Gostamos de ler editoriais.
São eles que apresentam o posicionamento de um veículo de comunicação sobre determinado tema.
Um texto comum em jornais, revistas e sites de notícias. É nele que se encontram o ponto de vista, os argumentos que o sustentem, baseados em fatos, dados, opiniões de especialistas ou outras fontes.
Talvez por isso um editorial nos chamou tanto a atenção. Com assinatura da editora-chefe, trazia o título Para ver a vida.
A leitura nos cativou narrando o fato de uma senhora de cabelos de cor lilás e vestido estampado de flores miúdas desejando sair para o seu compromisso e não encontrando as chaves da casa.
Onde as teria colocado? Sobre a mesa da cozinha, sobre algum armário? Onde as teria deixado?
A memória não lhe dava nenhuma dica. E seus olhos de noventa anos não colaboravam muito, principalmente depois de um descolamento de retina, que lhe foi roubando a visão aos poucos.
Aquela avó já havia perdido muitas coisas em sua vida. Quando lemos essa frase, em especial, ficamos a imaginar o quanto perdera em vigor físico, em agilidade. Pensamos nos tantos amigos que haviam partido antes dela…
Afinal, quem se demora mais por aqui vai somando maior número de despedidas do que de chegadas.
São amores que se vão, colegas da faculdade, professores primorosos, o primeiro namorado, com quem nem chegou a se casar, ficando uma carinhosa amizade, lembrando as doçuras da adolescência.
Mas, a senhorinha não se deu por vencida, naquele dia. O tempo corria, ela estava atrasada, não podia perder mais tempo em buscas e mais buscas.
Então, teve uma ideia ousada. Chamou a vizinha, não muito mais jovem que ela mesma, armou uma escada, subiu os degraus e pulou o muro que dividia as duas casas.
Saiu pelo portão da amiga.
Algo inimaginável para aquele corpo frágil pelo tempo.
Enquanto prosseguia na leitura, que descrevia as tantas prendas daquela avó que não estudara muito, mas mantivera a curiosidade acesa ao longo da vida, lembramos de uma amiga.
Há pouco tempo, encontramos o filho dela e, quando lhe perguntamos como estava a mãe, entre sorrisos, comentou: Está ótima em seus oitenta e quatro anos.
Totalmente independente, se mantém ativa. Voluntária em instituição benemérita, criou mais uma atividade, envolvendo mães carentes, recentemente.
Alguém pensaria em criar algo novo numa instituição, com uma idade dessas? E lá está ela, feliz, cheia de planos e colocando em prática todos os possíveis.
Quando os filhos a desejam visitar, precisam telefonar com antecedência, porque difícil será encontrá-la em casa.
Com seu carro, vai às compras, ao shopping, marca um chá com as amigas, está no grupo de estudos da doutrina que ama, na atividade de voluntariado ou em cordial visita a alguém enfermo.
Lembrando as peripécias de dinamismo dessa amiga, fomos chegando ao final do editorial que frisa a grande lição: Viver. Persistir.
Porque afinal a vida é o que a gente se permite nesse espaço-tempo em que os nossos olhos permanecem abertos. E vivos.
Que a gente possa ver e, mais do que isso, desfrutar do existir.
Redação do Momento Espírita
Comentários estão fechados.