O Estadão comparou os resultados dos clubes no período imediatamente anterior à retomada, das rodadas 11 à 22, com o período que se seguiu, das rodadas 23 à 34. A intenção foi analisar o impacto do retorno do público após as medidas para conter o avanço da pandemia no País.
Os 14 clubes que aproveitaram melhor a força da torcida foram: Atlético-MG, Corinthians, Red Bull Bragantino, Internacional, Fluminense, América-MG, Ceará, Santos, Cuiabá, Atlético-GO, Juventude, Bahia, Sport e Chapecoense. Os times que fizeram campanhas piores diante da torcida foram: Palmeiras, Flamengo, Fortaleza, Athletico-PR, São Paulo e Grêmio.
Só atleticanos e corintianos venceram todas as partidas como mandantes. O que existe em comum entre os dois é a presença maciça do público, em torno de 40 mil pessoas. “Os times que jogam com casa cheia estão conseguindo grandes resultados”, avalia Cristiano Dresch, vice-presidente do Cuiabá, estreante na Série A e que perdeu apenas uma das sete partidas depois que a torcida voltou à Arena Pantanal.
Virtual campeão brasileiro, o Atlético Mineiro venceu com e sem torcida, antes e depois. Embalado por quase 60 mil pessoas diante do Fluminense, o Atlético conseguiu a 15ª vitória seguida em casa. O time perdeu para o Fortaleza na estreia, empatou com a Chapecoense na sequência e depois só venceu.
O Corinthians mudou de patamar com a volta da Fiel. Após começar o torneio flertando com a zona de rebaixamento, o time só venceu desde a volta dos torcedores à Neo Química Arena e agora está no G-4. São sete vitórias em sete partidas, sequência que resgata a expressão “caiu em Itaquera, já era”. A diferença em relação à campanha como visitante é assustadora. Dos oito jogos, a equipe perdeu cinco e empatou três. “Pegamos o Corinthians com o estádio lotado. Eles fizeram o gol aos 42 do segundo tempo. Se estivesse vazio, talvez eles não tivessem o mesmo ânimo”, conta Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.
É essa energia que motiva o Juventude na luta contra o rebaixamento. O time do Rio Grande do Sul ainda não perdeu desde o retorno do público, diante do Ceará. Antes dos jogos, o público faz o chamado “corredor jaconero” para recepcionar o ônibus. “A presença da torcida não foi importante só durante os 90 minutos. Já são quatro jogos em casa e estamos invictos desde o retorno do público”, relata Walter Dal Zotto, presidente do Juventude.
Marcelo Paz lembra que o retorno da torcida foi gradativo. O estádio não ficou cheio de um jogo para o outro. Em casa, o Fortaleza alternou triunfos sobre Palmeiras e Atlético Goianiense, por exemplo, mas perdeu para Flamengo e Ceará. “Como ainda temos restrições de acesso por conta da vacinação, nós ainda não conseguimos ter o mesmo público de antes da pandemia. O crescimento tem impacto positivo no rendimento da equipe”. Essa é a mesma opinião de Alessandro Barcellos, presidente do Internacional. “Com a torcida no estádio, o desempenho do time tende a melhorar. Ela é um diferencial no Beira-Rio”.
Embora tenha influência direta no fator psicológico, como explica o professor Marcelo Paciello, pesquisador sobre o comportamento do consumidor esportivo, o torcedor na arena não é certeza de vitória. Também influenciam a formação da equipe, desgaste físico, lesões e a qualidade do adversário.
Outro fator importante é a disputa de outras competições. Antes de ser tricampeão da Libertadores, por exemplo, o Palmeiras usou o time reserva no clássico com o São Paulo e acabou perdendo por 2 a 0. O Athletico Paranaense, campeão da Copa Sul-Americana, sofre risco de rebaixamento por causa de um elenco enxuto. O time teve dificuldades para se dividir em duas competições.
Alguns clubes não conseguiram melhorar sua posição com o estádio cheio. Foi o caso do São Paulo, que faz uma das suas piores campanhas de sua história nos pontos corridos. Nas últimas rodadas, o time de Rogério Ceni empatou com o Athletico-PR e perdeu para o Flamengo diante de quase 40 mil pessoas. O time só se recuperou contra o Sport, novamente com estádio cheio.
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