Visão de professores sobre bullying é fragmentada

Flori Antonio Tasca

Às vezes, os professores até possuem algum conhecimento a respeito do bullying e seus efeitos, mas a sua compreensão é fragmentada, isto é, abrange apenas alguns aspectos do fenômeno, de maneira que a própria intervenção deles para resolver o problema pode ficar prejudicada. Isso foi observado entre os professores da sexta série de uma escola em Uberaba. O estudo “Bullying na sala de aula: percepção e intervenção de professores”, de Jorge Luiz da Silva, Wanderlei Abadio de Oliveira, Marina Rezende Bazon e Sálua Cecílio, avaliou as percepções de 10 professores a respeito do bullying. Os resultados foram publicados em 2013 na revista “Arquivos Brasileiros de Psicologia”.

De modo geral, os professores demonstraram conhecer as principais formas de bullying, em termos da natureza das agressões (física, verbal e psicológica). Eles citaram brigas, ridicularizações, insultos, críticas, ameaças, ofensas e apelidos, sugerindo ainda que a violência verbal e a física podem ocorrer juntas ou uma pode ser consequência da outra.

Como conceito, os professores entenderam “bullying” como os comportamentos de um ou mais sujeitos que tenham o objetivo de constranger ou prejudicar algum colega. As agressões causam danos à vítima, que geralmente não tem condições de se defender por conta própria. Um professor lembrou que as agressões podem ser públicas ou não. Os professores não mencionaram o caráter intencional das agressões, a falta de motivação evidente e o desequilíbrio de poder entre vítimas e agressores, que fazem parte também das características que os estudiosos geralmente atribuem à prática do bullying.

Também não houve menção às consequências negativas que o fenômeno pode trazer para o próprio agressor e para as testemunhas das agressões. Observou-se até uma certa “idealização” da vítima, tratada como totalmente indefesa e incapaz de iniciar situações favoráveis à agressão, o que não confere exatamente com as pesquisas já realizadas.

Em relação à intervenção feita por eles, de maneira geral os professores disseram que promovem a discussão e a problematização dos comportamentos de agressão, de modo a conscientizar os alunos sobre as consequências negativas da violência. Alguns ainda sugerem a presença dos pais, inserindo a família no processo de intervenção. Mas eles também admitiram que nem sempre conseguem diferenciar uma agressão de uma mera brincadeira consentida entre os alunos. Isso pode fazer com que se omitam e deixem passar uma situação de bullying. Também há aqueles que se omitem por entenderem que, quando interviram em outra oportunidade, não conseguiram o resultado desejado.

Os pesquisadores apontaram ainda outros comportamentos tidos como inadequados na hora de lidar com o bullying, como transferir a responsabilidade, seja passando para a diretoria ou outra instância, e responsabilizar a família do aluno por uma situação que não soube controlar. Como lembrado pelos pesquisadores, uma intervenção precoce do professor, assim que perceba o início das ofensas verbais, muitas vezes já pode servir para romper o ciclo de intimidação e retaliação iniciado nas interações dos alunos.

Por outro lado, menosprezar a gravidade da situação pode ampliar os efeitos nocivos da agressão sobre a vítima. O engajamento do professor no combate ao bullying foi visto como fundamental pelos pesquisadores, mas para isso é preciso uma compreensão mais aprofundada das peculiaridades desse fenômeno. Simplesmente “proibir a violência” não é suficiente, e pode até contribuir para mascarar uma realidade, pois o agressor pode procurar então formas mais sutis, mas igualmente prejudiciais, de violência.

Entretanto, os pesquisadores reconheceram as dificuldades passadas pelos professores. Eles estão sob pressão considerável, em razão das exigências para manter o ensino dos conteúdos em dia, e muitas vezes a indisciplina e as agressões são fonte de estresse para eles também. Há problemas como a falta de articulação, suporte técnico e infraestrutura da escola, mas, na visão dos autores, isso não implica em isenção da responsabilidade de serem desenvolvidas atuações mais consistentes e apropriadas para o problema.

Mesmo que os professores entrevistados considerem que suas ações são positivas, elas são realizadas de forma individualizada e pontual, sem uma integração efetiva entre os profissionais da escola, e nem da escola com a família. A pesquisa ressalvou, contudo, que esses resultados não podem ser generalizados para outros grupos e que há a necessidade de outras investigações, diante da complexidade do tema.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná e fa.tasca@tascaadvogados.adv.br

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