Saudade! Quem não sente, quem não sentiu e quem ainda não sentirá um dia? Ela é insistente, persistente, renitente, reincidente, surpreendente, presente – não passa! Ela tem um poder raro: de tornar presente e próximo o que está distante e ausente. Ao mesmo tempo, quando torna algo presente, paradoxalmente ela nos faz perceber que este algo verdadeiramente está ausente!
Saudade adora uma distância! E não tem dia, hora, lugar, espaço, tempo! É um dos poucos sentimentos que nos envolve já nos primeiros minutos após o acordar! Por isso, costumo dizer que os amigos são como as melodias que aprendemos. Apesar de estarem longe dos olhos, seus acordes vibram dentro de nós. Há saudade boa, delicada, inconsequente, duvidosa, misteriosa – algumas chegam até a escravizar!
Temos saudades para tudo e para todos os gostos: de pessoas, lugares, coisas, objetos, situações, eventos, momentos, ocasiões, acontecimentos, fatos, datas, celebrações. Quando a gente pensa que desapareceu, ela surge quase fulminante, flamante, avassaladora, fortalecida, renovada, vulcânica, dúbia, teimosa, quase absoluta. Uma pessoa tomada por grande saudade é capaz de tudo: viajar repentinamente, mudar de cidade, alterar um plano, desmarcar um compromisso, inaugurar uma aventura, correr riscos, viver instantes de total inconsequência.
Ela, por vezes, deprime, oprime, agride, debilita, inquieta, paralisa – faz sofrer e sucumbir! Também produz alegria, espera, busca, planos, desejo, ânimo – faz sonhar, querer e sorrir! Reacende uma paixão, mantém um amor distante, conserva uma relação quase impossível! Perguntaram certa vez qual a melhor definição de saudade. Meu Deus, saudade não se define, apenas a gente sente, e muitas vezes sem nem perceber! Quando intensa, provoca vazio e solidão: “quando você foi embora, fez-se noite em meu viver” (Travessia, Milton Nascimento). Veja do que a saudade é capaz: tornar uma vida noite sem fim! Existe um lugar onde tudo é possível. Este lugar chama-se coração. E é neste lugar que guardamos as pessoas especiais, que nem sempre as vemos, mas nunca as esquecemos. Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.
Também na Bíblia a saudade está muito presente. Maria tinha saudade de Jesus – de vez em quando ia procurá-lo (Mt 12,46-47).
Maria Madalena, sentindo saudade, foi procurá-lo no coração da noite (Jo 20,1-18).
Marta e Maria lamentaram sua ausência quando o irmão Lázaro morreu (Jo 11,21).
Os discípulos ficaram com muita saudade de Jesus após sua morte redentora (At 1,11s).
Certamente você tem algumas ou, quem sabe, muitas saudades em seu caminhar! Boas ou delicadas, necessárias ou exigentes, faça suas travessias pelas estradas da vida, sabendo que Alguém tem muita saudade de você – Deus! Ande mais com Ele, e assim diminuirá em muito as outras saudades! O encontro é a melhor forma de matar saudade! E o melhor caminho que nos leva ao encontro com Deus, é justamente a oração! A oração é para nossa alma como o ar para o nosso corpo.
Reze sempre e nunca terá saudade de Deus, nem Deus de você! Pois a oração é a asa veloz que Deus deu à alma para que ela voe até o céu.
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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