Como sacerdote, tenho a oportunidade de orientar pais no processo de formar seus filhos, tenho contato com muitas histórias e participo dos seus dilemas cotidianos. O que mais encontro, em todos os campos de atuação, é a dificuldade dos pais de conseguir que seus filhos lhes obedeçam. Resistem, reclamam, esperneiam, respondem, se recusam, colocam condições e, surpreendentemente, muitas vezes, acabam determinando o que vai acontecer.
Mas, se os pais aprenderam a obedecer quando pequenos, como não sabem exercer a autoridade? Perderam a memória? O que aconteceu nesse processo?
Trago aqui algumas reflexões para que se examinem e tentem identificar qual pode estar sendo a causa dessa dificuldade. Insisto em alertá-los sobre a importância da autoridade dos pais na formação dos filhos porque vejo muitas crianças sofrendo com ansiedade, hiperatividade, agressividade, irritabilidade e tenho certeza de que muitos desses casos são frutos da insegurança gerada pela falta de uma orientação firme, que conduz o pequeno em sua incapacidade de autogerir a própria vida. Vamos então a elas:
1. Tendo aprendido a obedecer devido a um comportamento autoritário dos pais, não chegaram à virtude da obediência e sim somente a uma obediência mecânica, sem sentido. Assim que se viram na posição de pais, romperam com esse autoritarismo infrutífero; no entanto, não souberam o que colocar no lugar e cederam ao permissivismo. Imaginaram que explicando alcançariam resultados, afinal, nada como entender o sentido para obedecer, não é? Claro que não! Crianças na primeira infância não aprendem com explicações racionais, mas, sim, com atitudes amorosas e coerentes. Primeiro, precisam ser protegidas de seus impulsos e, depois, no momento certo, compreenderão.
2. Essa geração de pais modernos foi, com o tempo, sendo minada pelas ideologias difundidas nos filmes e séries a que assistiam. Os heróis eram jovens imaturos ou mesmo crianças impulsivas e desobedientes. Assim, qualquer figura que se opusesse à vontade dos pequenos heróis era transformada em “vilões”. Consequentemente, essas figuras de autoridade foram sendo desvalorizadas – há um “saber” na imaturidade que se impõe e mexe no imaginário das pessoas.
3. Há um medo enorme de não serem amados e aceitos imediatamente pelos filhos. Como conviver com uma criança que não acha você legal ou amigo? Ser um pai chato, que exige em vez de convencer, tornou-se uma ideia insuportável. É preciso agradar aos filhos.
4. Propagou-se a ideia de que obediência vai gerar uma pessoa submissa, que não sabe impor suas ideias. É preciso educar os filhos para que questionem. No entanto, sem perder de vista o processo – para que a pessoa seja capaz de questionamentos sólidos precisa ter critérios bem formados e isso requer um processo formativo intenso e progressivo.
Pais, entendam: crianças precisam de limites claros, que transmitam valores, que gerem bons hábitos e que as distanciem do impulso de satisfazer desejos e prazeres. Pessoas são capazes de muito mais do que isso quando bem orientadas e formadas. Um não bem enunciado, coerente, firme e ancorado em um valor sólido, oferece ao pequeno uma sensação de segurança impagável. Mesmo que ele resista e se manifeste com braveza, no fundo de seu coração se sentirá cuidado, amado. Estejam certos disso. Essa experiência de ser cuidado aplaca a angústia, diminui a ansiedade e desperta a obediência.
Não tenham medo de educar. Compreendam vocês, adultos, quais são as capacidades e necessidades de seus pequenos e ajam de acordo com elas. Não temam desagradar-lhes, não temam descontentá-los – faz parte do processo. Um dia, eles lhes agradecerão pela formação que receberam.
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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