Você ama incondicionalmente seus filhos?

DIRCEU RUARO

Em consequência do texto sobre o “O outro no nosso dia -a- dia”, acabei conversando com diversas pessoas e, dentre elas, com uma colega professora/psicóloga que atende jovens com dificuldades de relacionamentos e aprendizagem.

Nossa conversa enveredou, certamente, sobre as dificuldades que os crianças, adolescentes e jovens enfrentam nos seus relacionamentos diários e, inevitavelmente, falamos sobre os relacionamentos mais próximos que são os relacionamentos familiares.

E, sem sombra de dúvidas observamos que, os maiores problemas e dificuldades, encontram-se no primeiro e mais profundo relacionamento, que é o dos pais com os filhos.

A época atual é propícia para muitas dificuldades. Não que ela seja uma época de rompimento de relações parentais, mas é, sem dúvida alguma, uma das mais complexas que estamos enfrentando, devido ao afloramento de uma série de questões que, por muitos anos, permaneceram adormecidas no seio das famílias e que, hoje, os filhos e os pais, enfrentam sem meias palavras e, sem muita preparação.

E, na nossa discussão, chegamos a uma primeira conclusão: a família ainda é o maior centro de acolhimento de um ser humano. É na família que nasce o amor chamado de “amor incondicional”. Amor incondicional como a expressão do mais puro e sincero amor.

Amor incondicional que não admite a expressão ou a ideia de que “eu te amo apesar de…” O amor incondicional não aceita o “apesar de”. O amor incondicional ama pura e simplesmente.

E esse amor incondicional é, no nosso entendimento e, no entendimento da grande maioria dos especialistas da área, um amor reservado, geralmente aos filhos.

É um amor que não precisa de nada para acontecer. É um amor inato. Nasce junto com o filho. Ou seja, quando o filho nasce, com ele nasce o amor paterno/materno. Já vem junto, num pacote só.

Essa é a crença.

Mas, a realidade não é bem assim.

Não em todos os casos. E, é essa nossa segunda conclusão.

Há casos, infelizmente, em que, há condições para que os pais amem os filhos. Que o digam os relatos dos atendimentos de alunos em instituições de ensino dos diversos graus que oferecem esse serviço.

Quantos e quantos adolescentes e jovens dizendo que pai e mãe amam com restrições. Relatando que os pais amam “apesar de”.

E, quantos deles, com problemas imensos de relacionamentos intrapessoais, de aceitação de como são no seu interior e com medos imensos de serem aceitos pelos amigos, companheiros de escola e de trabalho, porque quem os amou primeiro, os amou “apesar de”.

Certamente que é a família, especialmente o pai e a mãe, depois os irmãos e outros membros, que são a referência de amor e segurança para o ser humano. Se não há essa referência, se não há essa segurança, como a criança, adolescente ou jovem vai construir sua referência, seu porto seguro?

“Se os pais colocam condições para amar, o que será que as outras pessoas pensam a respeito de mim, do meu jeito de ser e de pensar”? Isso, martela a mente de crianças, adolescentes e jovens que têm alguma forma de ser ou pensar diferente da maioria.

Logicamente que não estamos falando de cuidados que os pais devem ter na educação das crianças, cuidados básicos como higiene, comida, estudos… estamos falando de questões mais profundas, de questões comportamentais, que exigem sim, compreensão, orientação, carinho, aceitação.

Será que você, pai/mãe que está lendo este texto pode responder que seu amor é incondicional? Que seu amor é pleno, completo, absoluto, que não impõe condições ou limites para seu (s) filho (s)?

Será que seu amor por seus filhos é um amor que não espera nada em troca? Será que o amor por seus filhos vem em primeiro lugar em termos de generosidade, altruísmo?

Será que seu amor paternal é um amor sem pré-requisitos?

Amar incondicionalmente um filho não é deixar que ele faça o que quiser, que diga o que quiser, onde quiser e como quiser, não é isso, os filhos precisam ser criados com firmeza e ternura, com regras e normas, com limites, com direitos e deveres, mas com respeito ao ser humano que são, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

Dirceu Antonio Ruaro, Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional Pró-Reitor Acadêmico Unimater

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