Alguns humanos gostam de denunciar tudo aquilo que aparentemente, segundo suas visões curtas permitem, julgam estarem lhes causando desconforto, nojo ou até mesmo aversão, acreditam que situações envolvendo “seres menores” são um pesadelo para si e para a imagem lá fora, que não pega bem acolher esse ou aquele em situação de vulnerabilidade, que eles próprios são culpados pela sua sina, seu destino. Infelizmente pessoas com pouca ou nenhuma sensibilidade, alheias a tudo o que acontece, acreditam estarem prestando um enorme favor à sociedade, quando na verdade estão mascarando as suas próprias fraquezas, com frequência usam bodes expiatórios para a sua frustração política, social, existencial, não suportam verem alguns devotados para causas nobres, são incapazes de darem as mãos para que o outro se levante; apenas gostam de atirar pedras.
Nos últimos dias temos visto com perplexidade, um ataque direto à pessoa do Padre Júlio Lancellotti, figura conhecida no Brasil todo por estar ao lado dos moradores de rua, que fervilham na cidade que nunca para, a cidade que nunca dorme, chamada São Paulo, Padre Júlio Lancellotti atua a décadas acolhendo descartados, os que foram expulsos pelo sistema por não produzirem adequadamente, por não darem lucro suficiente, por não terem se preparado de modo digno para a virada do século, Padre Júlio Lancellotti, faz aquilo que a maioria esmagadora da sociedade não faz, ou quando faz é por puro drama de consciência ou simplesmente para lavar a alma, sabemos por inúmeras fontes que Padre Júlio Lancellotti captou como poucos na história a mensagem de Jesus, seguiu o rastro dos anônimos, foi e vai ao encontro deles, estende a mão aos mortos vivos, os novos zumbis.
O tema que Padre Júlio Lancellotti assumiu para a sua vida e enfrenta, não é novo e muito menos simples de ser abordado, como ele próprio disse anos atrás, “as causas não são fáceis de serem conhecidas e não há uma única causa, cada pessoa é um mistério que precisamos conhecer, só vamos conhecer uma pessoa quando convivermos com ela. Se as pessoas não convivem com o morador de rua, não é possível saber a causa que o levou a morar na rua; de todo modo, não é a causa sabida que imediatamente muda a situação, ao conhecer as pessoas, percebemos que elas passaram a morar na rua porque tiveram perdas sucessivas, frustrações, desilusões muito fortes, situações econômicas difíceis, e até problemas de saúde mental, ou seja, uma série de situações que desumaniza a vida e a vida fica tão desumanizada que as pessoas acabam abandonadas”, isso dá o que pensar.
Estamos assim sendo treinados para deixar os perdedores à deriva, à sua própria sorte, estamos sendo coagidos para sermos os primeiros em tudo, sermos os melhores em tudo, ganharmos tudo sozinhos por nossa própria conta e força, o mundo de hoje olha com orgulho quem está no topo da pirâmide, mas vira as costas sobre o como esta pessoa chegou lá em cima, a sociedade só valoriza situações onde as pessoas ostentam suas posses, suas viagens; a era do vazio existencial nos atinge em cheio com suas promessas, suas conquistas duvidosas, perdemos Aristóteles de vista faz séculos, ele que preconizava o pensar como a nossa maior arma contra a mediocridade implacável. Nosso mundo funciona nos últimos tempos ao contrário, isto é, criminaliza-se a caridade, amaldiçoam-se as virtudes, anatematiza-se o bem, bem como todos aqueles que o praticam de modo digno.
Bioeticamente, a figura ímpar de Padre Júlio Lancellotti, é um sinal de contradição e também de esperança, por isso incomoda tanto, por isso que quanto mais ele é atacado, mais vemos ele se superar, crescer em idade e em sabedoria, assim como o Seu Mestre, fez um dia; quem minimamente leu todo o Novo Testamento, vai perceber com clareza que o que Padre Júlio Lancelloti enfrenta hoje, Jesus já enfrentou as mesmas situações há mais de dois mil anos atrás, de lá para cá mudou muito pouco, calúnias, perseguições, fake news, armações de toda espécie, são uma constante nos dias atuais, especialmente quando são dirigidas a pessoas que precisam ter suas reputações destruídas a qualquer custo; nosso querido Brasil precisa crescer muito ainda, deixar de lado muitas bobagens, entre as quais aquela que tenta criminalizar a qualquer preço, a caridade e a compaixão.
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