ameaçar um colega. E uma das situações que parecem mais propícias para esse tipo de agressão é a hora do recreio, quando os alunos têm a oportunidade de aprender a conviver, resolver problemas e seguir regras criadas por eles.
A fim de identificar se as interações durante as atividades lúdicas ocorridas no recreio em uma escola podem propiciar situações de violência, bem como reconhecer os tipos de violência existentes nessas ocasiões, a pesquisadora Jenny María Artavia Granados empreendeu uma pesquisa de campo. Além de questionários e entrevistas, ela realizou uma observação direta de 20 recreios em uma escola selecionada na Costa Rica. O resultado do trabalho foi publicado em abril de 2013 na revista “Actualidades Investigativas en Educación”, sob o título “Manifestaciones ocultas de violencia, durante el desarrollo del recreo escolar”.
O que a pesquisadora constatou foi que tanto meninos quanto meninas trocam insultos e apelidos durante os recreios. Entre os casos que coletou, ela citou o de dois meninos que disseram a três meninas que caminhavam pelo corredor: “Cheiro de gambá!”. Uma das meninas se voltou e respondeu “Odeio vocês”. Outro menino foi chamado de maricas por estar acompanhado de meninas, em vez de jogar bola com os meninos. E assim muitos outros casos. Os próprios professores e diretores da escola reconheceram a existência de violência verbal na escola, a qual era incrementada durante os recreios.
Pelos questionários, descobriu-se também que um alto número de crianças já havia sido ameaçado em algum momento por seus colegas durante o recreio. Sobre a frequência das ameaças entre colegas no recreio, a maioria respondeu que elas ocorriam “às vezes”. Entretanto, houve diferenças entre os motivos que cada série apontou para que essas ofensas acontecessem. Enquanto os alunos menores falam apenas em apelidos e piadas, aqueles um pouco mais velhos citam questões como dinheiro e até relações amorosas.
Um alto número de crianças afirmou nunca ter recebido intimidações e também foi a maioria que disse não haver manifestações de exclusão ou isolamento no recreio. Mas esses mesmos estudantes evidenciaram, em outro ponto do questionário, que havia, de fato, isolamento no recreio, tanto que apontaram motivos para que ele acontecesse. As crianças demonstraram que havia exclusão por características físicas, gênero, condição social e raça, além de situações educativas particulares, como um aluno com Asperger (condição semelhante ao autismo).
Por outro lado, os alunos indicaram que havia companheiros na sala que estavam atentos e prontos a defender os outros de abusos. Foram apontadas causas bem variadas para esse comportamento, como gênero, tamanho e idade dos companheiros, nexos de amizade, fraqueza ou por problemas de diferentes tipos de violência. Essas situações evidenciam a existência de manifestações da violência tida como implícita ou oculta.
Trata-se, portanto, de um fenômeno que merece a maior atenção por parte da escola.
Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br