Vitória nacionalista dá força para novo referendo escocês

O Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês) deve ampliar sua bancada no Parlamento da Escócia, segundo os primeiros resultados da eleição de quinta-feira, 6. Se não eleger a maioria dos 129 parlamentares, o SNP deve ficar bem próximo disso. Como a principal bandeira dos nacionalistas é realizar um novo referendo sobre a independência, o resultado das urnas deixa os escoceses mais próximos de uma nova consulta popular.

O SNP pretende convocar um novo referendo até 2023, mas o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, é contra a ideia. No entanto, analistas acreditam que uma vitória esmagadora dos nacionalistas aumentaria a pressão para que Londres concorde com uma nova votação.

Ontem, com a totalização dos votos de 48 distritos, o SNP havia feito 39 deputados – mais de 80% das vagas. A apuração deve ser concluída hoje. Mesmo que fique abaixo das 65 cadeiras, os nacionalistas poderiam negociar o apoio do Partido Verde, pró-independência, que obteve cinco cadeiras na última eleição, em 2016, para buscar um segundo referendo.

A primeira-ministra da Escócia e líder do SNP, Nicola Sturgeon, celebrou ontem o resultado das urnas, mas disse não se importar em obter a maioria. “Seria bom (ter a maioria), mas nunca considerei isso garantido. Estou extremamente feliz e confiante de que estamos no caminho certo para que o SNP consiga a quarta vitória consecutiva nas eleições da Escócia”, disse Sturgeon, que foi reeleita com uma maioria confortável.

Em Londres, o premiê britânico foi questionado sobre o que significaria uma vitória do SNP. “Não acho que as pessoas estejam dispostas a entrar em novas disputas constitucionais agora”, disse Johnson, lembrando que a discussão sobre um referendo, no momento em que o país enfrenta uma pandemia, é “inoportuna”.

O rompimento da união de 314 anos com a Inglaterra divide os escoceses. No entanto, o Brexit acabou azedando a relação entre os dois lados da fronteira e polarizando as discussões – a saída do Reino Unido da União Europeia foi rejeitada por quase dois terços dos eleitores da Escócia.

Mudança

O movimento pela independência é reforçado pela boa avaliação da resposta do governo escocês à pandemia e por uma grande antipatia pelo trabalho do conservador Johnson em Londres. Em 2014, o referendo de independência terminou com a vitória da permanência da Escócia no Reino Unido (55% a 45%). Uma eventual separação da Escócia seria o maior choque político para o Reino Unido desde a independência irlandesa, em 1922.

Apesar do avanço do nacionalismo escocês, Johnson teve motivos para comemorar os resultados das urnas na Inglaterra. Seu partido ganhou espaço na disputa contra a oposição trabalhista, com destaque para a cadeira obtida em Hartlepool, norte do país, que os conservadores não venciam desde 1974.

O segrego de Johnson foi vender a imagem de um partido comprometido com a mudança, apesar de governar o Reino Unido há 11 anos. Desde o Brexit, os conservadores vêm avançando sobre redutos trabalhistas, ganhando apoio da classe operária, mais identificada com a política comercial protecionista do premiê.

“O que aconteceu é que eles (eleitores) veem que fizemos o Brexit”, disse Johnson, durante uma visita a Hartlepool. “O que as pessoas querem que façamos agora é continuar a entregar o que prometemos. A prioridade é dar continuidade à vacinação, garantindo que passemos dela para a criação de empregos.”

Na eleição de 2019, o Partido Conservador já havia feito grandes estragos na chamada “parede vermelha” do Partido Trabalhista no norte da Inglaterra – na ocasião, analistas disseram que a defesa intransigente do Brexit feita por Johnson foi o grande diferencial. Desta vez, o sucesso da campanha de vacinação, que supera em muito o da UE, ajudou o primeiro-ministro. Segundo o site Our World in Data, 24,4% da população britânica já foi vacinada – bem mais que os 3,8% do bloco europeu.

A perda de Hartlepool representou um grande golpe para o Partido Trabalhista e para o seu líder, Keir Starmer. Ontem, logo após o resultado, ele começou a ser atacado pela ala mais radical do trabalhismo. O partido tinha grandes esperanças de que Starmer ajudaria a recuperar o espaço perdido para os conservadores no norte da Inglaterra.

Há pouco mais de um ano, Starmer assumiu o comando do partido em substituição a Jeremy Corbyn, que liderou os trabalhistas na eleição de 2019, quando conseguiu a proeza de obter o pior desempenho da esquerda desde 1935 – mesmo diante de um processo caótico de negociação do Brexit, que abalou a imagem dos conservadores.

Ontem, Starmer assumiu a responsabilidade pela derrota. “Muitas vezes falamos para nós mesmos, em vez de falarmos para o país, e perdemos a confiança dos trabalhadores, especialmente em lugares como Hartlepool”, afirmou o líder trabalhista. “Pretendo fazer o que for necessário para consertar isso.”

As boas notícias para Partido Trabalhista se resumiram à reeleição de Sadiq Khan, como prefeito de Londres, e Andy Burnham, reconduzido à prefeitura de Manchester. Os trabalhistas também elegeram Joanne Anderson foi eleita prefeita de Liverpool, a primeira mulher negra a comandar uma grande cidade do Reino Unido. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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