Uma equipe de 37 voluntários de cinco cidades da região, patrocinada pela empresa de indústria de compensados Guaraetá, sediada em Clevelândia, coordenada por Luiz Paulo Daltoé e Malu Daltoé, organizou uma ação solidária para ajudar a cidade de Muçum, devastada por enchentes recentes no Rio Grande do Sul. A viagem foi organizada por Henrique Minikowski, engenheiro agrônomo de Pato Branco, que liderou a iniciativa, buscando patrocínios e mobilizando a comunidade local para arrecadar recursos. A ação envolveu voluntários de Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Marmeleiro, Pato Branco e Clevelândia.
A equipe começou divulgando a campanha entre amigos e conhecidos para obter apoio e ajuda. Com o apoio dos empresários da Guaraetá, conseguiram um ônibus para o transporte e, com recursos próprios, compraram ferramentas, alimentos, roupas e outros itens essenciais. Após contato com a prefeitura de Muçum, identificaram as necessidades mais urgentes da população local.
A viagem
O engenheiro agrônomo, Daniel Ferreira, que integrou o grupo, conta que o acesso a Muçum foi particularmente desafiador. A equipe saiu de Pato Branco às sete horas da noite do sexta-feira, 17, e chegou em Vespasiano Corrêa às nove horas da manhã do dia seguinte, pois essa era a única cidade com acesso a Muçum por uma estrada vicinal, devido à destruição da ponte principal. A prefeitura de Muçum forneceu dois micro-ônibus escolares para transportar os voluntários até a cidade.
Chegando a Muçum, as doações foram concentradas em um ponto central, de onde voluntários locais faziam a distribuição para as famílias necessitadas. As doações, que incluíam medicamentos, roupas, alimentos e água potável, foram arrecadadas com a ajuda dos cinco municípios participantes. Além das doações, alguns voluntários estavam encarregados de preparar marmitas para outros voluntários que ajudavam nos trabalhos de limpeza.
A realidade impactante
Ele destaca que Muçum foi severamente atingida pelas enchentes, com metade da cidade destruída. Apenas uma pequena parte mais alta da cidade permaneceu intacta. “Tanto que a Polícia Ambiental e as equipes de resgate já alertavam que moradores das áreas centrais mais afetadas deveriam procurar abrigo em locais mais altos, pois com a previsão de novas enchentes, aqueles locais eram extremamente instáveis”, disse.
Conforme Daniel, o rio, que se alargou em cerca de vinte metros e em alguns pontos chegou a ter o curso alterado, deixou o centro da cidade submerso, com lama a aproximadamente três a quatro metros de altura. A ferrovia do trigo, importante acesso da região, foi uma das poucas estruturas visíveis durante o pico da enchente, com a água chegando ao limite da ponte, que tem cerca de vinte metros de altura.
Em uma loja que a equipe trabalhou fazendo a limpeza, Daniel descreve que havia lama no segundo piso a três metros de altura, sempre com um forte odor. Comentários de moradores alertavam que corpos do cemitério estavam boiando junto com animais mortos, tornando o ambiente insuportável. Daniel também destacou o risco de doenças devido à presença de muita matéria orgânica matéria orgânica e animais mortos. “Em uma granja próxima, por exemplo, haviam morrido cerca de 52 mil frangos e vários porcos”, ressalta, dando a dimensão dos problemas que afetam a região, mesmo após as chuvas.
Moradores resistem a deixar suas casas
O cenário ainda é desolador. Mesmo após a enchente, a situação em Muçum permanece crítica. A força da água foi tão intensa que destruiu totalmente casas de alvenaria. Muitos moradores, especialmente idosos, continuam a enfrentar desafios significativos, resistindo em deixar suas casas apesar das condições adversas e dos riscos à saúde.
Um outro grupo concentrou esforços na casa de uma moradora, já na parte da cidade onde as águas haviam recuado, porém ainda muito suja. “Ali os voluntários fizeram uma limpeza de todo o ambiente. Estes moradores, entretanto, apegados às suas perdas, resistiam à ajuda, preferindo ficar em meio à tragédia. A moradora, que vive com a irmã, nos falou sobre a dificuldade de sair da cidade sem ter para onde ir ou familiares para acolhê-la”, conta Daniel.
O trabalho dos voluntários durou até às dezoito horas da tarde de sábado. Depois, voltaram para Vespasiano Corrêa, onde a paróquia local ofereceu o ginásio para que pudessem descansar. A equipe tinha planos de retornar a Muçum naquele domingo, 18, mas um incidente com um caminhão atolado na estrada vicinal, que ainda estava em obras, impossibilitou o retorno. Além disso, muitos voluntários têm se deslocado ao Rio Grande do Sul durante o final de semana em suas folgas, e precisavam retornar a seus compromissos na segunda-feira, o que tornou inviável prolongar a estadia.
O grupo tem planos de retornar, mas em outras cidades atingidas. “Nós pretendemos retornar, entretanto, agora vamos buscar ajudar cidades mais próximas que ainda estão alagadas e não tiveram a água baixada completamente,” concluiu Daniel.
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